segunda-feira, 25 de março de 2013

OS IMPUNES SÓCIOS DA TORTURA:

Ilustração de Guayasamin.

Os coniventes

Por Luis Fernando Veríssimo


O ex-deputado estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um ex-ativista politico, pois recentemente voltou à militância partidária no PDT, apesar de limitado pela saúde. Quando militava na resistência à ditadura foi preso, junto com a Dilma, e os dois foram torturados.

Depondo diante da Comissão Nacional da Verdade (...) sobre sua experiência, Araújo lembrou a participação de empresários na repressão, muitas vezes assistindo à ou incentivando a tortura.

Que eu saiba, foi a primeira vez que um depoente tocou no assunto nebuloso da cumplicidade do empresariado, através da famigerada Operação Bandeirantes, em São Paulo, ou da iniciativa individual, no terrorismo de estado.

O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se seguiu à queda do Collor e à revelação do esquema montado pelo P. C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas.

A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do esquema.

Nunca se fez a CPI não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão, talvez se chegue à punição, ou no mínimo à identificação, de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.

A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os dois maiores países da America do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá o terrorismo de estado foi mais terrível do que aqui e sua expiação — com a condenação dos generais da repressão — está sendo mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles. (Fonte: aqui).

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Em lugar de "Os coniventes", certamente o título "Os incentivadores" também seria adequado. Que o diga o Cidadão Boilesen (Henning Albert Boilesen), empresário dinamarquês radicado no Brasil (São Paulo), entusiasta da tortura nos anos de chumbo, o que, aliás, rendeu documentário - comentado aqui neste blog.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dodó
Eu entrei lá no blog em que você linkou e lá ele também não diz onde LFV publicou este texto. Uma pena, porque acho da maior importancia.A grande midia será que publicaria um texto assim tão direto? Não me parece. Ou será que foi publicado diretamente na internet. O Blog Sujo bem que poderia elucidar esta questão.Se o texto for mesmo do LFV ele desta vez pegou pesado, periga perder seus empregos de cronistas nos grandes jornais. Se assim for, putz, ele é corajoso à beça.
ab
joão antonio

Dodó Macedo disse...

Veríssimo publicou no O Globo, amigo, e acho que também em outros jornais, como Zero Hora. O glob Contexto Livre reproduziu, e eu fiz o mesmo.
Grande abraço.