quinta-feira, 30 de abril de 2020
ELES DISSERAM - EM VÍDEO(S) - (30.04.20)
.Fernando Morais:
Caixa-Preta: Bolsonaro em
queda de braço com o STF .......................... Aqui.
.Reinaldo Azevedo:
O É da Coisa ............................................. Aqui.
.Leo ao Quadrado:
Por que Bolsonaro agrediu a Venezuela ........ Aqui.
.João Antonio:
Delegado que denunciou grampo ilegal em
Curitiba vence a Lava Jato na Justiça ............ Aqui.
Conjur aponta manobras de Felix Fisher
em mais cinco recursos envolvendo Lula ...... Aqui.
.Luis Nassif:
A guerra STF vs Bolsonaro e o
terraplanismo de Guedes ............................ Aqui.
.Alex Solnik / PML / Federicce:
Boa Noite 247 ........................................... Aqui.
.Paulo A Castro:
Ministro Gilmar detona Eduardo Bolsonaro .... Aqui.
Lula desistiu da política? ............................. Aqui.
................
.Falcão:
Diário da Quarentena (32) .......................... Aqui.
ADVOGADOS E JURISTAS DENUNCIAM MORO EM COMISSÃO DE ÉTICA DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
.
Este Blog se permite sugerir a anexação do post abaixo ao intitulado "Letras Vãs Sobre Temas do Momento" - Aqui -, publicado horas atrás.
247 / Uol - Um grupo de 14 advogados e juristas apresenta nesta quinta (30) uma denúncia contra Sergio Moro na Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
Eles identificam desvios do ex-juiz da Lava Jato, como troca de favores e omissão diante de possíveis atos ilegais de Jair Bolsonaro, que ele admitiu conhecer, informa a jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo.
Este Blog se permite sugerir a anexação do post abaixo ao intitulado "Letras Vãs Sobre Temas do Momento" - Aqui -, publicado horas atrás.
247 / Uol - Um grupo de 14 advogados e juristas apresenta nesta quinta (30) uma denúncia contra Sergio Moro na Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
Eles identificam desvios do ex-juiz da Lava Jato, como troca de favores e omissão diante de possíveis atos ilegais de Jair Bolsonaro, que ele admitiu conhecer, informa a jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo.
O grupo considera que o próprio Moro relatou as tentativas de Bolsonaro para trocar o diretor-geral da Polícia Federal a partir do segundo semestre de 2019.
Ao não informar a conduta de Bolsonaro a órgãos competentes, o ex-juiz poderá ter violado o Código de Ética do Servidor. Na visão dos advogados, tais incursões de Bolsonaro “foram aceitas [por Moro] sem maiores questionamentos”.
O grupo de advogados cita também, o discurso de resposta de Bolsonaro a Moro, em que o chefe do Executivo afirmou que o ex-juiz pediu que a direção da PF só fosse alterada em novembro, depois que ele fosse indicado para o STF (Supremo Tribunal Federal).
Finalmente, os advogados e juristas pedem que a comissão investigue também o pedido de Moro para que fosse garantida uma pensão à família dele caso algo “acontecesse” depois que assumiu o Ministério da Justiça.
O grupo é liderado pelo jurista Celso Antônio Bandeira de Mello.
Ao não informar a conduta de Bolsonaro a órgãos competentes, o ex-juiz poderá ter violado o Código de Ética do Servidor. Na visão dos advogados, tais incursões de Bolsonaro “foram aceitas [por Moro] sem maiores questionamentos”.
O grupo de advogados cita também, o discurso de resposta de Bolsonaro a Moro, em que o chefe do Executivo afirmou que o ex-juiz pediu que a direção da PF só fosse alterada em novembro, depois que ele fosse indicado para o STF (Supremo Tribunal Federal).
Finalmente, os advogados e juristas pedem que a comissão investigue também o pedido de Moro para que fosse garantida uma pensão à família dele caso algo “acontecesse” depois que assumiu o Ministério da Justiça.
O grupo é liderado pelo jurista Celso Antônio Bandeira de Mello.
BRASIL TEM MAIOR TAXA DE CONTÁGIO POR CORONAVÍRUS DO MUNDO
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Profissionais de saúde com roupa de proteção prestam homenagem
a colegas mortos pelo novo coronavírus em Manaus
Brasil tem o maior número de reprodução de Covid-19 (doença provocada pelo coronavírus) entre 48 países analisados pelo Imperial College de Londres. A reportagem é do jornal Folha de S.Paulo.
"Cada infectado transmite vírus para cerca de três pessoas no Brasil, onde esse indicador é calculado em 2,81. Na Alemanha, por exemplo, o mesmo indicador é 0,8"
a colegas mortos pelo novo coronavírus em Manaus
Brasil tem o maior número de reprodução de Covid-19 (doença provocada pelo coronavírus) entre 48 países analisados pelo Imperial College de Londres. A reportagem é do jornal Folha de S.Paulo.
O indicador, também chamado de R, mostra para quantas pessoas cada infectado transmite a doença.
Segundo a reportagem, na semana que começou nesta segunda (26), o R do Brasil era 2,81, ou seja, cada infectado transmite a doença para cerca de 3 pessoas, segundo as estimativas do centro de doenças infecciosas da universidade (MRC), um dos mais respeitados do mundo na análise de epidemias.
Em vários países do mundo, governos têm considerado que as restrições de mobilidade só podem ser relaxadas sem risco para o sistema de saúde se o número de reprodução estiver abaixo de 1.
Na Alemanha, considerada uma das nações mais bem-sucedidas no controle da doença, o número de reprodução calculado pelo MRC é 0,8, mas o governo estuda repensar o fim do isolamento social, tendo em vista que o número de infectados aumentou no país após o relaxamento da quarentena. - (Aqui).
SEGUE A GRANDE BATALHA...
MORO: SAUDADE DOS VELHOS TEMPOS
DA SÉRIE LETRAS VÃS SOBRE TEMAS DO MOMENTO
Uma vez que a Grande TV continua reprisando (duas, três vezes ao dia) a matéria sobre o imbróglio Moro x Bolsonaro - mais especificamente o "Prezada, não estou à venda", dito pelo ex-juiz à deputada Carla Zambelli, de quem ele foi padrinho de casamento -, permitimo-nos alinhar algumas observações e/ou conjecturas:
(1) a insistente divulgação das edificantes palavras acima pela Grande TV está funcionando não só como argumento pró senhor Moro, presentemente, mas poderia ser vista como bandeira a ser hasteada pela equipe que cuidará de eventual campanha eleitoral a ser por ele empreendida no futuro;
(2) as virtuosas palavras do senhor Moro teriam sido proferidas em diálogo ocorrido na véspera do anúncio de sua saída do governo. Após o ex-magistrado haver fornecido à Grande TV as mensagens trocadas com a deputada e 'afilhada' Zambelli, a parlamentar parece haver se dado conta de que poderia ter 'caído' em algo, pontuando: "A frase 'Prezada, não estou à venda' foi 'muito calculada'" - Aqui);
(3) ora, vale lembrar que, segundo rumores, à época da campanha eleitoral de 2018 o (ainda juiz) senhor Moro teria tido alguns encontros com um importantíssimo emissário de um certo candidato. Especulações as mais estapafúrdias, claro, mas que até a presente data dão o que pensar;
(4) e quais seriam as circunstâncias reinantes nas semanas, meses que antecederam o pedido de exoneração, por parte do senhor Moro, do cargo de juiz federal, após 22 anos de magistratura? É aí que desembocamos na esteira da Lava Jato. A propósito, e para resumir o emaranhado, transcrevemos trecho do post produzido por este Blog no dia 24.04.20, intitulado "Que Prevaleça, Enfim, a Constituição Federal" (Aqui):
"[a] qual o peso que teve sobre o pedido de exoneração do senhor Moro da magistratura a proximidade/inevitabilidade do julgamento, pelo Conselho Nacional de Justiça - sob o novo comando do ministro Dias Toffoli -, de ONZE reclamações sobre inconstitucionalidades flagrantes cometidas por ele, o que poderia resultar em punição severíssima?"
Aduzimos, novamente indagando: Seria 'palatável' um bom cargo no Executivo, ainda mais com a perspectiva - se tudo corresse bem no exercício ministerial - de indicação a um altamente honroso e vitalício cargo em um outro poder, na hora oportuna? (Mas as coisas não correram bem, como se está a ver).
Enquanto isso, a Grande TV continua reprisando (duas, três vezes ao dia) a matéria sobre o imbróglio Moro x Bolsonaro - mais especificamente o "Prezada, não estou à venda"...
quarta-feira, 29 de abril de 2020
ELES DISSERAM - EM VÍDEO(S) - (29.04.20)
.Regina Zappa / Ivan Lins:
De Lisboa, Ivan Lins canta e conversa
com a Estação Sabiá ................................... Aqui.
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.Alberto Villas:
JFT: Reviravolta na Polícia Federal ................. Aqui.
.Reinaldo Azevedo:
O É da Coisa .............................................. Aqui.
