Para ter uma visão sobre as pretensões da China e o que ela representa(rá) para o mundo, sob a direção 'ampla, geral e irrestrita' de Xi Jinping. Maior credora dos Estados Unidos, titular da nova moeda reinante nas transações com a Rússia e outros, maior parceira comercial do Brasil (desbancando os EUA), atenta a tudo o que represente oportunidade negocial mundo afora (ver NOTA na parte final deste post) - e extremamente ciosa da necessidade de preservar suas próprias riquezas, como fazem os países que se prezam. Empenhada em combater desigualdades sociais, com resultados expressivos, e, nos últimos anos, em finalmente combater a poluição ambiental.
Mapa da estrada de Xi rumo ao Sonho Chinês
Por Pepe Escobar
A Iniciativa Cinturão e Estrada da China – a Nova Rota da Seda – disparará o desenvolvimento e converterá em realidade o sonho do país.
Agora que o presidente Xi Jinping já foi devidamente elevado ao Panteão do Partido Comunista da China, na rarefeita companhia do Pensamento de Mao Zedon e da Teoria de Deng Xiaoping, o mundo terá tempo de sobra para digerir o significado do "Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era".
O próprio Xi, em discurso de três horas e meia na abertura do 19º Congresso do Partido, apontou para uma bastante simplificada "democracia socialista" – exaltando as virtudes dela como único contramodelo à democracia liberal ocidental. Economicamente, ainda se pode discutir se tudo isso não cheira mais a "neoliberalismo com características chinesas".
Foram assentadas as metas a alcançar para a China, no futuro imediato.
- "Sociedade moderadamente próspera", até 2020.
- Nação basicamente modernizada até 2035.
- Nação socialista rica e poderosa até 2050.
O próprio Xi, desde 2013, já encapsulara num mantra todo o processo: o "Sonho Chinês". O sonho deve converter-se em realidade em pouco mais de 30 anos. O inexorável impulso de modernização desencadeado pelas reformas de Deng durou um pouco menos que quatro décadas. A história recente nos diz que nada leva a crer que a fase 2 desse Renascimento Chinês sísmico não venha a ser cumprida.
Xi enfatizou que "os sonhos do povo chinês e de outros povos pelo mundo estão intimamente conectados. Não será possível realizar o Sonho Chinês sem ambiente internacional pacífico e ordem internacional estável."
Mencionou muito rapidamente que as Novas Rotas da Seda, hoje chamadas Iniciativa Cinturão e Estrada, ICE, "criaram ambiente favorável para o desenvolvimento integrado do país". Não elaborou sobre a ambição e objetivos extraordinários da ICE, como faz em todos os grandes encontros internacionais e fez também em Davos, no início desse ano.
Mas mesmo assim estava implícito que para chegar ao que Xi define como uma "comunidade de destino comum para a humanidade", a ICE é a mais radical ferramenta da China. A ICE – instrumento geopolítico e geoeconômico concebido para mudar o jogo – é, de fato, o conceito de Xi e da China que organiza a política exterior e deve levar o país até 2050.
Xi compreendeu claramente que ser líder global implica prover em nível top, sobretudo para o Sul global, conectividade, financiamento para infraestrutura, assistência técnica abrangente, máquinas de construção e miríades de outros itens da pompa e circunstância da "modernização".
E absolutamente não incomoda que essa investida de negócios/comércio/investimento ajude a internacionalizar o yuan.
É fácil esquecer que a ICE, movimento sem paralelo de investida a favor da conectividade multinacional, concebido para ligar economicamente todos os pontos Ásia a Europa e África, foi anunciada há apenas três anos em Astana (Ásia Central) e Jakarta (Sudeste da Ásia).
Mapa: Iniciativa Cinturão (Econômico da Rota da Seda) e Estradas (da Rota Marítima da Seda) do século 21
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O que se conheceu originalmente como Iniciativa Cinturão (Econômico da Rota da Seda) e Estradas (da Rota Marítima da Seda) do século 21 foi aprovado pelo 3º Pleno do 18º Comitê Central do Partido Comunista da China em novembro de 2013. Só depois de divulgado um documento oficial intitulado "Visões e Ações na Construção Conjunta da Iniciativa Cinturão (Econômico da Rota da Seda) e Estradas (da Rota Marítima da Seda) do século 21", em março de 2015, todo o projeto passou afinal a ser designado como Iniciativa Cinturão e Estradas, ICE.
