terça-feira, 7 de julho de 2015

GRÉCIA, SISTEMA ECONÔMICO, UTOPIAS E INSENSATEZ


Para entender a crise da Grécia

Por Luis Nassif

Desde a criação da economia, como ciência, o mundo ocidental conviveu com dois modelos conflitantes de definição de políticas públicas.
Escudando-se nos conceitos da economia clássica, de Adam Smith, o capital internacional buscava construir um mundo sem fronteiras nacionais, com cada país encontrando sua vocação no grande mercado global.
Insurgem-se contra isso dois tipos de pensamento. Numa ponta, Karl Marx propondo a internacionalização dos trabalhadores. Na outra, a economia política de Friedrick List, defendendo as estratégias nacionais de promoção do desenvolvimento.
Essa tripolaridade é a marca do século 20, as três utopias que movimentam pessoas e nações: a utopia internacionalista, a utopia do poder nacional e a utopia da preponderância da classe operária.
De certa maneira, o  embate entre as três utopias era necessário para coibir abusos de cada uma. 
Em dois momentos rompe-se o equilíbrio e o capital internacional ganha um poder avassalador: de 1870 até a Primeira Guerra; e de 1970 até agora.
A expansão dos negócios passou a exigir que o sistema financeiro internacional avançasse sobre o setor mais rico dos emergentes: o orçamento público. Assim, o crédito a países (e até a estados dentro de países) tornou-se um dos campos promissores de negócio tanto para os bancos como para seus parceiros nacionais.
No fim da Monarquia, Rui Barbosa era o mais acerbo crítico dessa irresponsabilidade. Nomeado primeiro Ministro da Fazenda da República, liberou geral, para gáudio de correspondentes de bancos britânicos a quem ele estava associado.
Para perpetuar o negócio, criou-se uma corrente férrea, a geração de dependência nesses países, que necessitavam de divisas para seu desenvolvimento ou mesmo para as despesas essenciais. Depois, puniam-se as inadimplências com corte geral de oxigênio financeiro e, por vezes, com a ameaça de invasão militar.
Quando a situação financeira tornava-se insustentável, montavam-se operações de "fundings loans"  - consolidação das dívidas em uma renegociação geral.
O primeiro concerto financeiro mundial gerou um desequilíbrio tão acentuado entre interesses sociais e nacionais, e os interesses do capital, e uma imobilidade tão grande nas instituições multilaterais, que acabaram produzindo as grandes tragédias do século, a Primeira Guerra, a Revolução Russa, a ascensão do Nazismo e a Segunda Guerra. Não se encontrou outra maneira de contornar o torniquete que amarrava países.
Após o acordo de Bretton Woods, o pós Guerra gerou alguns instrumentos de pacificação desses conflitos. Esse equilíbrio foi rompido com Nixon.
O conflito democrático                                                                                                   Na quadra atual, esse conflito se revolve com eleições.
Internamente, mesmo nos países centrais há uma enorme desinformação sobre mecanismos monetários e financeiros.
Foi essa desinformação que permitiu ao Banco Central Europeu aplicar recursos vultosos na Grécia, visando exclusivamente salvar o sistema financeiro nacional. O pretexto era preservar a pequena poupança popular. E, obviamente, os interesses dos grandes investidores.
A receita aplicada no país promoveu um desastre. Derrubou drasticamente o PIB grego, promoveu um desemprego em massa. Com a queda do PIB e da atividade, a relação divida/PIB aumentou de 100% para 180%.
Agora tem-se o seguinte dilema.
A boa técnica bancária consiste em adaptar a dívida à capacidade de pagamento do inadimplente. A dívida grega tem um peso pequeno no capital do BCE. Mas, aí, a democracia e os componentes eleitorais cumprem um papel paradoxal.
No caso da Grécia, significou um rompimento com as regras anteriores do BCE e a afirmação do interesse nacional.
Mas para seguir a boa técnica bancária, o BCE terá que realizar o prejuízo com os créditos à Grécia. E aí enfrentará o interesse nacional dos países centrais, a reação dos eleitores, especialmente da Alemanha e França, ao que consideram "ajuda"  a um país que não fez a lição de casa.
O segundo problema é a possibilidade de que o precedente grego promova uma reação em cadeia contra a ortodoxia do banco.
Melhor isso do que a guerra. Mas a insensatez é uma marcha sem dono. (Fonte: aqui).
................                                                                                                                  
Para ter uma ideia da tragédia, vale a pena ler "Uma abordagem sobre a situação grega", reproduzida ontem, 6, neste blog.                                                                                                                                                  
Clique AQUI para ver entrevista concedida à TV Brasil por Maria Lucia Fattorelli, expert em contas públicas e integrante de equipe que realizou auditoria nas contas da Grécia. Maria Lucia faz revelações extremamente graves sobre a 'dívida' da Grécia. A entrevista é simplesmente imperdível.

Nenhum comentário: