terça-feira, 5 de julho de 2022

TEXTO DE WASHINGTON OLIVETTO SOBRE O RIO DE JANEIRO VIRALIZA PELA IDIOTICE COMPLETA


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Nesta segunda-feira (4), o artigo escrito por Washington Olivetto, com o título “O Rio de Janeiro continua lindo”, viralizou pela idiotice completa. O publicitário, que nasceu em São Paulo, fez um retrato da capital fluminense completamente desconectado da realidade.

Tratado como um dos melhores profissionais da sua área, Olivetto faz parte da elite brasileira. Na história narrada por ele, o leitor é levado a viver em um Rio espetacular. Não há crime, pessoas não passam fome, não há qualquer cidadão desempregado e todos possuem grandes possibilidades para aproveitar cada ponto turístico do município. Com grana.

“Ele [seu filho] e mais quatro amigos de escola — dois franceses, um australiano e um brasileiro — resolveram fazer uma viagem comemorando a aprovação dos cinco nas universidades que escolheram. Elegeram o Rio de Janeiro e me encarregaram da hospedagem e da programação, coisa que fiz com prazer e a ajuda de alguns amigos. Procurei desfazer, principalmente nos garotos estrangeiros, um pouco da péssima imagem que o Brasil vem construindo no exterior nos últimos anos”, diz trecho do texto de Washington.

A intenção do publicitário era fazer com que seu filho, os dois franceses, um australiano e o outro brasileiro esquecessem dos noticiários e enxergassem um Rio de Janeiro que apenas a elite está acostumada.

“Já na sexta-feira que chegaram ao Brasil, os meninos foram recebidos pela Lucia Gomyde, que foi babá do Theo, virou parte da família e hoje é quem cuida das nossas coisas no Rio de Janeiro. Feliz da vida com o sucesso escolar de seu pupilo, Lucia deu boas-vindas a todos com deliciosas empadinhas de camarão, que pedi pra ela encomendar no Caranguejo, de Copacabana”, diz outro trecho do texto.

Veja, Olivetto demonstra ser um homem de bom coração, já que transformou a babá do Theo, seu filho, em um dos “membros da família”. Só que, é importante ressaltar, Lucia Gomyde – pelo menos ela tem um sobrenome – recebeu a todos com “empadinhas de camarão”, algo que foi pedido pelo publicitário. Pedido ou ordenado?

Os amigos e Olivetto foram comer no restaurante Satyricon. Caso eles pediram uma Muqueca di crostacei e pesce, tiveram que pagar R$ 398,00. Ah, detalhe: o prato serve apenas duas pessoas. Ou seja, para os seis se alimentarem, precisam pagar R$ 1.194,00. Fora que eles beberam (vinho? Refrigerante? Apenas água?), além de experimentarem os pratos de entrada e a sobremesa.

Em uma semana, o grupo passou pelo Museu de Arte Moderna, o Museu da República e o Museu de Arte Contemporânea. Por feijoada de escola de samba. Caminharam por Ipanema, Leblon e Arpoador. Passaram pelo Cristo Redentor e o bondinho do Pão de Açúcar.

Enfim, quantos cariocas conseguem passar por esses locais? Não a Lucia Gomyde, certamente, que assiste tudo isso da favela. Ela é da família, mas não está no testamento do patrão. (...)."




(De Naian Lopes, texto sob o título acima, publicado no DCM Diário do Centro do Mundo - Aqui -, a propósito do artigo "O Rio de Janeiro continua lindo", de Washington Olivetto. O post é concluído com os seguintes termos: "Ei-la [Lucia Gomyde, 'secretária'] no vídeo abaixo com Olivetto e Lulu Santos no belo apartamento com vista pro mar [o vídeo está lá: é do Twitter de Gregório Duvivier]. Alô, alô dona Lúcia, aquele abraço. / Claro que o texto do Olivetto foi criticado nas redes sociais."

Parafraseando Fernando Sabino, "Deixa o Olivetto falar!". Só faltou ao publicitário dizer que, ao redigir a crônica, estaria sob os eflúvios da Bossa Nova - afinal, como sempre ressaltavam seus geniais integrantes, à frente Roberto Menescal, o propósito era mesmo o de ressaltar o amor, a flor, o mar, mandando às favas a miséria e a repressão. Mas não: Washington esmerou-se em exercitar o espírito da elite nacional, atolada em seu mundo esfuziante). 

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