.Liana Cirne / Elika Takimoto:
Quarentena: Dossiê Sérgio Moro ................... Aqui.
.Attuch / Marcelo Uchôa:
Leo ao Quadrado: STF esvazia a
caneta de Bolsonaro ................................... Aqui.
.Luis Nassif:
O Supremo pode impedir o Presidente de
indicar o diretor-geral da Polícia Federal? ....... Aqui.
.Alex Solnik / PML / Federicce:
Boa Noite: 5 mil mortos e Bolsonaro
foge da responsabilidade ............................. Aqui.
.Paulo A Castro:
O choro de Bolsonaro por Moro
e o STF tramando ....................................... Aqui.
A nova vitória de Lula
contra o judiciário de Moro ........................... Aqui.
O começo tenebroso do novo ministro ........... Aqui.
................
.Falcão:
Diário da Quarentena (31) ........................... Aqui.
NOS EUA, 'GRIPEZINHA' JÁ MATOU MAIS QUE A GUERRA DO VIETNÃ
Nos Estados Unidos, a Covid-19 - ou a "gripezinha", como disse Jair Bolsonaro - já matou mais que a Guerra do Vietnã, que durou cerca de duas décadas.
Até a tarde desta quarta-feira 29/IV, o novo coronavírus já havia matado mais de 58,4 mil pessoas no país. Durante toda a Guerra do Vietnã, 58,2 mil pessoas morreram.
Segundo monitoramento em tempo real feito pela Johns Hopkins University, os EUA já ultrapassaram a marca de 1 milhão de casos de Covid-19 - às 13h15, eram 1.015.289 confirmados. - (Aqui).
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Enquanto isso, no mês de março o presidente Bolsonaro afirmou que no Brasil as mortes pelo coronavírus não chegariam a 800; ontem, ultrapassaram 5 mil - e a China.
Enquanto isso, no mês de março o presidente Bolsonaro afirmou que no Brasil as mortes pelo coronavírus não chegariam a 800; ontem, ultrapassaram 5 mil - e a China.
COLLAPSE CARTOON
FREUD E AS SUPERSTIÇÕES MOBILIZADAS PELOS EMPRESÁRIOS DO TEMPLO
.
"Os empresários do templo não podem romper com o mito sem antes demonizá-lo. No momento em que começarem a fazer isso os pastores se exporão à reação violenta dos evangélicos mais fanáticos".
....
A seguir, análise/antevisão da conjuntura política Brasil - sem levar em conta a dura realidade que sobrevirá a partir da constatação da situação caótica do país frente à pandemia coronavírus, cenário tido como inevitável/indubitável pelos Estados Unidos e resto do mundo.
Por Fábio de Oliveira Ribeiro
Quem melhor resumiu a situação política brasileira após o rompimento entre Jair Bolsonaro e Sérgio Moro foi Hildegard Angel.
“Com o rompimento Bolsonaro e Moro, muda o tabuleiro de apoiadores. A direita tosca, maníaca, iletrada e fanática permanece com Bolsonaro. A direita do dinheiro, da conveniência, elitista, do preconceito contra Lula e PT fica com Moro,e lamenta o apoio antes conferido a Bolsonaro.”
Jornalista veterana, Hilde Angel conhece bem os meandros da elite brasileira. Não podemos esquecer que foi ela que organizou o encontro entre a então candidata Dilma Rousseff e as mulheres do clã Marinho. O conteúdo do Twitter acima transcrito deve ser levado a sério. Entretanto, a autora do comentário se limitou a constatar um fato. Os desdobramentos possíveis do rompimento da direita merece alguma reflexão. Farei isso recorrendo à psicologia freudiana
Sigmund Freud afirmou que:
“Acredito em realidade que boa parte da concepção mitológica que há no mundo e que reina até hoje nas religiões modernas, nada mais é do que a psicologia que se projeta no mundo exterior. O obscuro reconhecimento dos fatores e dos fatos psíquicos (dito de outra maneira, a percepção intrapsíquica desses fatores e desses fatos) se reflete – é difícil dizê-lo de outra maneira, e a analogia com a paranoia precisa ser tomada aqui para nos servir de auxílio – na construção de uma realidade sobrenatural, à qual a ciência irá restituir a forma de uma psicologia do inconsciente. Poderíamos arriscar até mesmo o atrevimento de tentar explicar dessa maneira os mitos do paraíso e do pecado original, de Deus, do bem e do mal, da imortalidade e assim por diante, transformando a metafísica em metapsicologia. A distância que separa o deslocamento operado pelo paranoico daquele que o supersticioso faz é menor do que parece à primeira vista. Quando os homens começaram a pensar foram obrigados a dar uma resolução antropomórfica ao mundo, a criar uma multiplicidade de personalidades feitas à sua imagem; os acidentes e os acasos que eles interpretavam de maneira supersticiosa eram a seus olhos ações, manifestações de pessoas; dito de outra maneira, eles se comportavam exatamente como os paranoicos, que tiram conclusões a partir do menor sinal que os outros lhe fornecem, e da mesma forma como se comportam todas as pessoas normais, que, com razão, elaboram julgamentos sobre o caráter de seus semelhantes como base em suas ações acidentais e inintencionais. A superstição só parece estar tão deslocada na nossa visão de mundo moderna, científica, que entretanto está ainda longe de estar concluída em sua totalidade; na visão de mundo dos povos pré-científicos, a superstição era autorizada e consequente.” (Sobre a PSICOPATOLOGIA da vida cotidiana, Sigmund Freud, Lafonte, São Paulo, 2014, p. 269)
Segundo o Twitter comentado, Bolsonaro tinha dois tipos de apoio: político/ econômico da elite; fanático/religiosa da “direita tosca, maníaca, iletrada”. Ao romper com Sérgio Moro ele perdeu o apoio “da direita do dinheiro, da conveniência, elitista, do preconceito contra Lula e PT “.
O resultado dessa equação parecia simples. Sustentado pelos fanáticos evangélicos, Jair Bolsonaro conseguiria resistir ao Impeachment, terminar seu mandato e disputar a reeleição com uma vantagem comparativa em relação aos adversários. O problema se torna mais complexo quando levamos em conta as superstições políticas e econômicas que constituem o núcleo duro da teologia do sucesso financeiro pregada pelos pastores evangélicos.
Assim como o núcleo empresarial do bolsonarismo abandonou o presidente no momento em que ele rompeu com Sérgio Moro, os líderes do núcleo evangélico se sentirão tentados a fazer isso. Até a presente data, os donos das redes de pequenas igrejas e grandes negócios não decidiram o que farão. Isso vai ocorrer nos próximos dias.
Os empresários do templo não podem romper com o mito sem antes demonizá-lo. No momento em que começarem a fazer isso os pastores se exporão à reação violenta dos evangélicos mais fanáticos. O resultado eleitoral de 2018 provou satisfatoriamente que é muito fácil mobilizar a credulidade popular em benefício de um determinado líder político. Desmobilizar o fanatismo quando ele passou a ser comandado e explorado por pessoas inescrupulosas como os Bolsonaro pode ser uma tarefa delicada e potencialmente perigosa.
Em janeiro de 2020, Lula pediu para o PT se aproximar dos evangélicos. Ao que parece a intuição do ex-presidente petista estava correta. Lula percebeu que a ponte que ligava as duas bases de sustentação política de Jair Bolsonaro (a elite política/ econômica e a tigrada fanática/religiosa) já havia começado a se desintegrar antes do mito romper com Sérgio Moro. A história provou, uma vez mais, que Lula estava certo.
Em 2018 os empresários do templo ficaram ao lado de Jair Bolsonaro. Eles seguiram os donos tradicionais do dinheiro (banqueiros, industriais, barões da mídia, multinacionais, grandes produtores de carne e de soja, etc)? Isso parece ser muito mais provável do que eles acreditarem realmente que o mito era o Messias. De fato, estou convencido de que os empresários do templo somente transformaram Bolsonaro no eleito por deus porque ele tinha o apoio declarado da elite econômica tradicional.
Se levarmos em conta as palavras de Freud, reposicionar politicamente as redes de pequenas igrejas grandes negócios não será uma tarefa fácil. Ao ser transformado num receptáculo das superstições religiosas e das esperanças políticas dos evangélicos, Jair Bolsonaro passou a ocupar um espaço nos corações e mentes dos fiéis.
Um rompimento abrupto com o mito pode esfacelar as Igrejas evangélicas ou, no mínimo, descolar a bancada do tempo da sua base eleitoral. O beneficiário desse fenômeno não será necessariamente Sérgio Moro, muito embora alguns fanáticos já terem começado a se bandear para o lado dele. O feromônio secretado pelo Bezerro de Ouro é forte demais para ser desprezado por alguns evangélicos.
“Sigam quem tem dinheiro, eles estão sempre corretos; os endinheirados foram abençoados por deus”. As superstições teológicas pregadas pelos pastores já começaram a produzir um efeito político contrário à determinação que alguns empresários do templo demonstram de ficar ao lado de Bolsonaro. Além disso, o mito ainda controla a chave dos cofres da União (cujo poder de sedução não é pequeno).
