terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O TAL DE INGLÊS, WHY?


Idioma exerce uma espécie de imperialismo linguístico

Por Hélio Schwartsman

Há um quê de ideológico na resistência ao inglês. Os sinais são vários e vêm de diversas frentes. Em 1999, o combativo deputado Aldo Rebelo, do PC do B paulista, apresentou um projeto de lei que, em sua versão original, bania todos os estrangeirismos (leia-se, anglicismos) da língua portuguesa e ainda obrigava brasileiros, natos e naturalizados, e pessoas de quaisquer nacionalidades residentes no país há mais de um ano a utilizar-se do vernáculo, sob pena de multas.

Uma versão desidratada da proposta foi aprovada em duas comissões e ela agora repousa prudentemente nos escaninhos do Congresso. Mais êxito teve uma outra iniciativa legislativa que, irmanando ainda mais os povos da América Latina, ampliou o ensino do espanhol. É a lei nº 11.161/05, que obriga Escolas públicas e privadas de ensino médio a oferecer o idioma de Cervantes como disciplina optativa.

Se se tratasse apenas de proporcionar aos jovens a oportunidade de aprender direito o idioma de nossos vizinhos, a norma seria inatacável. O problema é que, numa interpretação sistemática com o restante da legislação educacional, ela coloca o espanhol à frente do inglês.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estipula, para o ciclo médio, o ensino, em caráter obrigatório, de uma língua estrangeira a ser definida pela comunidade Escolar. Prevê também a inclusão de um segundo idioma, em caráter optativo, "dentro das disponibilidades da instituição".

A pegadinha está no fato de que a 11.161 fala abertamente no espanhol e se cala em relação ao inglês. As Escolas sem grandes "disponibilidades", que devem ser a maioria, podem escolher a língua de Cervantes no lugar da de Shakespeare como o idioma moderno obrigatório, de modo a satisfazer as leis disponibilizando apenas uma língua estrangeira.

Ninguém é obrigado a gostar da primazia de que o inglês goza no mundo contemporâneo. Podemos ir até um pouco mais longe e reconhecer que esse idioma exerce uma espécie de imperialismo linguístico. Mas é preciso viver no mundo encantado de Che Guevara para não perceber que o inglês se tornou aquilo que o grego representava para o período helenístico e que o latim significava na Idade Média: o papel de língua veicular universal, na qual falantes dos mais variados idiomas conseguem se comunicar.

É em inglês que se fecham praticamente todos os grandes negócios internacionais, assim como é nessa língua que se registram os mais importantes avanços científicos. Não utilizá-la nesses campos equivale a arremessar-se para fora do mundo.

E os prejuízos de se afastar dos círculos de produção científica e não internacionalizar as universidades brasileiras superam em muito os de conviver com alguns "sales", "coffee breaks" e outros estrangeirismos de gosto duvidoso, dos quais a língua saberá livrar-se, se lhe dermos tempo suficiente.

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O articulista tem o direito de opinar. Democracia é isso. Tem o direito até de aludir a 'mundo encantado de Che Guevara'. O crítico, felizmente, não pode impedir que pessoas mundo afora sonhem o mundo como Guevara sonhou. You understand, mr. Hélio?

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