sexta-feira, 23 de junho de 2023

MPB - ELIS & TOM, O ÁLBUM

 .
Sobre o documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser com Você


Por Carlos Alberto Mattos

É incrível que até o ano passado esse material extraordinário ainda estivesse inédito. Num estúdio de Los Angeles, em 1974, Jom Tob Azulay e o fotógrafo Fernando Duarte captaram a dinâmica trepidante entre Elis Regina e Tom Jobim enquanto gravavam o álbum magistral Elis & Tom.

Azulay tinha acabado de comprar uma câmera Frezzolini e um gravador de som Nagra IV, e dava os primeiros passos no cinema direto. Duarte e o produtor Roberto Oliveira acertaram a filmagem do encontro das duas estrelas. Azulay entrou com o equipamento, a direção, assistência de câmera e som. Por quase 50 anos os rolos ficaram guardados.

A relação entre Elis e Tom não era a princípio das melhores. Elis não gostava do Tom, embora o apreciasse artisticamente. Ele, por sua vez, achava o estilo dela exuberante demais para a sua música. A ideia de juntar os dois parecia uma coisa quase impossível.

Eram indícios disso o que as câmeras registravam habilmente, agregando comentários de Roberto Menescal, Hélio Delmiro e outros músicos, além do produtor e do engenheiro de som, o vaidoso Humberto Gatica.

O filme se estrutura basicamente em três partes: “antes”, que mostra a repercussão internacional de Tom e Elis, as gravações que eles já faziam na Europa e EUA: Tom com Sinatra, Ron Carter; Elis com Sacha Distel, Toots Thielemans. Wayne Shooter conta sobre o projeto de disco frustrado por causa de uma briga de Elis com seu namorado na época em que iam começar a gravar.

Em seguida, testemunhamos a gravação propriamente dita: a dupla em Los Angeles, a influência da cidade sobre o tom do filme e a dificuldade de Jobim em aceitar o fato do César Camargo Mariano (então marido de Elis) estar ali para fazer os arranjos. Um “novato” lhe tirava a oportunidade de influir mais ativamente nos arranjos. O clima ficou péssimo. Elis chegou a pensar em desistir, mas aos poucos os dois músicos foram se encontrando. O filme descreve esse arco da rejeição à compreensão, chegando mesmo a rolar uma espécie de namoro artístico entre Tom e Elis.

Por fim, vem o “depois”, principalmente para Elis. O encontro com Tom Jobim de alguma forma transformou o seu jeito de cantar, tornando-a mais calma, mais concisa e mais econômica. Na opinião de Menescal e outros, teria chegado à perfeição.

A par de todo esse processo de egos em conflito, o que temos ali é a qualidade inexcedível do material de 1974, que flagra momentos de intimidade, descontração e humor nos ensaios, nas brincadeiras deles cantando informalmente. Sem falar na excelência das canções, algo muito acima da Música Popular Brasileira de hoje.

O disco, afinal de contas, era da Elis. O Tom era o homenageado. O filme, de alguma maneira, também é mais sobre Elis, sua personalidade marcante e sua transição depois desse disco. É dela o rosto morto que vemos longamente no funeral, trecho que destoa um bocado da abordagem do filme. Mas Jom Tob Azulay e Roberto Oliveira nos deixaram, por fim, um resgate emocionante e que nos enche de orgulho.  -  (Blog Carmattos - Aqui).

Nenhum comentário: