sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O BRASIL DE 1965 REDIVIVO

               TV Tupi - Novela O Direito de Nascer - campeã audiência 1964/1965

O Brasil de 1965 e o de hoje

Por Alexandre Figueiredo

O clima de desânimo em relação ao governo de Michel Temer lembra um pouco o astral melancólico do Brasil de 1965, quando a ditadura militar estava aparentemente hesitante, mas depois se consolidou. Hoje, há expectativas do governo Temer se consolidar, o que não parece bom, criando mais um clima de apreensão entre os brasileiros.

Depois do relativo ânimo das forças oposicionistas diante da derrubada do governo João Goulart, em abril de 1964, o chamado "governo revolucionário" já parecia não querer sair do poder em 1965. Era um clima de expectativa que se sentiu no começo de 1965, embora meio arranhado com a cassação política de um dos possíveis candidatos, o ex-presidente Juscelino Kubitschek.

Kubitschek, que trocou Minas Gerais por Goiás, ao se tornar senador em 1963, havia defendido a derrubada do seu ex-vice, Jango, por estar incomodado com o radicalismo do político do PTB. sobretudo diante da controversa anistia a sargentos rebeldes, entre eles o traiçoeiro José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo.

O ex-presidente que investiu na construção de Brasília queria voltar ao cargo começando um mandato na nova capital. Não pôde realizar esse sonho e, pouco após o golpe militar, ele foi um dos primeiros políticos cassados no Ato Institucional, o primeiro de tantos que ocorreriam no regime militar.

Na verdade, houve uma grande desilusão depois do Primeiro de Abril que os militares tentaram atribuir um dia antes, para não "coincidir" com o Dia da Mentira. Como na dissimulação do governo de "salvação nacional" de Michel Temer (que fazia carreira como um "discreto" advogado paulista em 1965), a ditadura militar também começou prometendo uma "democracia".

Só que as perspectivas se tornaram ao longo dos meses mais sombrias. 1965 já era um ano de pálidas esperanças de, pelo menos, os militares liberarem o espaço político para os civis. A "limpeza ideológica" de 1964 deu um sabor melancólico, mas os brasileiros pareciam conformados de, pelo menos, poderem eleger um político "moderado" no retorno à normalidade democrática.

Só que as vitórias eleitorais de candidatos da oposição (ainda que moderada) ao regime militar em Minas Gerais e na Guanabara irritaram os generais, que extinguiram o pluripartidarismo e criaram apenas dois partidos: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro, embrião do atual PMDB).

É mais ou menos o governo Temer que já nasce também sob a aversão às urnas. E o governo do general Humberto de Alencar Castelo Branco, o presidente da ocasião, acabou se estabilizando ao longo dos meses, e se firmou de vez quando a ditadura se anunciou definitiva. Assim como Temer, Castelo era baixo, sisudo e sem carisma popular, mas muito apoiado por políticos conservadores.

E se o Brasil de hoje tem o ministro da Fazenda Henrique Meirelles para tocar um plano econômico ultraconservador, no governo Castelo Branco o titular era Otávio Gouveia de Bulhões, em franca parceria com o ministro do Planejamento, Roberto Campos, do qual Meirelles demonstra ser um entusiasmado seguidor.

O PAÍS NO ÂMBITO SÓCIO-CULTURAL

As forças conservadoras encerraram suas manifestações em abril de 1964 e retomaram o sossego com a chamada "revolução". Com Jango fora do poder, a ideia é a plutocracia recuperar seus privilégios através do poder das Forças Armadas. Hoje, no lugar das casernas, são as togas que garantem o poder plutocrático, numa fachada "democrática" mais verossímil que a de 1964-1965.

As esquerdas eram reprimidas. Mas também houve um clima de impotência, de desânimo. Muitas instituições foram extintas, como o Instituto Superior de Estudos Brasileiros e a União Nacional dos Estudantes - que, ilegal, só iria se manifestar em protestos estudantis depois da reforma educacional proposta em 1966 - , empenhadas no debate social, político, econômico e cultural do Brasil.

Dividida entre a plutocracia que não quer dividir o bolo sequer com os "desfavorecidos" que apoiaram o golpe militar - mesmo grupos sindicais de fachada, subsidiários do IBAD-IPES ("institutos" que pregaram a queda de Jango), acabaram abandonados após a conquista do poder pelos militares - e as forças progressistas castradas pelo poder vigente, a classe média entrava em clima de melancolia e pessimismo.

Para distrair, o entretenimento tinha como destaque a novela O Direito de Nascer, exibida às 21h 30, um dos maiores recordes em audiência na história da teledramaturgia brasileira, e que, transmitida entre 1964 e 1965, foi produzida pela TV Tupi de São Paulo.

Todavia, a novela foi estranhamente retransmitida pela TV Rio (parceira da TV Record nas Emissoras Unidas e atual TV Record Rio), não pela Tupi carioca, já que os Diários Associados haviam transmitido o mesmo enredo na Super Rádio Tupi e não achavam necessidade de retransmiti-la na televisão. A TV Tupi carioca perdeu participar desse grande sucesso televisivo.

Os jovens tinham o programa Jovem Guarda, da TV Record e TV Rio, com os três principais cantores do pop juvenil de então, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderleia. Como o consolo dos ventos culturais enfraquecidos, havia o Fino da Bossa comandando, também pela Record / TV Rio, a conciliação entre a Bossa Nova e a música brasileira de protesto dos idos de 1961-1964.

Pelo menos isso diferiu dos cenários de hoje, em que a MPB de 1965 é hoje um pálido processo de tributos e homenagens incessantes, quando a antes inovadora Maria Bethânia hoje é um nome tradicional a ser visto como uma formalidade e não uma novidade. Do rock pueril e comportado da Jovem Guarda, veio o antes inovador Rock Brasil que parece ser mais comportado que a Jovem Guarda e seguir a atual MPB na autorreverência.

São dois cenários de ceticismo e apatia, com 51 anos de separação cronológica. Na política, dois cenários específicos, mas que se afinam pelo tom conservador e pela falta de representatividade e apoio popular.

Em ambos os casos, o governo Castelo Branco que se efetivou em 1965, banindo a sucessão presidencial nos moldes civis para aquele ano, e o governo Michel Temer, que pretende se efetivar até 2018, só são apoiados pelas forças sociais conservadoras. Os avós e os netos unidos entre as duas aventuras plutocráticas, sob a observação apática do povo. (Fonte: Blog 'Anos 50, 60 e 70 para iniciantes'  - AQUI).

Nenhum comentário: