domingo, 7 de agosto de 2016

CERTAS EXPRESSÕES: AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO


Agora eu digo como diz o dito

Por Lourdes Nassif

Quem conta um conto aumenta um ponto, mas o dito nunca fica pelo não dito, já que foi dito e da forma como foi.  Luciano Hortencio diz como diz o dito, e coletou, durante toda a sua vida, as pérolas ouvidas deste povo sabido, de pessoas que usam os dizeres por décadas, ouvidas de antepassados, ou mesmo de passagem, e assumidos pela vida afora.
Foi pequeno ainda, em São Bernardo das Éguas Russas, chamado hoje somente de Russas, terra de sua família, que a caça aos ditos teve início, quando da convivência com Chico Vieira, faz tudo de sua avó Umbelina. O Chico “não dispensava um chiste” e Luciano não dispensava a prosa, anotando depois os ditos ali ouvidos.
Como a água corre pro mar, os ditados populares passaram a fazer parte de sua vida, um pouco pelo folclórico e outro tanto na tentativa de preservar a forma como são ditos, “pois a linguagem escorreita faria com que o ditado perdesse a graça ou mesmo o sentido da molecagem nela implícita ou explícita”. E se a cabra do vizinho é melhor que a minha, e a carapuça na cabeça não me cabe, vou folheando o tomo para poder falar com conhecimento de causa, para agradar a gregos e troianos.
Luciano alerta que sua função, neste livro, foi a de catalogar, sendo que os autores são os milhares de anônimos do nosso povo, “podendo também existir algum ou outro extraído de jargões latinos, quer bíblicos ou mesmo jurídicos, adaptados à linguagem popular”. Um tiquinho de gírias cearenses, apelidos, chistes, comparações, quadrinhas jocosas e expressões de duplo sentido foram acrescentados, para dar um temperinho extra para a leitura.
Andar por estes ditos me lembra que ainda tem muita água pra correr debaixo da ponte, azeitando a memória de quem lê, que foi a de quem escreveu ou, como ele prefere dizer, quem colecionou e colocou em ordem para nosso deleite.
Já que beliscar não é pecado, vou folheando e achando chistes, vitoriosa na pescaria de termos, pois que até araruta tem seu dia de mingau. Botei água na fervura e fui destacando os alguns, arre égua mói de chifre, e fui longe!
Mas já que aqui não é a casa da mãe Joana, vou terminando, dando o brado, cortando um dobrado, e avisando aos passantes, que o livro está aqui, disponível para baixar, com a benção de Luciano Hortencio, cabra bom de música e de ditos e, cá pra nós e pro vigário que nos confessa, com predileção por preservar o que de bom existe neste país, a música e seu povo.
O livro está aqui, com capa e miolo, pronto para o deleite, cada qual com seu cada qual, buscando os termos que viveu, deleitando-se nos ditos o quanto antes, que caldo que muito ferve, perde o sabor.
Salve Luciano Hortencio, colecionador das riquezas deste nosso país! (Fonte: aqui).
................
Livros sobre certas palavras e/ou certas expressões são fascinantes. Neles reside a memória da cultura, da língua, das gerações. Fui lendo o texto acima e pensando em alguns dos livros que costumo consultar aqui e ali:

. A CASA DA MÃE JOANA - curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas. Autor: Reinaldo Pimenta. Editora Campus. 266 páginas;

. O MELHOR DO MAU HUMOR - uma antologia de citações venenosas. Autor: Ruy Castro. Editora Companhia das Letras. 160 páginas;

. FRASES GENIAIS - que você gostaria de ter dito. Autor: Paulo Buchsbaum. Editora Ediouro. Ilustrações de Jaguar. 442 páginas. 

A propósito, estendo a todos os livros acima a louvação dirigida por Luis Fernando Veríssimo ao 'FRASES GENIAIS':

"'Que sacada!', é a frase que você mais dirá, folheando este livro. E não é um livro de arquitetura.

Com certeza, o AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO, de Luciano Hortencio, pesquisador de alto coturno, assíduo colaborador do Jornal GGN/Luis Nassif Online, merecerá inúmeros "Que sacada!". A sabedoria popular nordestina produz apetitosos frutos, por mais árida que seja a paisagem - ou exatamente por isso.

2 comentários:

lucianohortencio disse...

Muito obrigado pela gentileza, amigo Dodó Macedo!
Agora eu digo como diz o dito: Quem tem padrinho não morre pagão!

Forte abraço do luciano

Dodó Macedo disse...

Valeu, amigo.