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"Trump tomará posse em 20 de janeiro de 2025, oito anos após janeiro de 2017; não é mais - por certo - o mesmo Trump daquela época
Desde que na madrugada do dia 6 de novembro – que passamos em claro acompanhando as apurações – já havia ficado claro que o fascista Donald Trump venceria as eleições, uma série de nomes de sua futura equipe vinha sendo levantados e especulados para uma série de cargos. Meus primeiros comentários em vários canais de TVs eram bem simples e diretos: o seu governo devería ser o mais direitista e sionista de toda a história dos EUA. Mais até do que tinha sido o de Ronald Reagan (1981-1989).
Mas, a verdade, tenho dito também que o Trump que tomará posse em 20 de janeiro de 2025, oito anos após janeiro de 2017, não é mais – por certo – o mesmo Trump daquela época. Nem os EUA são os mesmos. Nem tampouco o mundo é o mesmo. Os BRICS estão mais fortes e o império mais fraco. A multipolaridade está mais consolidada. O Império mais decadente. O dólar mais contestado. Mais e mais países já usam as suas moedas locais para comércio bilateral.
No entanto, o império segue forte e pode infernizar a vida de bilhões de pessoas. As 836 bases militares espalhadas em 106 países não serão desmontadas na gestão Trump e nem acho que ele sairá da OTAN, ainda que aumentem as chances d que isso ocorra até o final da sua gestão.
O que pretendo fazer com este pequeno artigo aqui são pequenos comentários sobre o perfil de todos os indicados até o momento – em torno de 15 nomes centrais e principais já divulgados amplamente. Que têm um perfil amplamente conservador, direitista, de sionistas cristãos (à exceção dos judeus propriamente ditos) e de baixo perfil profissional, ou seja, pessoas quase que sem experiência em suas áreas de indicação.
Mas, há outra característica ainda. Ele rompe normas e exigências para a ocupação de vários cargos e funções, indicando pessoas que não possuem qualificações para exercerem as funções. Mas, como o presidente pode tudo nos EUA, isso provavelmente será superado.
Eu não inclui nessa lista Suzie Wiles, que foi a primeira indicação e a primeira mulher que vai ser chefe de gabinete. Ela foi muito discreta como coordenadora geral de campanha. Ela não tem um perfil político. Eu conheço muito esse tipo de perfil de profissional, é aquela que coordena as equipes e que sabe de tudo o que se passa nas campanhas.
Por fim, não poderia deixar de comentar dois aspectos. A idade média dessas indicações é de apenas 53 anos. Quase não há “cabelos brancos” na equipe. E o segundo aspecto, é que entre 16 indicados, tem-se a presença de quatro mulheres, ou 25%. Pode não ser um índice alto, mas para alguém tipo como misógino é relativamente alto, levando-se em conta que a chefe de gabinete da Casa Branca, Suzy Wiles, será pela primeira vez uma mulher.
1. Marco Rúbio, secretário de Estado
O indicado para secretário de Estado, que é o chefe da Diplomacia, é Marco Rubio, que é senador Republicano pela Flórida desde 2011. Portanto ele está no senado há 13 anos. Lembrando que o mandato de senador nos EUA é de quatro anos e assim, ele ainda teria mais um ano ainda como parlamentar em seu terceiro mandato como senador.
Ele tem 53 anos, é filho e neto de famílias contrarrevolucionárias, aquelas que lutaram contra a revolução em Cuba, capitaneada por Fidel Castro, Camilo Cienfuegos, Che Guevara, Raul Castro e tantos outros. Quem nasce em Cuba e mora na Flórida são chamados de “gusanos”.
Rúbio é bacharel em Ciência Política e advogado. Ele foi deputado estadual. É católico de extrema-direita, contra o aborto e sionista-cristão. O que ele vai propor para a América Latina? Ele vai, provavelmente, oferecer para Trump arrochar ainda mais Cuba, arrochar ainda mais a Venezuela, e, onde for possível, dar golpes na América Latina. É o que eu acho que ele vai recomendar. Mas, não quer dizer que isso vai acontecer. Na Venezuela, especificamente, só existem duas opções: endurecer mais, nomear um “novo Guaidó”, aquela figura grotesca chamada Edmundo Gonzalez, que afirma ter vencido as eleições.
A outra opção seria distensionar, isto é, negociar com eles para comprar petróleo, o que seria muito mais barato do que comprar da Arábia Saudita que é muito mais longe e encarece muito mais o frete. Não tem uma terceira opção. A Venezuela não vai mudar o rumo de sua Revolução Bolivariana.
2. Elon Musk – chefe de Eficiência Governamental
Se ele não for o homem mais rico do mundo, deve estar entre os três mais ricos. Ele é dono da Tesla, da SpaceX, do PayPal, do X (antigo Twiter), entre outras empresas. Tem 53 anos de idade. É sul-africano de nascimento, mas tem também a nacionalidade canadense e estadunidense. Sua formação é em Física e Economia. Ele apoiou o golpe na Bolívia em 2019. É homem de extrema-direita e sionista.
Ele foi indicado para chefiar um Departamento que o Trump vai criar após a sua posse, que não existe na estrutura do organograma da máquina pública federal estadunidense e vai se chamar Departamento de Eficiência Governamental.
Junto dele foi indicado um outro homem da extrema-direita, que é o Vivek Ramaswamy. Musk vai cuidar mesmo da luta ideológica. Ele vai ser aquele que vai comprar a guerra das ideias, o Ministério da Pós-Verdade.
3. Pete Hegseth – Secretário de Defesa
A Secretaria de Defesa dos EUA é equivalente aqui ao nosso Ministério da Defesa. Normalmente eles indicam um general de quatro estrelas. Este, no caso, é um capitão da Guarda Nacional, que equivale à nossa Força Nacional. Há uma certa quebra de tabu a indicação de um capitão e não um general quatro estrelas. Fala-se que Trump quer abrir a tal “caixa preta” do Pentágono com essa indicação.
Este futuro secretário serviu no Afeganistão e no Iraque entre 2003 e 2005, ganhando várias medalhas. Portanto, ele é oficial da reserva e tem 44 anos. Formou-se em Ciência Política em Princeton, uma universidade conceituada; fez mestrado em Políticas Públicas em Harvard. Ele defendeu em uma palestra em Jerusalém, a reconstrução do templo naquela cidade. Atualmente é comentarista da TV Fox News, a TV mais de extrema-direita nos Estados Unidos.
4. John Radcliffe – Diretor Geral da CIA
Tem 59 anos, e já foi diretor de Inteligência Nacional Interna dos Estados Unidos; foi também deputado Republicano entre 2015 e 2020. Foi procurador no Texas. É também bacharel em Estudos Internacionais (aqui no Brasil esse curso chama-se Relações Internacionais). Ele tem também diplomas de Artes e Direito, portanto é advogado. É contra qualquer tipo de imigração.
5. Mike Waltz – Conselheiro de Segurança Nacional
É coronel do exército dos EUA e deputado Republicano pela Flórida. Desde 2018 foi eleito governador da Flórida. É bacharel em Estudos Internacionais e fala em guerra contra o PC da China, ou seja, seu foco é mais o Partido Comunista do que a própria China.
É um anticomunista feroz e diz que a China pratica espionagem contra o seu país o tempo todo, especialmente por meio dos estudantes das universidades estadunidenses que são de origem chinesa.
Ele será aquele que se senta ao lado do presidente nas reuniões no salão oval, como se vê nos filmes. Quando o Conselho de Segurança Nacional se reúne ele está sempre ao lado do presidente e é o primeiro que dá a sua opinião.
6. Mike Huckabee – Embaixador dos EUA em Israel
Tem 69 anos, é o mais velho dentre os escolhidos até agora. Há pouca informação sobre ele. O que se sabe é que ele foi governador do Estado de Arkansas de1996 até 2007.
Ele é pastor da Igreja Batista. É um sionista-cristão raivoso, um sulista. A Igreja Batista do Sul, à qual ele pertence, tem peculiaridades, não é uma Igreja Batista qualquer; eles têm divergências com a Convenção Batista. Talvez uma das sessões mais direitas da Igreja nos EUA.
Ele é de um movimento sionista chamado Build Israel Griet Again (Construindo Novamente o Grande Israel) em hebraico é Eretz Yisrael Hashlemah. Na verdade, nunca existiu isso que é uma lenda bíblica, mas eles defendem esse mito de que existiu um Israel que englobava parte do Egito, o que é hoje a Palestina ocupada: Israel, Síria, Jordânia, parte do Kwait, parte da Arábia Saudita e parte do Iraque. Mike Huckabee é defensor desse tal Grande Israel.
O cargo para o qual ele está indicado é o de embaixador dos Estados Unidos em Israel e foi assim saudado com grande entusiasmo em Tel Aviv e por todos os jornais israelenses.
7. Steve Witkoff – Enviado especial para o Oriente Médio
É judeu sionista puro sangue. Tem 67 anos e é investidor imobiliário. Eu prefiro chamar de especulador imobiliário, pois ele compra e vende móveis. Foi um dos maiores doadores da campanha de Donald Trump e arrumou vários outros doadores.
É advogado, mas não exerce e é o indicado do futuro presidente para ser o Enviado Especial para o Oriente Médio. Este é um cargo que eles inventaram, não existe na estrutura Federal estadunidense. Mas, talvez desde Jimmy Carter, em 1979, que eles inventaram esse cargo, porque é uma região tão conflitiva e como não dá para toda hora o presidente se deslocar para lá e nem mandar o secretário de Estado, eles inventam um cargo para cumprir este papel.
Ele vai para lá, mas não decide nem resolve absolutamente nada. Vai passear e se hospedar em hotéis caríssimos, vai com aqueles aviões imensos e muitos assessores. É sempre recebido pelo rei da Jordânia, pelo rei da Arábia Saudita, pelo presidente do Egito. Dá entrevistas, mas nunca resolve nada. Essa será a função desse enviado especial.
8. Elise Stefanik – Embaixadora dos EUA na ONU
É uma jovem senhora de 40 anos. Uma desolação. Uma incompetente. Não tem a menor noção de direito internacional e vai representar os Estados Unidos nas Nações Unidas.
Ela é deputada republicana por Nova Iorque desde 2015. É formada em Harvard. As biografias dela não dizem em que. Trabalhou com o governo Bush. Ela é muito fraca, ninguém sabe nada sobre ela. Por um lado, isso por ser bom, pois ela pode ser devorada pelas feras que ficam no Conselho de Segurança.
9. William McGinley – Conselheiro da Casa Branca
Ele já havia trabalhado com Trump na Casa Branca entre 2017 e 2019 como secretário de gabinete (essa função não é única, mas são várias pessoas que ocupam esse posto). Ele é advogado formado pela Universidade da Califórnia e com doutorado pela Universidade de George Washington. Sempre foi republicano. Foi membro do Comitê de Regras da Convenção Nacional Republicana de 2012. Não obtivemos a sua idade.
10. Tom Homan – Responsável pelas fronteiras
Tem 62 anos e tem o diploma de Associado em Justiça Criminal. Não é propriamente um advogado, mas um bacharel. Ele é policial do Departamento de Imigração, que é a Alfândega dos Estados Unidos uma espécie de chefatura de Polícia da Fronteira.
Ele já foi diretor desse mesmo cargo entre 2017 e 2018 no governo Trump, mas ele está nesse setor há 40 anos, desde 1984. Ele entrou com 22 anos e ainda não se aposentou. O nome do cargo que ele ocupará é chamado de “Czar da Fronteira”.
No caso é uma fronteira que dá problemas, digamos, só no México, porque com o Canadá não precisa se preocupar tanto, porque eles lá eles são em sua maioria brancos, olhos azuis e verdes.
O “problema” é mais embaixo, o que pega, de fato, é com o México. Roman é o idealizador da expulsão sumária de milhões de imigrantes e, mais do que isso, ele é o idealizador da política de separação de filhos dos pais. Ao fazerem isso, a tese dele é de que vai inibir a imigração ilegal.
11. Kristi Noem – Secretária de Segurança Interna
Tem 52 anos. Ela é governadora de Dakota do Sul, republicana desde 2019. Foi deputada de 2011 até 2019, quando foi eleita governadora. Ela ficou famosa durante a Pandemia da Covid-19, porque se recusou a baixar um decreto para obrigar as pessoas a usarem máscara. Ela é formada em Ciência Política. Em alguns países, esse cargo equivale a ministra do Interior.
12. Lee Zeldin – Chefe da Agência de Proteção Ambiental
Ele tem 44 anos e é advogado e deputado Republicano desde 2015 até 2023. É um oficial da reserva do Exército dos Estados Unidos. Isto mostra como Trump militariza o seu governo. É estudante de hebraico, portanto, um sionista e defensor de que Israel tem direito à autodefesa; é contrário ao Irã e diz que Jerusalém tem que ser a capital eterna de Israel.
13. Tulsi Gabbar – Diretora da Inteligência Nacional
Está é a única e a mais controversa escolha feita por Trump. Ela foi deputada pelo Partido Democrata por oito anos. Nascida em Samoa na Polinésia dos EUA, é hinduísta e tem apenas 43 anos. Foi deputada estadual com apenas 21 anos. É oficial da reserva dos EUA.