Freud diz que a “…superstição só parece estar tão deslocada na nossa visão de mundo moderna, científica, que entretanto está ainda longe de estar concluída em sua totalidade; na visão de mundo dos povos pré-científicos, a superstição era autorizada e consequente.” A visão de mundo dele (moderna e científica) não corresponde à que predomina no cenário brasileira. Na verdade, podemos dizer que o pai da psicanálise presumiu que o mundo moderno caminhava num sentido contrário aquele que foi trilhado pelo Brasil antes, durante e depois da eleição de Jair Bolsonaro.
Entre nós as superstições evangélicas passaram a desempenhar uma importância política maior do que a ciência moderna. Não por acaso os pastores estão na linha de frente do combate às medidas sanitárias sugeridas pelos cientistas encarregados de minimizar os efeitos da pandemia do COVID-19. Qualquer político brasileiro que pretende chegar e ficar na presidência do Brasil não poderá mais desconsiderar as superstições que os pastores reforçam nos seus rebanhos.
A destruição acelerada do sistema público de educação promovida por Abraham Weintraub será, sem dúvida alguma, um fator de complicação na próxima década. Mas isso não significa que Bolsonaro ficará na presidência ou que ele será reeleito. O rompimento com Sérgio Moro tem tudo para provocar ondas de choque imensas, intensas e potencialmente incontroláveis no dispositivo religioso de sustentação do bolsonarismo. A familícia já deu uma indicação clara de que percebeu o perigo que corre ao se aproximar de Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto.
Na minha opinião, se o PT souber explorar as contradições criadas pelo rompimento entre Jair Bolsonaro e Sérgio Moro o poder eleitoral da “direita do dinheiro, da conveniência, elitista” será uma vez mais anulado na próxima eleição presidencial. O jogo continua. Uma nova rodada está começando, mas a esquerda precisa começar a dar mais importância à disputa parlamentar. Caso contrário o presidencialismo brasileiro continuará a ser instável e a dar aos tiranos do Poder Judiciário as condições que eles têm explorado para sequestrar todo poder político com ajuda do Legislativo.
O fim do bolsonarismo está próximo, sem dúvida. Devemos supor que Jair Bolsonaro não cairá com a mesma elegância, civilidade e pacifismo que caracterizou a reação de Dilma Rousseff ao golpe de estado disfarçado de Impeachment? Sim, sem dúvida. O fanatismo político costuma sair de controle. Com ou sem autorização dos caciques clã Bolsonaro alguns episódios de violência política são previsíveis. Eles ocorrerão antes e depois do mito ser destronado. Felizmente para os petistas, nesse momento todo o ódio dos fanáticos será dirigido contra Sérgio Moro e a Rede Globo. - (Fonte: Jornal GGN - Aqui).
ELES DISSERAM - EM VÍDEO(S) - (28.04.20)
.Aline Piva:
Giramundo: Quem vai pagar
a conta desta crise? ................................... Aqui.
.Aquias Santarem:
Fachin cancela julgamento de Lula pelo STJ .. Aqui.
.João Antonio:
Click: Fachin faz dura crítica ao STJ e Félix
Fisher termina derrotado no caso Lula ......... Aqui.
O que aterroriza Moro ............................... Aqui.
.Luis Nasssif:
Consequências das ações no STF
contra Moro e Bolaonaro ............................ Aqui.
.Paulo A Castro:
Militares do governo Bolsonaro
consideram Moro traidor ............................ Aqui.
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.Falcão:
Diário da Quarentena ................................ Aqui.
terça-feira, 28 de abril de 2020
DEPOIS DO CORONAVÍRUS
.
Enquanto crescer o aquecimento global e aumentar a devastação de habitats naturais não teremos imunidade: os animais nos transmitirão mais vírus
Por Leonardo Boff
Muitos já sentenciaram: depois do coronavírus não é mais possível levar avante o projeto do capitalismo como modo de produção nem do neoliberalismo como sua expressão política. O capitalismo é somente bom para os ricos; para os demais é um purgatório ou um inferno e para a natureza, uma guerra sem tréguas. O que nos está salvando não é a concorrência (seu motor principal), mas a cooperação, nem o individualismo (sua expressão cultural), mas a interdependência de todos com todos.
Mas, vamos ao ponto central: descobrimos que a “vida” é o valor supremo, não a acumulação de bens materiais. O aparato bélico montado, capaz de destruir por várias vezes a vida na Terra se mostrou ridículo perante um inimigo microscópico invisível, que ameaça a humanidade inteira. Seria o Next Big One (NBO) do qual temem os biólogos, “o próximo Grande Vírus”, destruidor do futuro da vida? Não cremos. Esperamos que a Terra tenha ainda compaixão de nós e nos dê apenas uma espécie de ultimato.
Já que o vírus ameaçador provém da natureza, o isolamento social nos oferece a oportunidade de nos questionarmos: qual foi e como deve ser nossa relação face à natureza e, em termos mais gerais, face à Terra como Casa Comum? Não são suficientes a medicina e a técnica, por mais necessárias. Sua função é atacar o vírus até exterminá-lo. Mas se continuarmos a agredir a Terra viva – “nosso lar com uma comunidade de vida única”, como diz a Carta da Terra (Preâmbulo) – ela contra-atacará de novo com pandemias mais letais, até uma que nos exterminará.
Ocorre que a maioria da humanidade e dos chefes de Estado não tem consciência de que estamos dentro da sexta extinção em massa. Até hoje não nos sentíamos parte da natureza e nós humanos a sua porção consciente; nossa relação não é para com um ser vivo – Gaia – que possui valor em si mesmo e deve ser respeitado, mas de mero uso em função de nossa comodidade e enriquecimento. Exploramos a Terra violentamente a ponto de 60% dos solos terem sido erodidos, na mesma proporção as florestas úmidas e causamos uma espantosa devastação de espécies, entre 70-100 mil por ano. É a vigência do “antropoceno” e do “necroceno”. A continuar nesta rota vamos ao encontro de nosso próprio desaparecimento.
Não temos alternativa senão fazermos – nas palavras da encíclica papal “Sobre o cuidado da Casa Comum” – uma “radical conversão ecológica”. Nesse sentido o coronavírus é mais que uma crise como outras, mas a exigência de uma relação amigável e cuidadosa para com a natureza. Como implantá-la num mundo montado sobre a exploração de todos os ecossistemas? Não há projetos prontos. Todos estão em busca. O pior que nos pode acontecer seria, passada a pandemia, voltarmos ao que era antes: as fábricas produzindo a todo vapor mesmo com certo cuidado ecológico. Sabemos que grandes corporações estão se articulando para recuperar o tempo e os ganhos perdidos.
Mas há que conceder que esta conversão não pode ser repentina, mas processual. Quando o Presidente francês Emmanuel Macron disse que “a lição da pandemia era de que existem bens e serviço que devem ser colocados fora do mercado” provocou a corrida de dezenas de grandes organizações ecológicas, tipo Oxfam, Attac e outras pedindo que os 750 bilhões de Euros do Banco Central Europeu destinados a sanar as perdas das empresas fossem direcionados à “reconversão social e ecológica” do aparato produtivo em vista de mais cuidado para com a natureza, mais justiça e igualdade sociais. Logicamente isso só se fará ampliando o debate, envolvendo todo tipo de grupos, desde a participação popular ao saber científico, até surgir uma convicção e uma responsabilidade coletiva.
De uma coisa devemos ter plena consciência: enquanto crescer o aquecimento global e aumentar a população mundial devastando habitats naturais e assim aproximando os seres humanos aos animais, estes transmitirão mais vírus. Seremos seus novos hospedeiros, situação para a qual não estamos imunes. Daí pode surgir pandemias devastadoras.
O ponto essencial e irrenunciável é a nova concepção da Terra, não mais como um mercado de negócios colocando-nos como senhores (dominus), fora e acima dela, mas como um super Ente vivo, um sistema autoregulador e autocriativo, do qual somos a parte consciente e responsável, junto com os demais seres como irmãos (frater). A passagem do dominus (dono) a frater (irmão) exigirá uma nova mente e um novo coração, isto é, ver de modo diferente a Terra e sentir com o coração a nossa pertença a ela e ao Grande Todo. Junto a isso o sentido de inter-retro-relacionamento de todos com todos e uma responsabilidade coletiva face ao futuro comum. Só assim chegaremos como prognostica a Carta da Terra a “um modo sustentável de vida” e a uma garantia de futuro da vida e da Mãe Terra.
A atual fase de recolhimento social pode significar uma espécie de retiro reflexivo e humanístico para pensarmos sobre tais coisas e a nossa responsabilidade diante delas. O tempo é curto e urgente e não podemos chegar tarde demais. - (Fonte: Site A Terra É Redonda - Aqui).
*Leonardo Boff, ecoteólogo, é autor, entre outros livros, de Como cuidar da Casa Comum (Vozes, 2018).
O 'X' DAS QUESTÕES
Fred.
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.Bom Dia 247 (28.04.20) - Attuch / Auler / Jonas Di Andrade:
Bolsonaro investigado e uma luz contra o racismo .................... Aqui.
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.Bom Dia 247 (28.04.20) - Attuch / Auler / Jonas Di Andrade:
Bolsonaro investigado e uma luz contra o racismo .................... Aqui.
ANTES DE MORO SAIR, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA BLINDOU LAVA JATO CONTRA LULA
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O fato é que o senhor Sergio Moro, desde março de 2014 (deflagração da Lava Jato), ou, para ser mais preciso, desde os idos de 2002/3, com o inacreditável desfecho da Operação Banestado (Aqui) jamais deu ponto sem nó. Em estreita sintonia, ao que consta, com o Departamento de Justiça norte-americano, como demostram as diversas postagens reproduzidas neste Blog ao longo dos anos. O senhor Moro tem fixação na luta contra os poderosos, em tudo o que propunha ou deliberava sempre vinha com o lance da luta contra os poderosos - mas poderoso, mesmo, parece ser o próprio, que, ao que vê e antevê, se mantém poderoso a despeito de, agora, cidadão (aparentemente) comum.
Nota: Relativamente às (outras) circunstâncias que marcaram a atuação do senhor Moro nas eleições de 2018 (e sua... curiosa exoneração do cargo de juiz federal - Aqui, indagação 'a'), ficam para uma outra oportunidade.
Do Jornal GGN
Dois dias antes de Sergio Moro anunciar a demissão, o Ministério da Justiça proferiu decisão negando à defesa do ex-presidente Lula o acesso aos atos de cooperação praticados a pedido da Lava Jato com os Estados Unidos. A blindagem foi revelada pelo advogado Cristiano Zanin nas redes sociais. “Será que agora teremos acesso [aos atos]?”, questionou no Twitter.
A defesa de Lula quer detalhes da cooperação entre procuradores brasileiros com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos durante a Lava Jato, porque há indícios de irregularidades no processo. As suspeitas ganharam força na esteira das reportagens produzidas pelo The Intercept Brasil e veículos associados, com base em mensagens de Telegram vazadas ao longo de 2019.
Além disso, os advogados lutam para ter acesso aos autos do processo que a Petrobras enfrentou nos Estados Unidos. A ideia é mostrar que mesmo com a estatal condenada a desembolsar bilhões de reais para pagar multas impostas pelos norte-americanos, não ficou provada a participação de Lula nos esquemas delatados.
O GGN produziu uma série de vídeos explicando a influência dos EUA na operação que nasceu em Curitiba, e os fatores que levaram ao boom da indústria do compliance no Brasil. O capítulo 2 e 4 tratam do tema.
Confira a playlist abaixo. (Clique Aqui).
segunda-feira, 27 de abril de 2020
ELES DISSERAM - EM VÍDEO(S) - (27.04.20)
.Alain Dutra:
Por que a covid-19 está matando mais os
homens? Testosterona? ............................. Aqui.
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.Alberto Villas:
Bolsonaro infla a bola de Guedes ................ Aqui.
.Tales Faria:
Uol: Roberto Jefferson comenta embate
entre Moro e Bolsonaro ............................. Aqui.
.Dilma Rousseff / P. Pimenta / W. Damous:
A conjuntura política ................................. Aqui.
.Reinaldo Azevedo:
O É da Coisa ............................................ Aqui.
.Luis Nassif:
TV GGN: Com PF, PGR e tudo, Bolsonaro
ameaça o país .......................................... Aqui.
.Alex Solnik / PML / Dayane Santos:
54% querem Bolsonaro fora ...................... Aqui.
.Paulo A Castro:
Unidos pelo crime ..................................... Aqui.
Bolsonaro e ministro da Saúde são
cúmplices da covid-19 .............................. Aqui.
...............
.Falcão:
Diário da Quarentena (29) ......................... Aqui.
ESTADOS UNIDOS: COMO O CAPITALISMO DO 'JUST IN TIME' PROPAGOU A COVID-19
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Crise mundial coronavírus: o mundo, nesta data, 27.04, chega a 3 milhões de casos. Os Estados Unidos respondem por 32% de tal contingente e 23% de todos os óbitos. Só a cidade de Nova York registrou até agora mais casos e mais mortes do que os observados no Hemisfério Sul (mas há, claro, que se atentar para a linha do tempo).
Por Kim Moody
Na Idade Média, levou mais ou menos uma década para a peste negra (ou peste bubônica) se espalhar da China, pelas estradas de seda e pelas conquistas mongóis, para a Europa. Depois, anos para passar da Sicília para a Grã-Bretanha e além, através de rotas comerciais estabelecidas e do movimento de exércitos durante a Guerra dos Cem Anos. Com o capitalismo bem estabelecido, a gripe espanhol" de 1918 se espalhou em meses da Espanha, passando pela França até a Grã-Bretanha em meados de junho e depois para os Estados Unidos e Canadá, em setembro. Em grande parte, seguiu o curso das linhas de batalha, movimentos de tropas e logística militar durante a Primeira Guerra Mundial.
Na era da logística “just in time”, levou apenas alguns dias para o coronavírus se espalhar de Wuhan para outras cidades chinesas a centenas de quilômetros de distância. Demorou apenas duas semanas para deixar a China, simultaneamente ao longo das principais cadeias de suprimentos, comércio e rotas de viagens aéreas para os enclaves industriais e comerciais do leste da Ásia, o Oriente Médio devastado pela guerra de produtores de petróleo, a Europa industrial, a América do Norte e o Brasil.
Em 3 de março, havia atingido 72 países. Seguindo as principais rotas da cadeia de suprimentos, inicialmente ignorou a maior parte da África e grande parte da América Latina, apesar de que, agora também tenha se mudado para esses continentes, com um risco potencial ainda maior à vida.
A pandemia viaja pelos circuitos do capital
Como observou o guru da logística do MIT, Yossi Sheffi, em seu livro The Power of Resilience, “a crescente interconectividade da economia global a torna cada vez mais propensa ao contágio. Eventos contagiosos, incluindo problemas médicos e financeiros, podem se espalhar por redes humanas que geralmente se correlacionam fortemente com as redes da cadeia de suprimentos”.
De fato, a consultora Dun & Bradstreet estima que 51 mil empresas em todo o mundo têm um ou mais fornecedores diretos em Wuhan, enquanto 938 das empresas da lista das mil mais destacadas da revista Fortune têm um ou dois fornecedores nessa região. A ênfase que foi colocada nas últimas duas ou três décadas na produção enxuta, na entrega “just in time” e, mais recentemente, na “concorrência com base no tempo”, juntamente com a atualização da infraestrutura do transporte e distribuição, acelerou a velocidade de transmissão.
Um especialista da Universidade Johns Hopkins que realiza estudos na Itália disse: “pensando em nossas cadeias de valor – ou na maneira como as indústrias produzem bens –, os europeus estão muito mais integrados entre si do que costumam pensar. Se um país europeu é seriamente afetado, o problema é transferido muito rapidamente para todos os outros”.
Isso explica porque o mapa de rastreamento do vírus da Johns Hopkins mostra as concentrações da infecção nos Estados Unidos. Os Estados Unidos refletem mapas semelhantes dos estudos da Brookings Institution sobre concentrações de manufatura, transporte e centros de armazenamento. Essa é outra indicação de que esse vírus passou pelos circuitos do capital e dos humanos que trabalham neles, e não apenas por uma transmissão aleatória da “comunidade”.
Curto-circuito nas cadeias de suprimentos
A escassez de equipamentos de proteção individual (EPI) em muitos países, principalmente as máscaras N95, essenciais para o trabalho seguro no setor da saúde, é o resultado de décadas de terceirização da produção. Empresas como 3M, Honeywell e Kimberley-Clark transferiram a produção para a China e outros países de baixa renda em busca de lucros mais altos.
O Washington Post documenta que “até 95% das máscaras cirúrgicas são feitas fora dos Estados Unidos, em lugares como China e México”. Como resultado, um dos principais distribuidores de suprimentos médicos observou em março: “a disponibilidade das máscaras N95 é estimada para abril-maio. Muitos são fabricados na China e pode haver atrasos adicionais”.
Não surpreendentemente, o ex-assessor de Trump e analista de direita Steve Bannon aproveitou a oportunidade para avançar em sua agenda xenofóbica. No entanto, o fracasso dos EUA ou de qualquer país em produzir equipamentos médicos de emergência dentro de um escopo razoável para empresas como a 3M para aumentar os lucros é claramente imoral e imprudente.
O impacto do vírus, por sua vez, logo se vingou das mesmas rotas pelas quais se espalhou, interrompendo a produção e as cadeias de suprimentos de maneiras complexas. No início de março, 9% das frotas de contêineres do mundo estavam ociosas e esse percentual certamente aumentou. A produção industrial chinesa caiu 22% em fevereiro, de acordo com um relatório da UNCTAD (sigla em inglês da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), em março.