Segundo o cronograma chinês oficial, estamos apenas no início da fase 2. A fase 1, de 2013 a 2016, foi "mobilização". "Planejamento", de 2016 a 2021, está começando (e isso explica por que há poucos grandes projetos já online). E a "implementação" deve começar em 2021, apenas um ano antes do final do novo mandato de Xi, e prosseguirá até 2049.
O horizonte portanto é 2050, coincidindo com o sonho de Xi de uma "nação socialista rica e poderosa". Simplesmente não se encontra no mercado global outro programa assim abrangente, inclusivo, de amplo alcance e financeiramente sólido de desenvolvimento. Com certeza o Corredor de Crescimento Ásia-África [ing. Asia-Africa Growth Corridor (AAGC)] da Índia não chega sequer perto.
Pego minha ICE e saio a viajar
Começa com Hong Kong. Quando Xi disse "Continuaremos a apoiar Hong Kong e Macau na integração de seu próprio desenvolvimento no desenvolvimento geral do país", falava de Hong Kong configurada como nodo crucial de financiamento da ICE – o novo papel, depois do passado recente de facilitador de negócios entre a China e o Ocidente.
Hong Kong tem o necessário: moeda conversível; total mobilidade para os capitais; estado de direito; nenhum imposto sobre lucros, dividendos e ganhos de capital; total acesso à poupança/aos mercados de capital da China; e por fim, mas não por menos importante, o apoio de Pequim.
Entra em cena o sonho de miríades de pacotes de financiamento (público-privados; equity-debt; papéis de curto e de longo prazo). O papel de Hong Kong na ICE será o de centro financeiro internacional do Pacote Total (capitais de risco;private equity; flutuação de ações e bônus; banking de investimento; fusões e aquisições; resseguro) interconectado com a Área da Baía Expandida [ing. Greater Bay Area] – as 11 cidades (inclusive Guangzhou e Xenzhen) do Delta do Rio Pérola (manufatura leve/pesada; capitalistas das empresas hi-tech de risco, start-ups, investidores, universidades de pesquisa de ponta).
Isso se conecta muito bem com a ênfase que Xi deu à inovação: "Fortaleceremos a pesquisa básica em ciências aplicadas, lançaremos grandes projetos nacionais de ciência e tecnologia, e priorizaremos a inovação em tecnologias genéricas chaves, tecnologias de ponta, modernas tecnologias de engenharia e tecnologias inovadoras."
A integração da Área da Baía Expandida deve inspirar, alimentar e em alguns casos mesmo modelar alguns dos projetos chaves da ICE. A Ponte Eurasiana de Terra de Xinjiang à Rússia Ocidental (China e Cazaquistão estão ativamente turbinando sua zona franca comum em Khorgos). O corredor econômico China-Mongólia-Rússia. A conexão dos '-stões' Centro-asiáticos com a Ásia Ocidental – Irã e Turquia. O Corredor Econômico China-Paquistão [ing. China-Pakistan Economic Corridor (CPEC)] de Xinjiang diretamente até o porto de Gwadar no Mar da Arábia – capaz de disparar uma "revolução econômica", palavras de Islamabad. O corredor China-Indochina, de Kunming até Cingapura. O corredor Bangladesh-China-Índia-Myanmar (BCIM) (assumindo-se que a Índia não o boicote). A Rota Marítima da Seda, da costa sudeste da China diretamente até o Mediterrâneo, de Pireus a Veneza.
Trens de carga Yiwu-Londres, trens de carga Xangai-Teerã, o gasoduto Turcomenistão- Xinjiang – esses já são fatos em solo. Ao longo do caminho, as tecnologias e ferramentas de infraestrutura de conectividade – aplicada a redes de ferrovias de alta velocidade, usinas de energia, fazendas de produção de energia solar, rodovias expressas, pontes, portos, oleodutos e gasodutos – serão intimamente conectadas com o financiamento pelo Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura, BAII e os imperativos da cooperação econômico e de segurança da Organização de Cooperação de Xangai - OCX, para construir a nova Eurásia, de Xangai a Roterdã. Ou, para evocar a visão original de Vladimir Putin, "de Lisboa a Vladivostok", anterior até ao lançamento da ICE.
