quarta-feira, 19 de outubro de 2016

ECOS DA PRISÃO DE CUNHA


Prisão de Cunha ajuda mídia a destruir defesa de Lula

Por Cíntia Alves, no Jornal GGN

A prisão de Eduardo Cunha (PMDB), nesta quarta (18), com autorização de Sergio Moro, é um episódio feito sob medida para levantar a moral da Lava Jato, principalmente do núcleo em Curitiba, que sofreu um baque após o uso sofrível de uma apresentação em Power Point em que Lula aparece como o "comandante" da chamada “propinocracia” brasileira com base em convicções, não em “provas cabais”.
Na GloboNews, a ação contra Cunha foi classificada como a morte do principal argumento de defesa de Lula e PT: o de que a força-tarefa é seletiva e quer inabilitar o ex-presidente para a próxima disputa eleitoral. "O PT ficava dizendo que a Lava Jato fazia perseguição. Agora Cunha está preso. A Lava Jato quer mostrar que ninguém está acima da lei", disse a apresentadora Maria Beltrão, do Estúdio I.
Os convidados do programa chegaram a levantar a bola de que a Lava Jato está criando o clima necessário à prisão de Lula, ao que Beltrão interrompeu, riu e respondeu, em tom sarcástico: “Sempre haverá a subjetividade...”
O esforço da emissora, hoje, para incutir na opinião pública a ideia de que chamar a Lava Jato de parcial diante da prisão de Cunha é ignorância ou coisa de militante petista é inegável, e tem razão de ser.
A ação de defesa de Lula e a acusação rasa contra o ex-presidente associadas à resistência dos procuradores em denunciar políticos de partidos que não sejam do arco PT, PP e PMDB ajudaram a colocar em xeque a isenção da Lava Jato. “Desde o episódio com Lula, os procuradores vinham sofrendo com o desgaste”, reconheceu um dos comentaristas do programa.
Pesquisa divulgada pelo Vox Populi na terça (17) apontou que 43% dos entrevistados acham que a Lava Jato é “justa” em sua linha de atuação. Mas outra parcela de tamanho muito similar, de 41%, respondeu que a Lava Jato persegue Lula e petistas, enquanto cruza os braços em relação a políticos do PSDB e do governo Michel Temer (PMDB). O mesmo estudo indica que mesmo com todas as investidas, Lula lidera nas intenções de voto para 2018.
Jornalistas da GloboNews ainda fizeram questão de declarar que a prisão e busca e apreensão na residência de Cunha no Rio de Janeiro, solicitados pelo Ministério Público Federal, foram uma “surpresa” para todos, inclusive para a imprensa que até aqui vinha sendo agraciada com informações privilegiadas sobre a execução de medidas cautelares desse tipo.
Essa “surpresa”, em outros termos, é uma tentativa de desfazer os laços promíscuos já identificados na parceria mídia-Lava Jato. (Aqui).
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Impõe-se considerar que: a) o processo Lava Jato foi iniciado em março de 2014, dois anos e sete meses atrás. A prisão de Cunha é a primeira a envolver um 'peixe grande' estranho ao PT. Vale, porém, a indagação: Quem garantiria que, diante das 'circunstâncias', os peemedebistas ainda consideram Cunha um integrante de seu partido (vide o Planalto)?  b) a defesa do ex-presidente Lula, em nossa opinião, parece embasada em argumentos consistentes, ou ao menos aparentemente mais consistentes do que os invocados pelos defensores de Cunha;  c) de qualquer modo, é positiva a providência ora adotada contra o ex-deputado, que manobrou o quanto entendeu nos bastidores dos processos por que responde/respondeu, é titular de contas no exterior (assunto detidamente investigado/processado pelo ministério público suíço, que disponibilizou as respectivas peças à Justiça brasileira), além de deter dupla cidadania, visto ser, também, cidadão italiano.

ADENDO  -  Convém ponderar, não obstante, a avaliação de Fernando Brito, em seu blog (aqui):

PRISÃO DE CUNHA 'PROTEGE' MORO PARA AÇÃO CONTRA LULA?


Também do ponto de vista político, a prisão, agora há pouco, do ex-deputado Eduardo Cunha é, de alguma forma, “preventiva”.
Previne o questionamento, óbvio, que uma eventual ação contra o ex-presidente Lula teria se, ao ser desfechada, encontrasse Cunha ainda flanando por aí.
Não estão esclarecidas as razões de uma prisão feita a esta altura. Falar que o homem que teve poder para destituir uma presidente eleita e “nomear” Michel Temer presidente pudesse estar usando de prestígio e influência, agora que está apeado da presidência da Câmara e até do mandato parlamentar, para obstruir a Justiça. 
Assim como não parece que fosse uma prioridade: para Cunha não houve entrevista coletiva, powerpoints e espalhafatos. Até a hora, sem o “japonês matinal” de praxe, destoou.
Portanto, o que se pode suspeitar é que Eduardo Cunha, que deveria estar monitorado até nos pensamentos, tenha partido para alguma ação de ameaça ou chantagem, nada estranhas em se tratando dele.
Porque é preciso haver um fato concreto para que a prisão tenha sido determinada, embora no caso de Cunha alguém pudesse ter feito “por merecimento”, o que pode ser um critério moral, mas não é um critério legal.
Enfim, é mais um para a Casa Verde de Sérgio Moro, a marcar a concentração absurda de poder num único homem, que prendendo ou permitindo que com as prisões se arranquem confissões – aceitarão a de Cunha? – , leva o país à mais completa destruição institucional de que se tem notícia desde a decretação do Ato Institucional nº 5.

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