O mesmo relatório mostra que os países ou regiões mais economicamente afetados pelas mudanças nas cadeias de valor globais originárias da China eram (em ordem de magnitude): União Europeia, Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul, Vietnã, Taiwan e Cingapura. Todos eles, afetados pelo vírus nos estágios iniciais. As exportações chinesas caíram 17% em janeiro e fevereiro. Em meados de março, o porto de Los Angeles operava em 50% e Long Beach entre 25% e 50%, principalmente devido ao fechamento de fábricas na China, segundo o Financial Times.
Espremendo trabalhadores essenciais
As respostas do governo dos Estados Unidos, em particular, foram projetadas para impulsionar a economia da única maneira que os políticos neoliberais e os “especialistas” do governo Trump sabem: subsidiar negócios e reduzir seus custos. Além do conhecido viés pró-negócios do pacote de “estímulo” de 2 trilhões de dólares dado por Trump, a reação do governo em apoio ao capital estadunidense. Os Estados Unidos incluíram uma ordem para os trabalhadores permanecessem em seus empregos, combinada com um tsunami de desregulamentação para as empresas.
A determinação do DHS (sigla em inglês Departamento de Segurança Interna), e não do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, que deve continuar a trabalhar como mão-de-obra “essencial”, é tão ampla que inclui virtualmente toda a maquinaria de trabalho com lucro capitalista. Inadvertidamente, é claro, o DHS nos lembrou o quão a classe trabalhadora como um todo é essencial para o funcionamento da sociedade.
Isso também é verdade para grandes empresas de alta tecnologia como a Amazon, que, por sua vez, nos diz constantemente que são os robôs que fazem tudo. Enquanto alguns trabalhadores da Amazon protestam e cerca de 30% ficam em casa, a empresa tenta contratar milhares de pessoas para preencher a lacuna. Como relata o New York Times: “apesar de toda a sua sofisticação e alta tecnologia, o vasto negócio de comércio eletrônico da Amazon conta com um exército de trabalhadores de armazém que agora temem estar contaminados com o coronavírus”.
Para aliviar ainda mais o ônus (ou seja, o custo) da regulamentação comercial, a Agência de Proteção Ambiental suspendeu toda a aplicação da regulamentação ambiental (apesar da atual crise climática), enquanto a Administração Federal de Trens emitiu uma isenção de emergência de vários regulamentos de segurança. O Conselho Nacional de Regulação de Trens suspendeu todas as eleições de representação sindical, incluindo as realizadas pelo correio.
A FMCSA (sigla em inglês da Administração Federal de Segurança de Transportadoras) concedeu “horas de serviço de ajuda regulatória a motoristas de veículos comerciais que transportam ajuda de emergência…”. Isso, é claro, significa mais horas na estrada. A lista de itens cobertos pelo FMCSA como ajuda de “emergência” é muito abrangente, incluindo matérias-primas, combustível, papel e produtos plásticos, além de suprimentos médicos diretos. Para caminhoneiros dentro e fora da cidade de Nova York, o epicentro do vírus nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, eles foram instruídos a continuar como de costume, mas a garantir que “se distanciassem socialmente” e lavassem as mãos.
Apesar da crise econômica – que começou mesmo antes da epidemia, e do fato de que os primeiros dezessete casos nos Estados Unidos foram oficialmente contabilizado em janeiro –, o Departamento de Estatísticas Trabalhistas informou que, desde fevereiro, o emprego não-agrícola fora da folha de pagamento havia aumentado e o desemprego era estável. Assistência médica, governo, serviços de alimentação, construção e, claro, serviços financeiros, aumentaram significativamente, enquanto “o emprego em outras grandes indústrias, incluindo mineração, manufatura, atacado, comércio varejo, transporte e armazenamento, e as informações mudaram pouco durante o mês”. O número médio de horas trabalhadas por semana aumentou 0,3% em fevereiro.
A Transport Topics, revista para donos de caminhões (que alugam os veículos para os verdadeiros motoristas, escreveu: “enquanto os Estados Unidos lutam contra o coronavírus e a vida cotidiana é interrompida, os caminhoneiros do país estão entre os que arriscam sua saúde pessoal e fazem o trabalho duro para manter os produtos em movimento em lojas, hospitais e outros lugares”. A ATA (sigla em inglês da Associação Americana de Caminhoneiros) informa que a tonelagem de caminhões aumentou 1,05% em janeiro e 1,8% em fevereiro, o que significa que os caminhoneiros são, de fato, os que estão arriscando sua saúde pessoal.
Embora o tráfego de frete ferroviário tenha diminuído nos últimos dois anos, a AAR (sigla em inglês da Associação Americana de Ferrovias) observa que três categorias de frete (produtos químicos, alimentos e cargas diversas) aumentaram em 2020, e que “os volumes intermodais das ferrovias que atendem aos portos da costa oeste que recebem a maior parte das importações da China parecem ter se estabilizado nas últimas quatro semanas, indicando que podemos ter visto o pior dos impactos da covid-19 no comércio asiático”.
Isso é altamente improvável. De fato, em março, trabalhadores das linhas de carga da Union Pacific e Canadian Pacific haviam contraído o vírus. O Serviço Postal dos Estados Unidos registrou 111 casos de covid-19, enquanto mais de 300 trabalhadores no sistema de trânsito da cidade de Nova York tiveram o vírus em abril. Uma nova economia “direta” está se tornando viral, já que empresas de entrega a domicílio, como Instacart, Amazon e Walmart, contratam aos milhares e acumulam grandes somas de dinheiro daqueles que estão assustados e isolados em suas casas.
Demissões em massa, desemprego na era da depressão e desigualdade viral
Sem dúvida, esse quadro mudará rapidamente à medida que o comércio mundial desacelera e mais e mais atividades são forçadas a desacelerar ou parar devido à doença, o “distanciamento social”, o fechamento e o auto isolamento. Por um lado, milhões de trabalhadores não terão escolha a não ser trabalhar mais horas, se arriscando a contrair a infecção, enquanto outros milhões enfrentam desemprego e pobreza. Mais do que o habitual, os trabalhadores são condenados se o fizerem, e também se não o fizerem.
Com uma queda repentina no emprego superior ao registrado em 2008, o Instituto de Política Econômica estima que, em julho, cerca de 20 milhões de empregos serão perdidos. Já existem 10 milhões de trabalhadores que solicitaram seguro-desemprego no início de abril. O New York Times estima que a taxa de desemprego já é de 13%, a maior taxa oficial desde a Grande Depressão da década de 1930. Além disso, como afirma o economista Michael Roberts, isso é, provavelmente, apenas o começo de uma recessão global mais profunda.
No entanto, o fato de tantos terem que continuar trabalhando para empregadores privados durante a epidemia nos lembra, ao mesmo tempo, que o desejo do capital de continuar lucrando depende desses trabalhadores, enquanto a “compulsão silenciosa das relações econômicas” ao enfrentar a maioria dos trabalhadores que são forçados a viver “de um salário a outro” está vivo e bem nessa mortal crise de saúde.
Além disso, embora alguns gostem de dizer que o coronavírus não discrimina – afinal, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson teve que passar pela unidade de terapia intensiva no momento da redação deste relatório – seu impacto é altamente desigual. Na New York devastada por vírus, o New York Times relata: “dos 20 bairros com a menor porcentagem de testes positivos, 19 estão entre os mais ricos”.
Como explicam os especialistas do observatório de propagação do vírus da Universidade Johns Hopkins: “embora frustrantes, mas administráveis para muitas pessoas, as consequências econômicas do distanciamento social são brutais para os membros mais pobres, vulneráveis e marginalizados de nossa sociedade”.
Os mais afetados incluem aqueles que estão na parte inferior das cadeias de produção de alimentos do país, trabalhadores agrícolas e aqueles em armazéns de todo o país que coletam e movimentam colheitas, a maioria deles durante a temporada. A maioria desses trabalhadores é imigrante sem documentação. Ironicamente, ou cinicamente, eles foram declarados trabalhadores essenciais, indicando que a economia depende deles, para permaneçam em seu local de trabalho, onde são vulneráveis ao vírus.
Ao mesmo tempo, eles ainda estão sujeitos a deportação. Às vezes, recebem cartas de empregadores que os declaram essenciais para viajar para o trabalho, mas não protegem contra a deportação, principalmente quando deixam de ser essenciais aos olhos do governo ou quando a temporada termina. É um escândalo que os Estados Unidos não tenham concedido a eles e a outros nesta posição residência legal, como o governo português fez.
Luta de classes em tempos de pandemia e recessão
Dois temas se destacam na grande maioria dos protestos de trabalhadores em todo o mundo: licença remunerada e equipamento de proteção individual, as duas questões cruciais da luta de classes em época de pandemia. O pacote de coronavírus do congresso estadunidense exige duas semanas de licença remunerada aos portadores do vírus, mas apenas para trabalhadores de empresas com menos de 500 funcionários. Isso exclui quase metade da força de trabalho do setor privado.
