segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A MORAL RELATIVA DA GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO


Exxon em Angola: a moral relativa da geopolítica do petróleo

Por André Araújo

A Exxon celebrou um grande acordo com a Sonangol, a estatal angolana do petróleo, para exploração das reservas em águas profundas do litoral angolano. Enquanto a Petrobras está sendo processada pelo Departamento de Justiça dos EUA por casos de corrupção no Brasil, o mesmo Departamento não vê nada demais no fato de a empresa americana, símbolo da era do petróleo, se associar a uma estatal que em termos de corrupção conhecida tem poucos competidores no mundo.

Onde está o "compliance" da Exxon? Com a Sonangol não tem problema em assinar contratos? O Departamento de Justiça não vê nada demais? Acho que não, a Sonangol nunca foi investigada ou processada nos EUA. A lógica das leis americanas é bem flexível, o interesse dos EUA em primeiro lugar. Que coisa!

A Presidente do Conselho da Sonangol, Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, há 37 anos no poder, está numa revista americana, a FORBES, como a mulher mais rica da África. De onde vem sua fortuna?

A imprensa econômica da Europa relata um desaparecimento de 32 a 50 bilhões de dólares dos cofres da Sonangol. (http://www.portugaldigital.com.br/economia/ver/20103540-presidente-da-so...). O caso não tem paralelo no planeta em termos de valor. Enquanto Angola se torna uma das potências médias do petróleo mundial, toda a sua produção é girada por petrolíferas americanas; a Petrobras tentou entrar em Angola e foi rechaçada.

Enquanto isso, as condições de vida da população são péssimas; falta saneamento básico em Luanda, no interior nem se fala, falta tudo, enquanto Ministros do MPLA são bilionários, um deles, bem conhecido, tem apartamento na Av. Vieira Souto, no Rio.

Uma companhia com esse currículo é bem vinda ao se associar à Exxon, enquanto em Washington uma pesada artilharia legal criminaliza a Petrobras. É verdade que com apoio que vem do Brasil, numa acusação ilógica, a Petrobras é vitima e não autora e os atos ocorreram fora da jurisdição da lei americana. Se aos americanos a corrupção faz arrepiar e eles se propõem a ter jurisdição mundial para combatê-la, como se explica que fechem os olhos para o que acontece em Angola?

Atrevo-me a uma explicação: todo o petróleo de Angola exportado, quase 2 milhões de barris/dia, mais que a Venezuela, vai para os EUA, um fornecedor importante e confiável. Então vamos deixar o moralismo para os brasileiros, antigo e tradicional aliado dos EUA,vamos processar e impor pesadas multas a nossos amigos, puni-los com apoio de brasileiros puros, prejudicando esse Pais que lutou ao nosso lado na Segunda Guerra e que fornece mais que qualquer outro tropas para nossas missões de paz pelo mundo.

Pode-se alegar que a Exxon Mobil é uma empresa privada que faz os contratos que quiser. Negativo. Todas as atividades de empresas petrolíferas dos EUA pelo mundo são monitorados pelo Departamento de Energia e nenhuma empresa assina contratos no exterior sem o visto do DE e do Departamento de Estado. http://corporate.exxonmobil.com/en/company/worldwide-operations/locations/angola

Enquanto isso os EUA viram parceiros de cama, mesa e banho de um regime outrora marxista-terrorista e guerrilheiro contra o qual lutaram através da UNITA financiada pela CIA. Outrora visceralmente anti-americano, apoiado pela URSS e aparelhado por 25.000 soldados cubanos, o Movimento Popular de Libertação de Angola  continua sendo o partido oficial que governa Angola. Hoje é íntimo parceiro e sócio dos EUA; que ironia da História. Dos tempos da aliança com a URSS ficou para José Eduardo dos Santos uma bonita lembrança, Isabel dos Santos,  sua filha e de sua primeira esposa russa,  atual Presidente do Conselho da SONANGOL.
A Guerra Fria produziu bons frutos hoje cotados em dólar. (Aqui).

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