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O Kremlin diz que Kiev deve reconhecer a anexação por Moscou das regiões sul e leste. A Ucrânia diz que todos os soldados russos devem deixar seu território, incluindo a Crimeia
O veterano diplomata americano Henry Kissinger disse que está chegando a hora de uma paz negociada na Ucrânia para reduzir o risco de outra guerra mundial devastadora, mas o governo de Kiev rejeitou seus comentários e disse que não pode haver acordo envolvendo cessão de territórios.
Kissinger, 99, arquiteto da política da Guerra Fria em relação à União Soviética como secretário de Estado dos presidentes dos EUA Richard Nixon e Gerald Ford, encontrou-se com o russo Vladimir Putin várias vezes desde que ele se tornou presidente em 2000.
Não há fim à vista para o conflito desencadeado pela invasão russa na Ucrânia em 24 de fevereiro, que matou dezenas de milhares de pessoas e expulsou milhões de suas casas. A Rússia agora controla cerca de um quinto da Ucrânia.
O Kremlin diz que Kiev deve reconhecer a anexação por Moscou das regiões sul e leste. A Ucrânia diz que todos os soldados russos devem deixar seu território, incluindo a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014. Kiev se inscreveu para ingressar na Otan depois que Moscou anunciou anexações posteriores em setembro.
"Aproxima-se a hora de construir sobre as mudanças estratégicas que já foram realizadas e integrá-las em uma nova estrutura para alcançar a paz por meio da negociação", escreveu Kissinger na revista The Spectator.
"Um processo de paz deveria ligar a Ucrânia à Otan, seja como for. A alternativa de neutralidade não é mais significativa", escreveu Kissinger.
Kissinger disse que em maio havia proposto um cessar-fogo sob o qual a Rússia se retiraria para antes da invasão de fevereiro, mas a Crimeia seria objeto de "negociação".
O conflito no leste da Ucrânia começou em 2014 depois que um presidente pró-Rússia foi derrubado na Ucrânia e a Rússia anexou a Crimeia, com separatistas apoiados pela Rússia lutando contra as forças armadas da Ucrânia no leste.
"O Sr. Kissinger ainda não entendeu nada... nem a natureza desta guerra, nem seu impacto na ordem mundial", disse o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak, no Telegram.
"A receita que o ex-secretário de Estado pede, mas tem medo de dizer em voz alta, é simples: apaziguar o agressor sacrificando partes da Ucrânia com garantias de não agressão contra os outros Estados do Leste Europeu."
Ele acrescentou: "Todos os defensores de soluções simples devem se lembrar do óbvio: qualquer acordo com o diabo - uma paz ruim às custas dos territórios ucranianos - será uma vitória para Putin e uma receita de sucesso para autocratas do mundo".
O diretor da CIA, William Burns, disse em entrevista que, embora a maioria dos conflitos termine em negociação, a avaliação da CIA é que a Rússia ainda não leva a sério uma negociação real para acabar com a guerra.
Putin descreve o que chama de "operação militar especial" da Rússia como divisor de águas quando a Rússia finalmente enfrentou um bloco ocidental liderado pelos EUA.
A Ucrânia e o Ocidente dizem que Putin não tem justificativa para o que dizem ser uma guerra de ocupação de estilo imperial.
Kissinger alertou que os desejos de tornar a Rússia impotente, ou mesmo buscar a dissolução da Rússia, podem desencadear o caos. - (Aqui).
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"Kissinger alertou que os desejos de tornar a Rússia impotente, ou mesmo buscar a dissolução da Rússia, podem desencadear o caos."
De modo que ficamos assim: todos têm razão; melhor dizendo: cada um tem lá suas razões. É o chamado impasse perfeito. Consequência: à exceção de Tio Sam (OTAN), todos enfraquecem, inclusive a Rússia.
Enquanto isso, em meio ao rigor do inverno, seguem firmes as escaramuças verbais quanto ao fornecimento de gás russo à Europa.
Voltando ao campo de batalha: à medida em que fevereiro se aproxima, o salutar desejo de paz imediata parece suplantado pela impressão de que 'outros fevereiros virão'.
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