Trabalhadores de call centers, serviços de entrega, hospitais, ferrovias e outros locais exigem licença remunerada e equipamento de proteção individual, mas os empregadores que falam sobre segurança, na verdade, não entregam o que os trabalhadores precisam imediatamente.
O Sindicato dos Ferroviários, assim como outros sindicatos de base, divulgou uma resolução exigindo esses elementos essenciais. Uma petição feita pelos caminhoneiros por uma União Democrática, há duas semanas, pede licença remunerada para os funcionários da UPS se eles, ou algum membro de sua família, for contagiado pelo vírus. Os funcionários da Starbucks pediram que não fossem declarados “essenciais”, e que a licença fosse paga.
Os funcionários de entrega, varejo e armazéns deram um passo adiante na luta pelos dois direitos. Membros do comércio em greve nas lojas de Ohio exigiram licença médica paga. Caminhoneiros de um armazém da Kroger em Memphis se rebelaram depois que um colega de trabalho foi diagnosticado com coronavírus.
Ações semelhantes ocorreram nas instalações do McDonald's em Tampa, St. Louis, Memphis, Los Angeles e San José, enquanto trabalhadores da Amazon em Staten Island abandonaram as tarefas na segunda-feira, 30 de março. A Amazon finalmente concedeu licença aos trabalhadores do armazém, depois que os de Chicago solicitaram e abandonaram o trabalho em nome de sua licença remunerada.
Os trabalhadores da manufatura também se rebelaram: 50 avicultores não sindicalizados de uma fábrica da Perdue Farms na Geórgia abandonaram as funções, declarando que estavam cansados de “arriscar nossas vidas por frango”. Metade dos trabalhadores do estaleiro Bath da General Dynamics também abandonou as tarefas quando um trabalhador pegou o vírus.
Os trabalhadores da Fiat-Chrysler em Sterling Heights, Michigan e Windsor, Ontário exigiram o fechamento de suas fábricas. Os fabricantes de autopeças da American Axle também pararam de trabalhar para exigir licença remunerada. As instalações da General Electric exigiram não apenas equipamento de proteção, mas também que a empresa alterasse a produção normal e usasse plantas ociosas para produzir respiradores necessários para as vítimas de coronavírus.
Naturalmente, os trabalhadores da educação combativa dos Estados Unidos desempenharam um papel de liderança na luta pela proteção. O Sindicato dos Professores de Chicago e os trabalhadores da SEIU Healthcare daquela cidade uniram forças para exigir quinze dias de licença remunerada e entrega em domicílio de alimentos.
O sindicato dos professores de Los Angeles pediu “um subsídio semanal de desastre para os pais ficarem em casa com seus filhos”. Professores da cidade de Nova York, do MORE “Movimento de Educadores da Base de Professores da Federação das Nações Unidas) organizaram uma saída de emergência e ajudaram a forçar a cidade a fechar as escolas.
Os profissionais de saúde dos caminhoneiros em Pittsburgh pararam de recolher o lixo, exigindo equipamento de proteção. Os profissionais de saúde canadenses em Hamilton, Ontário, abandonaram suas tarefas, também exigindo proteção, e que o lixo orgânico fosse ensacado antes da coleta. Os motoristas de ônibus de Birmingham, Alabama, se recusaram a dirigir nas rotas regulares até que a gerência concordasse em fornecer equipamento, parar de controlar o troco e fornecer licenças pagas para os portadores do vírus.
Aprendendo novos hábitos de luta
A disseminação do coronavírus ajudou a revelar que os locais de trabalho atuais estão vinculados por várias redes. Trump tenta manter a economia fazendo com que o Departamento de Segurança Interna redefina quase todos os trabalhadores como “essenciais”. Isso deixa claro que os circuitos de capital e trabalho conectam trabalhadores em todo o mundo e cidades.
Os fabricantes chineses de máscaras N95 se conectam com enfermeiras da cidade de Nova York, funcionários da Amazon em Will County, Illinois e motoristas da UPS em Chicago. Trabalhadores ferroviários, caminhões e correios se conectam com quase todo mundo. As ações dos trabalhadores, mesmo que limitadas, podem ter um impacto além do local de trabalho imediato no mundo do “just in time”.
Nenhum bem pode ser produzido ou serviços podem ser prestados se os produtos que permitem essas atividades não forem fabricados e se não for utilizado trabalho. Se os circuitos de capital e trabalho ajudaram a espalhar essa doença, as ações dos trabalhadores ao longo dessa cadeia também podem contribuir para criar uma nova ordem de relações de força entre as classes como consequência da epidemia.
Assim como muitas pessoas mostraram solidariedade desinteressada com outras pessoas nesta crise, também será necessária a solidariedade nas esferas trabalhista, industrial, ocupacional e nacional para lutar por um mundo melhor na era pós-pandêmica.
“Nada será o mesmo”, dizem muitos. Com certeza, haverá grandes mudanças, contudo, a menos que sejam movidas de baixo para cima, pelas ações da grande maioria, é mais provável que sejam do tipo “você precisa mudar alguma coisa para que nada mude”. As empresas serão reformuladas à medida que muitas afundarem, as fusões serão abundantes, as cadeias de suprimentos serão simplificadas, a mão-de-obra será cortada, os fundos do governo serão destinados aos cofres corporativos e os lucros serão revitalizados.
Mas é improvável que abandonem suas prerrogativas gerenciais ou sua visão de curto prazo. Governos conservadores e liberais gastarão como keynesianos em tempos de guerra para aumentar os lucros das empresas.
Mas eles substituirão os ganhos perdidos de milhões de trabalhadores? Eles permitirão representação sindical? Além disso, os regulamentos ambientais e de segurança desengatados que eles colocaram em uma “moratória” voltarão a vigorar? Além disso, eles vão se preparar para uma próxima epidemia ou tomarão medidas reais para evitar a catástrofe climática?
A menos que haja uma grande ascensão a partir de baixo, as relações de poder inerentes às relações sociais de produção do capitalismo e sua extensão através da “sociedade civil” e do governo serão reafirmadas, como aconteceu após 2008. Apesar das esperanças de muitos e das diferenças óbvias entre os candidatos, a norma nos Estados Unidos é a política a serviço dos capitalistas. Serão responsáveis por garantir isso em maior ou menor grau, independentemente de quem vencer as eleições em novembro. Caberá a esses trabalhadores “essenciais” criar um novo equilíbrio de poder social e um mundo saudável e sustentável. - (Carta Maior - Aqui).
Crise mundial coronavírus: o mundo, nesta data, 27.04, chega a 3 milhões de casos. Os Estados Unidos respondem por 32% de tal contingente e 23% de todos os óbitos. Só a cidade de Nova York registrou até agora mais casos e mais mortes do que os observados no Hemisfério Sul (mas há, claro, que se atentar para a linha do tempo).
Por Kim Moody
Na Idade Média, levou mais ou menos uma década para a peste negra (ou peste bubônica) se espalhar da China, pelas estradas de seda e pelas conquistas mongóis, para a Europa. Depois, anos para passar da Sicília para a Grã-Bretanha e além, através de rotas comerciais estabelecidas e do movimento de exércitos durante a Guerra dos Cem Anos. Com o capitalismo bem estabelecido, a gripe espanhol" de 1918 se espalhou em meses da Espanha, passando pela França até a Grã-Bretanha em meados de junho e depois para os Estados Unidos e Canadá, em setembro. Em grande parte, seguiu o curso das linhas de batalha, movimentos de tropas e logística militar durante a Primeira Guerra Mundial.
Na era da logística “just in time”, levou apenas alguns dias para o coronavírus se espalhar de Wuhan para outras cidades chinesas a centenas de quilômetros de distância. Demorou apenas duas semanas para deixar a China, simultaneamente ao longo das principais cadeias de suprimentos, comércio e rotas de viagens aéreas para os enclaves industriais e comerciais do leste da Ásia, o Oriente Médio devastado pela guerra de produtores de petróleo, a Europa industrial, a América do Norte e o Brasil.
Em 3 de março, havia atingido 72 países. Seguindo as principais rotas da cadeia de suprimentos, inicialmente ignorou a maior parte da África e grande parte da América Latina, apesar de que, agora também tenha se mudado para esses continentes, com um risco potencial ainda maior à vida.
A pandemia viaja pelos circuitos do capital
Como observou o guru da logística do MIT, Yossi Sheffi, em seu livro The Power of Resilience, “a crescente interconectividade da economia global a torna cada vez mais propensa ao contágio. Eventos contagiosos, incluindo problemas médicos e financeiros, podem se espalhar por redes humanas que geralmente se correlacionam fortemente com as redes da cadeia de suprimentos”.
