sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O BRASIL EM 2011


2011, o ano-década

Por Nizan Guanaes

Este foi o ano depois do ano em que o PIB cresceu 7,5%. Foi, não, é. Porque, apesar de toda a água que já passou debaixo da ponte, o ano ainda não acabou. Aquela sensação comum, já novembro, de que o ano passou rápido demais, veio neste ano acompanhada de uma sensação oposta, a de que o ano demora a acabar, cada dia cheio de acontecimentos, cada semana valendo um mês, cada mês, um ano: este ano valeu por uma década.

É um cansaço satisfeito, guerreiro, de correr atrás dos sonhos que antes eram sonhos e agora são sonhos possíveis, próximos.

Avançamos sob o impacto de dois aceleradores: o econômico, já que crescemos de forma robusta e sustentável, e o da tecnologia. Nossos negócios prosperam impulsionados por um salto tecnológico que transformou tudo em comunicação instantânea. E comunicação é tudo.

Fechamos vendas, contratos e projetos com rapidez cada vez maior. Temos capital, temos mercado, temos confiança e temos a facilidade bestial de comunicação, que, no fundo, é a maior das revoluções, a marca do nosso tempo.

Nosso fio condutor está plugado nas duas pontas em tomadas poderosas: a do mercado interno, finalmente do tamanho do Brasil, e a do mercado externo, que, mesmo em crise, segue investindo cada vez mais recursos em nossa economia.

A dinâmica local e a dinâmica global nos favorecem.

O Brasil virou referência de desenvolvimento num mundo rico em crise que olha para a China e tem medo, que olha para a Índia e não entende, mas que olha para o Brasil e sorri. Somos um gigante fácil de falar e de compreender.

O mundo redescobriu o Brasil, com um apetite tremendo, não só por nossos produtos manufaturados e commodities, mas também por nossa cultura, nossa inteligência particular, nossa brasilidade.

A revista ditadora de modas globais "Wallpaper" escolheu como "casa do ano" um projeto de Isay Weinfeld, que é do Brasil. A "cidade do ano" é o Rio de Janeiro. O Brasil já é um líder global. Agora, os líderes do Brasil nas suas respectivas áreas têm de ir além das nossas fronteiras porque o Brasil já foi. Há uma expectativa enorme do mundo em relação a nós. Há um interesse enorme, que precisa ser saciado.

Não podemos mais virar avestruz, enfiar a cabeça dentro da terra e ficar protegido na zona de conforto. A participação brasileira no Fórum Econômico Mundial em Davos, no começo do ano que vem, deve ser muito maior do que em edições anteriores.

Cansei de ir a fóruns internacionais e ver tropas de indianos, de chineses e de outros emergidos e emergentes fazendo seu show enquanto o Brasil, muito mais sexy, mal dava as caras.

Estamos acordando para oportunidades novas: turismo e cultura. São áreas nas quais o Brasil pode se firmar como potência. Para vender a indústria brasileira é preciso firmar a cultura, a arquitetura e o design do Brasil. São eles que darão cara ao "Made in Brazil".

Claro que o Brasil tem todos os problemas que conhecemos, como a carga tributária, os perigos da desindustrialização. Mas não podemos ficar só nessa pauta. Precisamos também entrar na pauta boa, da produtividade, da inovação, da construção de marca.

Não acredito que o Brasil possa competir no mundo com os produtos baratos. O Brasil vai conseguir competir com os produtos melhores. Não acredito que o biquíni brasileiro possa ser vendido por preço. Ele vai ser vendido por charme, por "appeal", por marketing.

É natural que a indústria lute por incentivos. Mas a pauta não pode se resumir a isso.

Vender uma cadeira brasileira não é fácil, mas se ela for dos irmãos Campana é muito mais fácil. Isso é ser global, é ter um pensamento global.

É uma mudança, grande, que vai dar trabalho e já está em curso.

Temos de transcender. A vida é uma pista de avião. Se um marciano olhar a pista, não vai entender: um negócio que liga nada a lugar nenhum. Ela só faz sentido se você voar.

O Brasil levantou voo e vai veloz. Este ano valeu por uma década, uma década vencida. E 2012 já vem aí. Feliz outra década para você!

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