Trens de carga Yiwu-Londres, trens de carga Xangai-Teerã, o gasoduto Turcomenistão- Xinjiang – esses já são fatos em solo. Ao longo do caminho, as tecnologias e ferramentas de infraestrutura de conectividade – aplicada a redes de ferrovias de alta velocidade, usinas de energia, fazendas de produção de energia solar, rodovias expressas, pontes, portos, oleodutos e gasodutos – serão intimamente conectadas com o financiamento pelo Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura, BAII e os imperativos da cooperação econômico e de segurança da Organização de Cooperação de Xangai - OCX, para construir a nova Eurásia, de Xangai a Roterdã. Ou, para evocar a visão original de Vladimir Putin, "de Lisboa a Vladivostok", anterior até ao lançamento da ICE.
Xi não disse, mas Pequim fará qualquer coisa para permanecer o mais independente que possa do Sistema Ocidental de Bancos Centrais, com o país dedicado a evitar o Banco Internacional de Compensações, BIC, no maior número de negócios possível, de modo a promover as transações em yuan. Cada vez mais o petrodólar será evitado e ou ignorado (como já está acontecendo entre China e Irã, e Pequim, mais cedo do que se espera exigirá o mesmo da Arábia Saudita).
O resultado final, lá por 2050, será, superadas complexas falhas inevitáveis, um mercado integrado de 4,5 bilhões de pessoas usando na maioria dos casos moedas locais para o comércio bilateral e multilateral, ou uma cesta de moedas (yuan-rublo-rial-yen-rúpia).
Xi abriu sobre a mesa as cartas da China – e o mapa do caminho. No que tenha a ver com o Sonho Chinês, já está claro: Pego minha ICE e saio a viajar.***** - (Fonte: AQUI).
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Obs.: Por falar em "tudo o que represente oportunidade negocial mundo afora" (parte inicial do post), a China está mesmo atenta ao que o mundo oferece. O Brasil, por exemplo, lhe abriu alas, conforme relata Ancelmo Gois na edição de ontem, 29, do jornal O Globo:
Os negócios da China
Se os jornais brasileiros cobrissem, como se fosse noticiário local, esse XIXº Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), com seus 89 milhões de membros, não estariam de todo errados.
O banco Modal listou, com base em dados públicos, 19 investimentos chineses no Brasil, realizados até setembro e que totalizam, pelo menos, US$ 7,465 bilhões.
O petróleo é deles...
Isso sem contar com a participação das chinesas Sinopec e CNODC nas rodadas do pré-sal, sexta.
Lava-Jato ajuda...
A China assumiu a primeira posição no ranking de investidores estrangeiros na terra de Temer, em parte por causa da Lava-Jato, que aleijou alguns ex-potentados locais.
Foi assim no caso da chinesa State Grid, que comprou 23% da Camargo Corrêa na CPFL Energia. Também no caso da China Gezhauba, que ficou com um pedaço da Andrade Gutierrez na São Paulo San Lorenzo Water Supply Co, e no da HNA Infrastructure, que abocanhou a parte da Odebrecht no Galeão.
Vozes d’África
A retração das empreiteiras brasileiras na África, também por causa da Lava-Jato, fez ampliar ainda mais a presença chinesa no continente. Em Angola, que, no passado, foi quase uma reserva de mercado de empresas brasileiras, é comum, cada vez mais, ouvir chineses pelas ruas. As empresas da terra de Xi Jinping costumam levar para as obras trabalhadores do seu país.
Por falar nelas...
O setor de construção pesada já contabiliza cerca de um milhão de demitidos desde o início da Lava-Jato. A recessão econômica também influenciou, claro.
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HAICAI GLOBAL
Só Inglês?!
Filho, vá por mim:
Estude também mandarim!
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