De fato, a consultora Dun & Bradstreet estima que 51 mil empresas em todo o mundo têm um ou mais fornecedores diretos em Wuhan, enquanto 938 das empresas da lista das mil mais destacadas da revista Fortune têm um ou dois fornecedores nessa região. A ênfase que foi colocada nas últimas duas ou três décadas na produção enxuta, na entrega “just in time” e, mais recentemente, na “concorrência com base no tempo”, juntamente com a atualização da infraestrutura do transporte e distribuição, acelerou a velocidade de transmissão.
Um especialista da Universidade Johns Hopkins que realiza estudos na Itália disse: “pensando em nossas cadeias de valor – ou na maneira como as indústrias produzem bens –, os europeus estão muito mais integrados entre si do que costumam pensar. Se um país europeu é seriamente afetado, o problema é transferido muito rapidamente para todos os outros”.
Isso explica porque o mapa de rastreamento do vírus da Johns Hopkins mostra as concentrações da infecção nos Estados Unidos. Os Estados Unidos refletem mapas semelhantes dos estudos da Brookings Institution sobre concentrações de manufatura, transporte e centros de armazenamento. Essa é outra indicação de que esse vírus passou pelos circuitos do capital e dos humanos que trabalham neles, e não apenas por uma transmissão aleatória da “comunidade”.
Curto-circuito nas cadeias de suprimentos
A escassez de equipamentos de proteção individual (EPI) em muitos países, principalmente as máscaras N95, essenciais para o trabalho seguro no setor da saúde, é o resultado de décadas de terceirização da produção. Empresas como 3M, Honeywell e Kimberley-Clark transferiram a produção para a China e outros países de baixa renda em busca de lucros mais altos.
O Washington Post documenta que “até 95% das máscaras cirúrgicas são feitas fora dos Estados Unidos, em lugares como China e México”. Como resultado, um dos principais distribuidores de suprimentos médicos observou em março: “a disponibilidade das máscaras N95 é estimada para abril-maio. Muitos são fabricados na China e pode haver atrasos adicionais”.
Não surpreendentemente, o ex-assessor de Trump e analista de direita Steve Bannon aproveitou a oportunidade para avançar em sua agenda xenofóbica. No entanto, o fracasso dos EUA ou de qualquer país em produzir equipamentos médicos de emergência dentro de um escopo razoável para empresas como a 3M para aumentar os lucros é claramente imoral e imprudente.
O impacto do vírus, por sua vez, logo se vingou das mesmas rotas pelas quais se espalhou, interrompendo a produção e as cadeias de suprimentos de maneiras complexas. No início de março, 9% das frotas de contêineres do mundo estavam ociosas e esse percentual certamente aumentou. A produção industrial chinesa caiu 22% em fevereiro, de acordo com um relatório da UNCTAD (sigla em inglês da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), em março.
O mesmo relatório mostra que os países ou regiões mais economicamente afetados pelas mudanças nas cadeias de valor globais originárias da China eram (em ordem de magnitude): União Europeia, Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul, Vietnã, Taiwan e Cingapura. Todos eles, afetados pelo vírus nos estágios iniciais. As exportações chinesas caíram 17% em janeiro e fevereiro. Em meados de março, o porto de Los Angeles operava em 50% e Long Beach entre 25% e 50%, principalmente devido ao fechamento de fábricas na China, segundo o Financial Times.
Espremendo trabalhadores essenciais
As respostas do governo dos Estados Unidos, em particular, foram projetadas para impulsionar a economia da única maneira que os políticos neoliberais e os “especialistas” do governo Trump sabem: subsidiar negócios e reduzir seus custos. Além do conhecido viés pró-negócios do pacote de “estímulo” de 2 trilhões de dólares dado por Trump, a reação do governo em apoio ao capital estadunidense. Os Estados Unidos incluíram uma ordem para os trabalhadores permanecessem em seus empregos, combinada com um tsunami de desregulamentação para as empresas.
A determinação do DHS (sigla em inglês Departamento de Segurança Interna), e não do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, que deve continuar a trabalhar como mão-de-obra “essencial”, é tão ampla que inclui virtualmente toda a maquinaria de trabalho com lucro capitalista. Inadvertidamente, é claro, o DHS nos lembrou o quão a classe trabalhadora como um todo é essencial para o funcionamento da sociedade.
Isso também é verdade para grandes empresas de alta tecnologia como a Amazon, que, por sua vez, nos diz constantemente que são os robôs que fazem tudo. Enquanto alguns trabalhadores da Amazon protestam e cerca de 30% ficam em casa, a empresa tenta contratar milhares de pessoas para preencher a lacuna. Como relata o New York Times: “apesar de toda a sua sofisticação e alta tecnologia, o vasto negócio de comércio eletrônico da Amazon conta com um exército de trabalhadores de armazém que agora temem estar contaminados com o coronavírus”.
Para aliviar ainda mais o ônus (ou seja, o custo) da regulamentação comercial, a Agência de Proteção Ambiental suspendeu toda a aplicação da regulamentação ambiental (apesar da atual crise climática), enquanto a Administração Federal de Trens emitiu uma isenção de emergência de vários regulamentos de segurança. O Conselho Nacional de Regulação de Trens suspendeu todas as eleições de representação sindical, incluindo as realizadas pelo correio.
A FMCSA (sigla em inglês da Administração Federal de Segurança de Transportadoras) concedeu “horas de serviço de ajuda regulatória a motoristas de veículos comerciais que transportam ajuda de emergência…”. Isso, é claro, significa mais horas na estrada. A lista de itens cobertos pelo FMCSA como ajuda de “emergência” é muito abrangente, incluindo matérias-primas, combustível, papel e produtos plásticos, além de suprimentos médicos diretos. Para caminhoneiros dentro e fora da cidade de Nova York, o epicentro do vírus nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, eles foram instruídos a continuar como de costume, mas a garantir que “se distanciassem socialmente” e lavassem as mãos.
Apesar da crise econômica – que começou mesmo antes da epidemia, e do fato de que os primeiros dezessete casos nos Estados Unidos foram oficialmente contabilizado em janeiro –, o Departamento de Estatísticas Trabalhistas informou que, desde fevereiro, o emprego não-agrícola fora da folha de pagamento havia aumentado e o desemprego era estável. Assistência médica, governo, serviços de alimentação, construção e, claro, serviços financeiros, aumentaram significativamente, enquanto “o emprego em outras grandes indústrias, incluindo mineração, manufatura, atacado, comércio varejo, transporte e armazenamento, e as informações mudaram pouco durante o mês”. O número médio de horas trabalhadas por semana aumentou 0,3% em fevereiro.
A Transport Topics, revista para donos de caminhões (que alugam os veículos para os verdadeiros motoristas, escreveu: “enquanto os Estados Unidos lutam contra o coronavírus e a vida cotidiana é interrompida, os caminhoneiros do país estão entre os que arriscam sua saúde pessoal e fazem o trabalho duro para manter os produtos em movimento em lojas, hospitais e outros lugares”. A ATA (sigla em inglês da Associação Americana de Caminhoneiros) informa que a tonelagem de caminhões aumentou 1,05% em janeiro e 1,8% em fevereiro, o que significa que os caminhoneiros são, de fato, os que estão arriscando sua saúde pessoal.
Embora o tráfego de frete ferroviário tenha diminuído nos últimos dois anos, a AAR (sigla em inglês da Associação Americana de Ferrovias) observa que três categorias de frete (produtos químicos, alimentos e cargas diversas) aumentaram em 2020, e que “os volumes intermodais das ferrovias que atendem aos portos da costa oeste que recebem a maior parte das importações da China parecem ter se estabilizado nas últimas quatro semanas, indicando que podemos ter visto o pior dos impactos da covid-19 no comércio asiático”.
Isso é altamente improvável. De fato, em março, trabalhadores das linhas de carga da Union Pacific e Canadian Pacific haviam contraído o vírus. O Serviço Postal dos Estados Unidos registrou 111 casos de covid-19, enquanto mais de 300 trabalhadores no sistema de trânsito da cidade de Nova York tiveram o vírus em abril. Uma nova economia “direta” está se tornando viral, já que empresas de entrega a domicílio, como Instacart, Amazon e Walmart, contratam aos milhares e acumulam grandes somas de dinheiro daqueles que estão assustados e isolados em suas casas.
Demissões em massa, desemprego na era da depressão e desigualdade viral
Sem dúvida, esse quadro mudará rapidamente à medida que o comércio mundial desacelera e mais e mais atividades são forçadas a desacelerar ou parar devido à doença, o “distanciamento social”, o fechamento e o auto isolamento. Por um lado, milhões de trabalhadores não terão escolha a não ser trabalhar mais horas, se arriscando a contrair a infecção, enquanto outros milhões enfrentam desemprego e pobreza. Mais do que o habitual, os trabalhadores são condenados se o fizerem, e também se não o fizerem.
Com uma queda repentina no emprego superior ao registrado em 2008, o Instituto de Política Econômica estima que, em julho, cerca de 20 milhões de empregos serão perdidos. Já existem 10 milhões de trabalhadores que solicitaram seguro-desemprego no início de abril. O New York Times estima que a taxa de desemprego já é de 13%, a maior taxa oficial desde a Grande Depressão da década de 1930. Além disso, como afirma o economista Michael Roberts, isso é, provavelmente, apenas o começo de uma recessão global mais profunda.
