terça-feira, 4 de outubro de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: JÂNIO QUADROS E O MORALISMO


O moralismo de Jânio Quadros

Por André Araújo

O governador Adhemar de Barros foi o primeiro politico populista do Brasil moderno.
De família tradicional da elite cafeeira, com excelente educação, médico com residência médica na Alemanha, Adhemar criou o personagem folclórico amigo das massas: nas campanhas tomava pinga em boteco, andava em mangas de camisa (naquele tempo politico só andava de paletó e gravata), tinha tiradas anedóticas e engraçadas, era o prato feito dos humoristas; há centenas de boas piadas de e sobre Adhemar - mas ele criou também sólida fama de corrupto descarado.

Surge então seu contraponto, na figura do político moralista Jânio da Silva Quadros. Fez sucesso rápido sendo o anti-Adhemar, que lhe servia de adversário natural, a honestidade contra a ladroagem.

Foi de vereador a Governador em poucos anos e chegou a Presidente da República. A grife de Jânio era o moralismo, sério, rigoroso, o oposto de Adhemar. Mas como geralmente acontece com o moralista, Jânio era apenas uma representação de um personagem, ele mesmo não tinha muita moral em nenhum sentido. O moralismo era apenas uma arma de combate: Jânio adorava bebida, mulheres e dinheiro. Legou bom patrimônio à filha única, um saldo respeitável (consta que 13 milhões de dólares) em uma conta no Citibank de Genebra e para as netas mais de 60 imóveis. Jânio era um ator de alta categoria, conheci-o por várias conexões de onde me resultou uma diretoria da PRODAM, estatal da Prefeitura.

Já na etapa final de sua vida política, quando foi prefeito de São Paulo, admirava-o por duas qualidades excepcionais, sua atenção e cuidado com a administração e um extraordinário senso de autoridade que sabia exercer como poucos.

A atitude com a mídia era de total desprezo, não tinha qualquer problema com a crítica, da qual não tomava conhecimento.

Jânio foi um dos pioneiros do marketing político: do trajeto da Prefeitura à sua casa multava carros estacionados irregularmente, inspecionava calçadas e buracos no asfalto, tudo saia na mídia e para Jânio não custava nada.

Duas vezes por semana almoçava na casa de um correligionário ou liderança de periferia, depois do almoço pedia uma cama para uma sesta de meia hora curtindo o vinho do Porto que tomava no almoço. Tinha um extraordinário senso de imagem: quando seu pai, o médico Gabriel Quadros matou a tiros o marido de sua amante, Jânio não mexeu uma palha em favor do pai e ele era naquele momento Governador do Estado, o pai foi preso e condenado.

Seu conhecimento de português era espetacular, proferia longas frases onde não havia nenhum erro de concordância, sintaxe, gramática ou estilo.

O moralismo como sermão impera em algumas áreas e poderes onde santarrões batem no peito abominando a corrupção, uma técnica apenas para elevar seu preço. Por um desses caprichos da natureza os corruptos costumam ser mais simpáticos, prestativos, amigáveis e agradáveis do que os moralistas.

Qual a diferença entre um moralista e um apenas honesto? O moralista alardeia sua pureza, o honesto apenas o é, sem fazer disso propaganda. Por toda a vida política brasileira os moralistas causaram muito maior dano que toda a corrupção somada. Quanto custou ao País um Jânio Quadros? As crises de 61, 62, 63 e de 64 a 85, o preço é incalculável.

Hoje o moralismo cobra o preço de um país parado, centenas de obras bloqueadas por Tribunais de Contas em nome da anti-corrupção como pretexto, causando prejuízos infinitamente maiores que o desvio que se pretende combater. (Fonte: aqui).

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