sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O SUSPENSE SÍRIO (III)

T. E. Lawrence.

Lourenço tinha razão

Por José Inácio Werneck

Acho que todos nós brasileiros deveríamos encarar com humildade uma história como a da Síria, cuja capital, Damasco, é uma das mais antigas cidades do mundo continuamente habitadas e a caminho da qual Saulo de Tarso, diz-se, encontrou Jesus.

Atravessando os séculos, como parte da Mesopotâmia e da Assíria, dominada pelos romanos (é interessante recordar que diversos imperadores romanos eram sírios de nascença), pelos cristãos, depois pelos muçulmanos, integrante do Império Otomano, a Síria foi uma das regiões do mundo que potências ocidentais dividiram arbitrariamente de acordo com seus próprios interesses, traçando fronteiras que não levavam em consideração nem etnias, nem religiões, nem tribos, nem seitas, nem costumes, nem lealdades.

O filme "Lawrence of Arabia", em que Peter O’Toole teve o papel principal, mostra bem este episódio, em que o inglês T. E. Lawrence (foto) convenceu os árabes de que eles ganhariam a independência apenas para saber depois que seus superiores tinham feito um acordo secreto com a França em que a região seria dividida entre os dois países.

Foi o acordo "Sykes-Picot", em que a França ficou com a Síria, entre outras regiões, e o Reino Unido ficou com o Iraque, entre outras.

A Síria tornou-se um Mandato Francês e só ganhou sua independência em 1946, depois da Segunda Guerra Mundial.

Isso explica em parte porque o parlamento do Reino Unido, tão interessado em se aliar aos Estados Unidos no Iraque, não aprovou agora um ataque à Síria, enquanto a França, que se negou a se envolver no Iraque, acode pressurosamente quando se trata de uma intervenção na Síria, que considera sua "zona de influência".

O conflito de 1914 a 1918 viu, também, a criação do Mandato Britânico na Palestina, com a garantia, em documento escrito, de Lord Balfour ao Barão de Rothschild, poderoso banqueiro judeu de cujo financiamento a continuação da guerra necessitava, de que a região seria eventualmente entregue aos judeus, como acabou acontecendo.

Por que o Império Otomano conseguiu durante tantos séculos dominar a região, enquanto as potências ocidentais, das quais os Estados Unidos são o natural sucessor, são obrigadas a enfrentar permanente instabilidade?

A reposta está na descentralização do Império Otomano, com as diversas regiões e diferentes seitas e etnias, entre as quais se incluíam cristãos (assírios, coptas, católicos, protestantes, ortodoxos), judeus, curdos, árabes, persas, turcos, armênios, gregos, ciganos, circacianos, cipriotas, tártaros, iazidis, sunis, alawitas, xiitas e zoroastras, gozando de grande autonomia em suas áreas.

Mas o Império Otomano (leia-se Turquia) cometeu o erro fatal de se aliar à Alemanha e ao Império Austro-Húngaro, derrotados na I Guerra Mundial, e foi por isso parcelado entre os vencedores.

T. E. Lawrence, com seu conhecimento da região, disse que a catástrofe seria inevitável, exatamente como acontece agora.

Barack Obama encontra-se diante da decisão mais difícil de sua administração. Por causa de interesses belicistas dos Estados Unidos, corre o risco de enredar, cada vez mais, o país num labirinto que as nações europeias criaram por não ouvirem a voz de homens conhecedores da história da região, como foi T. E. Lawrence.

Pior: está praticando um ato ilegal, que ignora o Conselho de Segurança das Nações Unidas. (Fonte: aqui).

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