No entanto, o fato de tantos terem que continuar trabalhando para empregadores privados durante a epidemia nos lembra, ao mesmo tempo, que o desejo do capital de continuar lucrando depende desses trabalhadores, enquanto a “compulsão silenciosa das relações econômicas” ao enfrentar a maioria dos trabalhadores que são forçados a viver “de um salário a outro” está vivo e bem nessa mortal crise de saúde.
Além disso, embora alguns gostem de dizer que o coronavírus não discrimina – afinal, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson teve que passar pela unidade de terapia intensiva no momento da redação deste relatório – seu impacto é altamente desigual. Na New York devastada por vírus, o New York Times relata: “dos 20 bairros com a menor porcentagem de testes positivos, 19 estão entre os mais ricos”.
Como explicam os especialistas do observatório de propagação do vírus da Universidade Johns Hopkins: “embora frustrantes, mas administráveis para muitas pessoas, as consequências econômicas do distanciamento social são brutais para os membros mais pobres, vulneráveis e marginalizados de nossa sociedade”.
Os mais afetados incluem aqueles que estão na parte inferior das cadeias de produção de alimentos do país, trabalhadores agrícolas e aqueles em armazéns de todo o país que coletam e movimentam colheitas, a maioria deles durante a temporada. A maioria desses trabalhadores é imigrante sem documentação. Ironicamente, ou cinicamente, eles foram declarados trabalhadores essenciais, indicando que a economia depende deles, para permaneçam em seu local de trabalho, onde são vulneráveis ao vírus.
Ao mesmo tempo, eles ainda estão sujeitos a deportação. Às vezes, recebem cartas de empregadores que os declaram essenciais para viajar para o trabalho, mas não protegem contra a deportação, principalmente quando deixam de ser essenciais aos olhos do governo ou quando a temporada termina. É um escândalo que os Estados Unidos não tenham concedido a eles e a outros nesta posição residência legal, como o governo português fez.
Luta de classes em tempos de pandemia e recessão
Dois temas se destacam na grande maioria dos protestos de trabalhadores em todo o mundo: licença remunerada e equipamento de proteção individual, as duas questões cruciais da luta de classes em época de pandemia. O pacote de coronavírus do congresso estadunidense exige duas semanas de licença remunerada aos portadores do vírus, mas apenas para trabalhadores de empresas com menos de 500 funcionários. Isso exclui quase metade da força de trabalho do setor privado.
Trabalhadores de call centers, serviços de entrega, hospitais, ferrovias e outros locais exigem licença remunerada e equipamento de proteção individual, mas os empregadores que falam sobre segurança, na verdade, não entregam o que os trabalhadores precisam imediatamente.
O Sindicato dos Ferroviários, assim como outros sindicatos de base, divulgou uma resolução exigindo esses elementos essenciais. Uma petição feita pelos caminhoneiros por uma União Democrática, há duas semanas, pede licença remunerada para os funcionários da UPS se eles, ou algum membro de sua família, for contagiado pelo vírus. Os funcionários da Starbucks pediram que não fossem declarados “essenciais”, e que a licença fosse paga.
Os funcionários de entrega, varejo e armazéns deram um passo adiante na luta pelos dois direitos. Membros do comércio em greve nas lojas de Ohio exigiram licença médica paga. Caminhoneiros de um armazém da Kroger em Memphis se rebelaram depois que um colega de trabalho foi diagnosticado com coronavírus.
Ações semelhantes ocorreram nas instalações do McDonald's em Tampa, St. Louis, Memphis, Los Angeles e San José, enquanto trabalhadores da Amazon em Staten Island abandonaram as tarefas na segunda-feira, 30 de março. A Amazon finalmente concedeu licença aos trabalhadores do armazém, depois que os de Chicago solicitaram e abandonaram o trabalho em nome de sua licença remunerada.
Os trabalhadores da manufatura também se rebelaram: 50 avicultores não sindicalizados de uma fábrica da Perdue Farms na Geórgia abandonaram as funções, declarando que estavam cansados de “arriscar nossas vidas por frango”. Metade dos trabalhadores do estaleiro Bath da General Dynamics também abandonou as tarefas quando um trabalhador pegou o vírus.
Os trabalhadores da Fiat-Chrysler em Sterling Heights, Michigan e Windsor, Ontário exigiram o fechamento de suas fábricas. Os fabricantes de autopeças da American Axle também pararam de trabalhar para exigir licença remunerada. As instalações da General Electric exigiram não apenas equipamento de proteção, mas também que a empresa alterasse a produção normal e usasse plantas ociosas para produzir respiradores necessários para as vítimas de coronavírus.
Naturalmente, os trabalhadores da educação combativa dos Estados Unidos desempenharam um papel de liderança na luta pela proteção. O Sindicato dos Professores de Chicago e os trabalhadores da SEIU Healthcare daquela cidade uniram forças para exigir quinze dias de licença remunerada e entrega em domicílio de alimentos.
O sindicato dos professores de Los Angeles pediu “um subsídio semanal de desastre para os pais ficarem em casa com seus filhos”. Professores da cidade de Nova York, do MORE “Movimento de Educadores da Base de Professores da Federação das Nações Unidas) organizaram uma saída de emergência e ajudaram a forçar a cidade a fechar as escolas.
Os profissionais de saúde dos caminhoneiros em Pittsburgh pararam de recolher o lixo, exigindo equipamento de proteção. Os profissionais de saúde canadenses em Hamilton, Ontário, abandonaram suas tarefas, também exigindo proteção, e que o lixo orgânico fosse ensacado antes da coleta. Os motoristas de ônibus de Birmingham, Alabama, se recusaram a dirigir nas rotas regulares até que a gerência concordasse em fornecer equipamento, parar de controlar o troco e fornecer licenças pagas para os portadores do vírus.
Aprendendo novos hábitos de luta
A disseminação do coronavírus ajudou a revelar que os locais de trabalho atuais estão vinculados por várias redes. Trump tenta manter a economia fazendo com que o Departamento de Segurança Interna redefina quase todos os trabalhadores como “essenciais”. Isso deixa claro que os circuitos de capital e trabalho conectam trabalhadores em todo o mundo e cidades.
Os fabricantes chineses de máscaras N95 se conectam com enfermeiras da cidade de Nova York, funcionários da Amazon em Will County, Illinois e motoristas da UPS em Chicago. Trabalhadores ferroviários, caminhões e correios se conectam com quase todo mundo. As ações dos trabalhadores, mesmo que limitadas, podem ter um impacto além do local de trabalho imediato no mundo do “just in time”.
Nenhum bem pode ser produzido ou serviços podem ser prestados se os produtos que permitem essas atividades não forem fabricados e se não for utilizado trabalho. Se os circuitos de capital e trabalho ajudaram a espalhar essa doença, as ações dos trabalhadores ao longo dessa cadeia também podem contribuir para criar uma nova ordem de relações de força entre as classes como consequência da epidemia.
Assim como muitas pessoas mostraram solidariedade desinteressada com outras pessoas nesta crise, também será necessária a solidariedade nas esferas trabalhista, industrial, ocupacional e nacional para lutar por um mundo melhor na era pós-pandêmica.
“Nada será o mesmo”, dizem muitos. Com certeza, haverá grandes mudanças, contudo, a menos que sejam movidas de baixo para cima, pelas ações da grande maioria, é mais provável que sejam do tipo “você precisa mudar alguma coisa para que nada mude”. As empresas serão reformuladas à medida que muitas afundarem, as fusões serão abundantes, as cadeias de suprimentos serão simplificadas, a mão-de-obra será cortada, os fundos do governo serão destinados aos cofres corporativos e os lucros serão revitalizados.
Mas é improvável que abandonem suas prerrogativas gerenciais ou sua visão de curto prazo. Governos conservadores e liberais gastarão como keynesianos em tempos de guerra para aumentar os lucros das empresas.
Mas eles substituirão os ganhos perdidos de milhões de trabalhadores? Eles permitirão representação sindical? Além disso, os regulamentos ambientais e de segurança desengatados que eles colocaram em uma “moratória” voltarão a vigorar? Além disso, eles vão se preparar para uma próxima epidemia ou tomarão medidas reais para evitar a catástrofe climática?
A menos que haja uma grande ascensão a partir de baixo, as relações de poder inerentes às relações sociais de produção do capitalismo e sua extensão através da “sociedade civil” e do governo serão reafirmadas, como aconteceu após 2008. Apesar das esperanças de muitos e das diferenças óbvias entre os candidatos, a norma nos Estados Unidos é a política a serviço dos capitalistas. Serão responsáveis por garantir isso em maior ou menor grau, independentemente de quem vencer as eleições em novembro. Caberá a esses trabalhadores “essenciais” criar um novo equilíbrio de poder social e um mundo saudável e sustentável. - (Carta Maior - Aqui).
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