terça-feira, 9 de agosto de 2016

A MARCHA DA INSENSATEZ


A marcha da insensatez na economia

Por André Araújo

A expressão "marcha da insensatez" foi cunhada pela historiadora Barbara Tuchmann a respeito da trajetória das potências europeias nos anos precedentes à  Grande Guerra de 1914.
Tuchmann mostrou que o sistema de alianças cruzadas levaria as potências inevitavelmente ao conflito geral, mas mesmo todos percebendo para onde o caminho levava ninguém conseguia parar a marcha da insensatez. Seu livro mostra o roteiro desse determinismo que conduzia os povos à inevitabilidade da guerra.
Em certos momentos econômicos isso também acontece. Um programa desastroso para a economia brasileira caminha inexorável para um abismo sem que, embora muitos vejam o resultado, ninguém consiga pará-lo.
É o que se vê no plano, se é que se possa chamar de plano, da política absurda da dupla Meirelles-Goldfajn de aprofundar a recessão a pretexto de combater uma inflação já em queda. O aparente sopro de vida do mercado financeiro representado pela queda incomparável do dólar e por espasmos de subida da bolsa não indica qualquer melhora na economia real. Continua o aumento do desemprego, o fechamento de lojas, a crise financeira de grandes e médias empresas, o aumento expressivo do endividamento de pessoas físicas, a derrapada na venda de veículos.
A receita é clássica, tem 200 anos: aumentam-se os juros para ESFRIAR O CONSUMO, nisso concordam ortodoxos e heterodoxos, desenvolvimentistas e monetaristas. Mas nenhuma das duas grandes linhas do pensamento econômico vê alguma lógica em juros exorbitantes quando a DEMANDA já está super reduzida, quando a economia já está fria; é de uma estupidez única, é muito ilógico tentar baixar mais a temperatura do paciente que já esta gelado.
As duas escolas de pensamento econômico, a Austríaca e a Keynesiana, NÃO recomendam juros altos na recessão, nem Milton Friedman e nem Joseph Stiglitz, dois Prêmio Nobel de Economia,  mandam aumentar ou manter juros altos após LONGA recessão que já vai para três anos, juros altos são para ciclos de euforia, para baixar a demanda.
Por que combater inflação de custos com juros super altos que não terão NENHUM EFEITO sobre as causas estruturais de aumentos de custos?  Está faltando um estadista na Fazenda que tenha essa visão elementar de que é preciso estimular a demanda para que a economia privada ocupe sua capacidade ociosa e DEPOIS volte a investir.
A única forma de estimular a demanda no atual contexto é através de aumento de exportações e ou investimento público.
A exportação NÃO aumenta com o dólar caindo a cada dia e nem se pensa em investimentos públicos. Fala-se em investimentos privados em concessões da ordem de R$ 31 bilhões, em quanto tempo? Nem se sabe. TRINTA E UM BILHÕES são merreca para as dimensões da economia brasileira. Para levantar do velório a economia precisa de R$ 1 trilhão em dois anos, de dinheiro na veia, rápido, via um "Banco de obras", completar 500 obras paradas e jogar dinheiro em grande escala em saneamento e infraestrutura. Dinheiro privado para concessões DEMORA para chegar, depende de muitas avaliações e análises e vai chegar pouco, não faz coceira. Quem tira País da recessão rapidamente é investimento público.
E mais ainda, MESMO para concessões a economia desaquecida desestimula investimento em infraestrutura, os aeroportos privatizados tiveram enorme queda de receitas e não conseguem nem pagar as outorgas, Guarulhos e Galeão estão em má situação financeira; RECESSÃO também atrapalha investimento em infraestrutura.
O desemprego, que chega a 14 milhões, significa que, considerando-se 4 pessoas afetadas por desempregado, são 56 milhões de brasileiros.
Quantas desgraças familiares, depressões, separações, crianças e adolescentes prejudicados, jovens abandonando escola, saúde física e mental diretamente atingida, pessoas aos milhões que ficam sem plano de saúde, é uma DESGRAÇA NACIONAL - e a dupla do Itaú só pensa na proteção dos rentistas!; é a Escola Itaú de Economia, uma ironia; o dr. Olavo Setúbal não tinha essa visão medíocre,  era um homem de visão política aguçada, na linha de Oswaldo Aranha, aliás parente da família... 
Meirelles e Goldfajn são delegados do mercado financeiro e SÓ ISSO.  Não têm qualquer visão maior de País, do social na economia, do alcance político das medidas econômicas, nem tocam no item desemprego, para eles é irrelevante, só pensam em um torto ajuste fiscal que nem toca nos supersalários e na conta de juros.
A conta de juros da DÍVIDA PÚBLICA é tema central da política econômica, fiscal e monetária - e nem se fala nisso?
Já deveriam estar baixando as taxas e NÃO DEIXAR O DÓLAR CAIR, mas em nome da diabólica "meta de inflação" vão levar o dólar a R$2,70, liquidando com as exportações e com a agricultura de exportação, única fonte de renda do Brasil de hoje. É uma medida clássica de economias em recessão a desvalorização da moeda para alavancar exportações.
Mas uma  mídia engajada no geral apoia essa política genocida, os Sardenbergs e cia. batem palmas e dão risadinhas, a simpática Juliana Rosa dá sua risadinha e avisa "Olha, agora vai ficar melhor ainda para você viajar para o exterior" - um bom conselho para rentistas e funcionários públicos de supersalários, hoje os maiores clientes de agências de viagem. 
(Fonte: Jornal GGN - aqui).
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Projeto de Lei visando à moralização dos salários - ajustados, enfim, ao determinado pelo artigo 37 da Constituição Federal, implicando, pois, a extinção dos supersalários - foi enviado pelo Governo Dilma à Câmara dos Deputados no começo deste ano; lá permanece até hoje, devidamente encalhado, vitimado pela deliberada política de boicote encetada por Eduardo Cunha e parceiros contra o Governo Federal - e há indícios de que para 'seguir adiante' teria de, na prática, ser deformado, tantas as emendas, destaques e 'questões de ordem' levantadas. 
Sobre o agravamento da recessão, convém lembrar que analistas apontam no sentido de que eventuais iniciativas somente serão adotadas/propostas APÓS o objetivo crucial dos atuais detentores provisórios do poder ser alcançado. Eis uma das razões da pressa, da sofreguidão em ver o processo concluído. Aos críticos, uma atenuante providencial poderá ser apresentada, a de que: Nada temos a ver com isso: as barbeiragens do governo afastado são as responsáveis pelo 'estado de coisas'... 
(Sem contar que, quanto mais dramática a situação, mais factível, em princípio, a aprovação do pacotão a ser apresentado, consolidando o estado mínimo, o desmonte da proteção ao trabalho e a fragilização dos programas sociais - e do pré-sal...).

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