sexta-feira, 18 de setembro de 2020

ASSANGE: POSTS ACOPLADOS

"Uma imprensa livre pode, é claro, ser boa ou ruim, mas sem liberdade a imprensa sempre será ruim."  (Albert Camus).    

- I -

Não é apenas Assange. Todos os jornalistas são passiveis de processo sob a lei de espionagem dos EUA, dizem acusadores

"...os jornalistas da mídia comercial que publicaram o material distribuído pelo WikiLeaks e seu publisher e editor Julian Assange podem vir a ser processados no futuro."


No
Blog do Mello

O ex-diplomata britânico, humanista e ativista político Craig Murray é um dos poucos com acesso ao julgamento de Assange e tem escrito sobre seu dia-a-dia em seu site.

No resumo de hoje (quarta), sobre a sessão de ontem, Murray afirma que a acusação dos EUA tirou finalmente a máscara e passou a admitir que não apenas Assange, mas qualquer jornalista que publique arquivo confidencial dos EUA está sujeito a ter um julgamento como o de Assange.

Portanto, os jornalistas da mídia comercial, que publicaram o material distribuído pelo WikiLeaks e seu publisher e editor Julian Assange, podem vir a ser processados no futuro.

Lembrem-se do texto de  Niemöller: "Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte..."etc. Agora é Assange, amanhã pode ser você.
O governo dos Estados Unidos agora está dizendo, de forma totalmente explícita, no tribunal, que aqueles repórteres [de uma publicação do NYT que não foram punidos em ação semelhante] poderiam e deveriam ter ido para a cadeia e é assim que agiremos no futuro. O Washington Post, o New York Times e todos os “grandes meios de comunicação liberais” dos EUA não estão no tribunal para ouvi-lo e não vão denunciar isso, por causa de sua cumplicidade ativa contra o “outro”, Julian Assange, como algo sub-humano cujo destino pode ser ignorado. Eles são realmente tão estúpidos a ponto de não entender que são os próximos?
Err, sim - o próprio Murray responde.
Essa nova linha da acusação representou um afastamento radical da abordagem anterior, que era afirmar que Julian Assange não é um jornalista e tentar distinguir seu comportamento do dos jornais. Especialistas em jornalismo testemunharam que o relacionamento de Assange com Manning [que vazou os documentos para Assange] não era materialmente diferente do relacionamento de outros jornalistas com fontes com dados oficiais para vazar.
O objetivo da abordagem anterior era claramente reduzir o apoio da mídia a Assange, diferenciando-o de outros jornalistas. Tornou-se óbvio que tal abordagem corria um risco real de fracasso, se pudesse ser provado que Assange é jornalista, linha que estava indo bem para a defesa. Portanto, agora temos “qualquer jornalista pode ser processado por publicar informações classificadas”, conforme a linha do governo dos EUA. Eu suspeito fortemente que eles decidiram que não precisam mitigar a reação da mídia, já que a mídia não está prestando atenção a esta audiência de qualquer maneira.
Essa última frase é típica do fino humor britânico.

Leia a narrativa completa, que é minuciosa, lá no site de Murray, clicando aqui.

(Fonte: Blog do Mello - Aqui).
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- II -
Advogado diz que lei dos EUA usada para acusar Assange  é "ampla" e duvidosa
Testemunha de Assange, Carey Shenkman ressaltou que nunca um presidente usou tanto a Lei de Espionagem quanto Trump


O advogado Carey Shenkman, especialista em direito constitucional americano e na defesa dos Direitos Humanos , afirmou nesta quinta-feira (17) que a lei usada pelos Estados Unidos para acusar de espionagem o fundador do Wikileaks, Julian Assange, é “extraordinariamente ampla” e “contenciosa [duvidosa]”.

Shenkman prestou depoimento por escrito como testemunha de Assange, durante o julgamento sobre a extradição do jornalista australiano, em Londres. As audiências devem seguir até o começo de outubro.

Assange é acusado pelo governo estadunidense por 17 crimes de espionagem e um por uso indevido de computador. A defesa do ativista alega que, por ser jornalista, ele tem direito às proteções da Primeira Emenda por publicar documentos que expuseram irregularidades militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Shenkman também ressaltou que a gestão do presidente Donald Trump perseguiu "a divulgação de informações de segurança nacional de forma mais agressiva do que qualquer presidência na história dos EUA". Ele relembrou que, durante os dois mandatos de Barack Obama, houve oito processos contra fontes da mídia de com base na Lei de Espionagem. Na presidência de Trump, já são as mesmas oito, em menos de quatro anos.

Ao advogado afirmou que nunca houve um processo bem-sucedido contra um editor sob a lei, embora tenha havido tentativas, inclusive sobre o vazamento de documentos sobre a Guerra do Vietnã pelos "Documentos do Pentágono", em 1971 - Daniel Ellsberg enfrentou 12 acusações da Lei de Espionagem e poderia pegar até 115 anos de prisão, mas as acusações foram rejeitadas em 1973, por causa de má conduta do governo contra ele.

Outra testemunha de defesa, John Sloboda, co-fundador da organização Iraq Body Count, disse que o WikiLeaks teve o cuidado de garantir que os nomes fossem removidos antes da publicação, o que não colocaria em risco a vida dessas pessoas. Ele discordou da sugestão de um advogado de acusação de que Assange teria uma "atitude arrogante" em relação à redação.

Sloboda, que esteve envolvido na publicação dos documentos da guerra do Iraque em 2010, disse que eles "foram redigidos em excesso por cautela". Ele disse que seu grupo desenvolveu um software para ajudar a acelerar o processo, removendo todas as palavras que não estavam em um dicionário de inglês, embora ele reconhecesse que não era perfeito.  -  (Brasil de Fato - Aqui).

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