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Cabe ao Brasil perceber que se abrem espaços geopolíticos de disputa em torno do tema da reindustrialização
Vencedor no voto popular e no Colégio Eleitoral, Donald Trump deve obter para os republicanos também o controle da Câmara e do Senado. Essa conjunção de vitórias marca uma importante ascensão do populismo conservador, que de diversas maneiras parece ter capturado a rejeição ao governo de Joe Biden. Trump optou pela defesa, ainda que xenófoba, de postos de trabalho, de melhores empregos e da reindustrialização do país.
Os democratas saíram derrotados em razão de suas próprias contradições. Deixaram-se ser associados a um liberalismo prejudicial ao eleitor e afastaram-se de largas parcelas do eleitorado.
Esses setores acabaram migrando para a mistificação trumpista, na esperança do ressurgimento de bons empregos e salários. Trump navegou novamente nas promessas de construção da "América Grande de Novo", um slogan emblemático da situação atual de decadência do país.
Os EUA de Trump embarcam em uma empreitada de recriar um país que já foram.
O objetivo é trazer de volta a liderança industrial perdida para a China. Trump promete criar taxas e tarifas contra produtos industriais de outros países, em especial a China, num típico programa de substituição de importações.
A ideia replica aqueles planos de desenvolvimento, inclusive o brasileiro, que foram tão combatidos como geradores de protecionismo ineficiente. Os próprios estadunidenses propagaram esse conceito ao longo da segunda metade do século passado como forma de bloquear o florescimento de projetos nacionais de industrialização, especialmente o brasileiro. Não deixa, portanto, de ser irônica essa migração da posição estadunidense, que sempre encontrou defensores entreguistas locais.
O Brasil exporta produtos manufaturados para os Estados Unidos e pode ser afetado pelas medidas protecionistas.
Além disso, o presidente Lula declarou apoio a Kamala Harris nas eleições recentes, além de qualificar Trump como desumano e compará-lo ao nazismo.
Embora a apuração, a rigor, ainda não tenha terminado, Lula já parabenizou Trump pela vitória. Pela relevância dos EUA, o Brasil de Lula, a despeito das evidentes diferenças com Trump, deve manter uma atitude pragmática com o novo governante, mantendo o foco, claro, na defesa dos interesses nacionais. Esse posicionamento institucional deve governar as relações não apenas com os EUA, mas com todos os países.
Além disso, cabe ao Brasil perceber que se abrem espaços geopolíticos de disputa em torno do tema da reindustrialização.
O país deve definir metas ambiciosas nessa reorganização da divisão internacional do trabalho, que se dará, com certeza, num período de transição e reorganização das cadeias produtivas globais a partir de demandas de sustentabilidade e de transformações tecnológicas cada vez mais disruptivas.
Uma questão inquietante, por exemplo, está na ameaça de que os EUA de Trump busquem se reindustrializar à revelia de qualquer consideração pelo meio ambiente, o que pode ser desastroso para todo o planeta.
Neste jogo, o Brasil deve aproveitar, com responsabilidade, todas as oportunidades para sair dessa transição em condições de competir em igualdade com outras nações de dimensões continentais e grande mercado. - (Editorial do Brasil 247 - Aqui).
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