Ela defende a saúde universal, apoiou Bernie Sanders como pré-candidato à presidente em 2020. Apoia o direito integral ao aborto, assim como o casamento homoafetivo. Na guerra contra a Síria em 2017, ela se ofereceu a ir ao país dialogar com o presidente Bashar e jamais aceitou a versão de que ele disparou armas químicas contra seu povo.
É a favor da descriminalização das drogas. Como se vê, uma deputada com posições progressistas e nada conservadoras, mas que se converteu ao Partido Republicano. O tal mundo da espionagem está profundamente irritado com a sua indicação.
14. Mattheus Louis Gaetz II – Procurador Geral
Este talvez seja a mais polêmica indicação de Trump, pelo lado oposto da Tulsi, pelas suas posições abjetas, polêmicas, extremistas. Um típico fascista e sionista cristão, a favor a reconstrução do Templo em Jerusalém.
Assim que seu nome foi anunciado imediatamente renunciou ao seu mandato na Câmara dos Representantes (equivalente à nossa Câmara dos Deputados) e se não o fizesse seria cassado, pois incorria em vários delitos éticos.
Ele foi deputado entre 2017 e 2024 pelo Partido Republicado. É advogado de formação desde 2008. Já foi acusado de uso de drogas ilícitas, de abuso de crianças e até de tráfico de crianças.
Ele esposa a teoria racista de Renard Camus, chamada de Teoria da Grande Substituição (que prega que na Europa uma imigração em massa levaria à substituição da população branca majoritária por mestiços vindo de vários países, em especial adeptos do islamismo e para isso tem-se que impedir a imigração).
Ele ataca também a Liga Anti-Difamação (do judaísmo), que chama de racista e supremacista. Ele é defensor ferrenho que a embaixada dos EUA permaneça em Jerusalém assim como ele defende a reconstrução do Templo de Salomão nessa cidade.
15. Robert Fitzgerald Jr. – Secretário da Saúde e Serviços Humanos
Aqui outra, talvez a mais polêmica de todas as indicações ou a mais heterodoxas delas. Até outro dia esse Kennedy era um democrata. Como ele não teria a menor chance de ter a sua indicação ratificada pela máquina do PD, saiu candidato independente, logrando ter apenas 674.718 votos (ou 0,46%).
Robert Jr. É sobrinho do presidente John Kennedy, assassinado em 22 de novembro de 1963. Seu pai, Bob Kennedy, então procurador geral na gestão de Kennedy, também candidato a presidente, foi assassinado. Robert Jr. é o mais velho dos indicados, com 70 anos. Ele é um advogado ambientalista, mas metido em várias polêmicas.
Sua marca maior é o negacionismo científico. Ele é dos maiores combatentes das vacinas. Ataca a FDA, a agência que regulamenta alimentos e medicamentos. Entre outras polêmicas, além de antivax, como são conhecidos, ele defende a comercialização do leite in natura (sem pasteurização), que se receite a ivermectina para combater a COVID, tratamento do tal oxigênio hiperbárico. É muita polêmica. E Trump resolveu comprar todas essas brigas, indicando-o para seu “ministro da saúde”.
Uma breve conclusão
O que podemos esperar são tempos sombrios. Uma disputa acirrada, muito além da política, uma disputa ideológica. No campo das ideias. Não tenho dúvida que Trump e seu grupo e apoiadores em todos os países irão fortalecer as correntes mais à direita e o fascismo onde isso for possível.
Partidos como o PL no Brasil, o chega em Portugal, o VOX na Espanha, a Frente Nacional na França, vão aproveitar esse momento para tentar se fortalecer e crescer ainda mais. O sionismo também vai tentar se fortalecer. Por isso vejo tempos difíceis para os palestinos.
Mas, a correlação de forças no mundo está se alterando rapidamente. As forças progressistas estão se reagrupando e percebendo rapidamente que o caminho é a sua união, a sua unidade em torno de programas nacionais patrióticos amplos e democráticos, com plataformas comuns que reúnam o maior número de paridos do campo progressistas que tenham como objetivo a defesa da pátria, a soberania nacional a luta anti-imperialista e os interesses dos trabalhadores.
Não há por que temer esse imperialismo. Ele não é um tigre de papel, como Mao Zedong dizia, mas também não é um monstro que não pode ser abatido. A vitória está ao alcance das nossas mãos."
(De Lejeune Mirhan, artigo sob o título acima, publicado no site Brasil 247 - Aqui.
Lejeune, ex-presidente da Federação dos Sociólogos do Brasil, analista e escritor, tem suas posições incisivas e as defende enfaticamente. É ferrenho defensor da causa palestina e dos interesses das minorias progressistas espalhadas pelo mundo).
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