quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

ANDRÉIA SADI E O PREÇO DA SUPEREXPOSIÇÃO COMO 'INFLUENCER' DE MAGREZA


"Enquanto furo minha barriga com uma agulha de insulina, penso em escrever esse texto.

Não, não sou diabética. Tampouco sou gorda. Estou com um leve sobrepeso, e toda a sociedade me diz em uníssono: você fracassou.

Andréia Sadi, apresentadora da GloboNews, que posta fotos do corpo e da “evolução” há quatro anos, sente, certamente, que não fracassou ao exibir o corpo extremamente magro.

A ditadura da magreza ganhou uma força amedrontadora no neoliberalismo: a influenciadora já correu 7 km hoje, e são 6 da manhã. Qual é a sua desculpa?

Na sociedade das academias de ginástica, a responsabilidade é sua se não obedecer exatamente ao padrão de beleza estabelecido, como se você tivesse o tempo e a vida de uma influenciadora.

Spoiler: não tem como obedecer a esse padrão se você não for uma delas.

Penso na ditadura da magreza e na minha barriga furada de Ozempic, e faço essa confissão envergonhada: todas nós fomos transformadas pelo neoliberalismo em fanáticas pela beleza — que significa, muito frequentemente, a magreza.

Andréia Sadi vai além: não basta obedecer à ditadura da magreza, é preciso dizer a outras mulheres, às vezes com palavras, às vezes com fotos de uma magreza absoluta, que não ser magra é fracassar.

Ela se expõe além da conta por likes e dinheiro e destaca que o emagrecimento “não foi da noite pro dia” para atribuir ainda mais mérito ao seu feito. Mas eu aposto que ela também fura a barriga com agulha de insulina, como todas as famosas que emagreceram recentemente fizeram.

E é por causa de gente como Andréia que gente como eu — uma trabalhadora CLT — corre atrás da magreza como se fosse um prêmio por bom comportamento.

O problema não é querer ser magra.

Querer ser magra é o efeito de uma sociedade doente, a sociedade dos influencers, onde absolutamente tudo é mérito ou demérito individual, e não fruto de uma forma de controle coordenada do corpo feminino.

O problema, então, é justamente esse: transformar a magreza em um medidor de sucesso ou fracasso de uma mulher, assim como eram o casamento e os filhos (e, em alguma medida, ainda são).

Não há diferença entre ambos: são igualmente ferramentas de controle social dos nossos corpos.

E isso é tão, mas tão profundo que eu, que sei de tudo isso, sigo e seguirei furando minha barriga com uma agulha de insulina para injetar remédio para emagrecer, porque não quero ter que suportar a sensação de fracasso a cada vez que me olho no espelho. Só confesso isso porque sei que muitas outras mulheres vivem exatamente a mesma coisa.

O “ser magra a qualquer custo” custa muito. Custa o nosso tempo, o nosso dinheiro, a nossa saúde física e mental.

Em “A Religião da Magreza”, Michelle Lelwica nos revela algo que, para mim, não é nada surpreendente, porquanto claramente observável: para muitas mulheres, emagrecer não é só um objetivo, mas quase uma questão de fé.

Michelle constata que a obsessão pelo corpo magro se tornou uma espécie de crença sagrada, com seus rituais (dietas milagrosas), pecados (carboidratos) e promessas de salvação (o peso ideal).

Ser magra não é apenas uma questão estética, muito menos uma questão de saúde: é um objetivo de vida, uma chance de remissão de qualquer fracasso, uma prova de que, sim, você treinou enquanto eles dormiam e passou fome voluntariamente. Parabéns.

Andréia Sadi faz parte dessa sujeira e com ela colabora diretamente, porque, além de explorar o próprio corpo para uma exposição lógica e desnecessária nas redes sociais, posando de heroína dos gominhos na barriga, quer que outras mulheres acreditem que também podem. E, se não conseguirem, é porque não são capazes e não merecem ser vistas como mulheres bem-sucedidas.

Esse desserviço cria mais mulheres complexadas e, na maioria das vezes, adoecidas em suas tentativas de se encaixarem.

“Fico especialmente tocada quando me param, me escrevem que — de alguma forma — se sentem incentivadas a voltar a se cuidarem”, escreveu num textão no Instagram.

E isso é se cuidar? Sacrificar a própria saúde, autoestima e tempo de vida para exibir um corpo esquelético? Supor que se cuidar é necessariamente tornar-se magra é mais um aspecto cruel do discurso de Sadi.

Pior ainda se o discurso for direcionado às mães: a gestação transforma o corpo da mulher naturalmente, e atribuir a ela a responsabilidade de não “voltar ao seu corpo de antes” é, no mínimo, perverso — sobretudo em uma fase tão delicada como o puerpério.

Isso não ajuda mulheres, como ela tenta mostrar no Instagram. Muito pelo contrário, isso destrói mulheres.

O problema, a raiz de toda a questão, é colocar a magreza como objetivo e como prêmio, o pote de ouro no fim do arco-íris, aquilo que você pode alcançar se “se esforçar o suficiente” — e convencer as pessoas de que ter um corpo extremamente magro e uma cara de doente é a sua recompensa por passar fome e furar a sua barriga.

Gente como Andréia Sadi — e tantas outras Pugliesis da vida — não é vítima, mas agente direta de uma busca violenta por se enquadrar em um padrão que sequer faz sentido: ter cara de doente e desnutrida tá na moda (e não, não é lá que eu quero chegar).

Andréia, sua “evolução” tem cara de doença terminal. Seja honesta e diga isso às coitadas das suas seguidoras."



(De Nathalí Macedo, artigo sob o título acima, publicado no DCM Diário do Centro do Mundo - Aqui.

Deixem de especular sobre a Sadi, que, simpática - e magra, é fato -, se mantém uma das líderes da ala global que não dá folga ao Lula, sempre achando uma 'peinha' que seja para destacar negativamente o presidente!).

Nenhum comentário: