segunda-feira, 6 de abril de 2020

DE COMO PERSONAGENS DO MOMENTO SEGUEM CAMINHOS INVERSOS


O que leva pessoas como o vice-procurador eleitoral a bolsonarar?

Por Luis Nassif 

O vice-procurador-geral eleitoral Renato Brill de Goés não é um bolsominion típico. Pelo contrário. Até a semana passada era um procurador considerado, com boas posições em direitos humanos. Virou Bolsonaro.
O Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta é um médico racional, que tem dado demonstrações de maturidade e responsabilidade pública excepcionais. E era Bolsonaro.
O que leva pessoas desse nível a aderirem ao que de pior a política brasileira apresentou em todos os tempos? A adesão a Bolsonaro há muito deixou de ser uma opção política para se tornar uma escolha moral.
O que acontece com o caráter de pessoas como Brill de Góes, para ter a presunção de acabar com um partido político que representa várias dezenas de milhões de eleitores brasileiros? Como pode alguém que se considera minimamente racional e conhecedor de princípios jurídicos e de direitos humanos, proceder a essa confusão entre pessoas e a instituição do partido a ponto de ter essa pretensão de varrer do mapa político o maior partido brasileiro?
Seria vontade de agradar o chefe? Seria o fato de querer impor autocraticamente seu antipetismo sobre 47 milhões de eleitores? Seria o fato de que suas convicções se adaptam às circunstâncias da sua carreira profissional? Vale tanto a pena assim manchar sua biografia com um gesto dessa natureza?
Mandetta fez o caminho inverso. Chegou ao posto de Ministro por sua adesão ao bolsonarismo. No poder, lembra o personagem de Vitório de Sicca, no filme “De crápula a herói”. Percebeu a relevância do cargo, a responsabilidade pública e passou a ter um papel central no combate à doença, indo contra o chefe. Vai ser demitido ou não, pouco importa. Em um país de oportunismos, de pusilanimidade de homens públicos, Mandetta inscreveu-se na história.
Por outro lado, quantos procuradores/as exemplares, de biografia irrepreensível, acabaram jogando fora história, imagem e reputação para agradar ao Deus do momento, fosse Bolsonaro ou a mídia? Os exemplos estão aí, à vista de Brill de Goes. Na era das redes sociais, o julgamento da história não precisa aguardar décadas para se realizar.
Quando passar o vendaval, e poderá ser em breve, gestos dessa natureza serão contados como o caso do procurador que empenhou sua biografia em troca do fogo fátuo de um poder que acabará na próxima esquina da história.  -  (Aqui).

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Comentário deste Blog
O ministro Mandetta agiu conforme manda a sensatez: na condução da crise do Covid-19, rendeu-se à Ciência e à Organização Mundial de Saúde. Uma vez que o presidente da República tem agido ao arrepio da sensatez relativamente ao assunto, as consequências pareceriam óbvias. Quanto ao vice-procurador-geral eleitoral, vale lembrar que há bastante tempo ele desenvolve trabalho persecutório contra o PT, havendo chegado a 'questionar' matérias cruciais da citada agremiação, como a prestação de contas relativa à eleição do ex-presidente Lula em 2002 (o 'questionamento' teria sido intentado em 2011 pelo hoje vice-procurador ). Mas a cassação do registro do PT vem sendo cogitada (mais adequado seria dizer "urdida") há bastante tempo, bem antes do início da operação Lava Jato (março 2014), e mobiliza forças diversas, incluindo os 'donos' da geopolítica mundial. Nenhuma estranheza quanto aos 'movimentos' atualmente observado, portanto.        

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