Ed Carlos.
domingo, 31 de março de 2013
BLOG, ANTÍDOTO À DISTORÇÃO
"Fatos e dados" e a força dos blogs
Por Altamiro Borges
O Brasil é atualmente um dos campeões mundiais na produção de blogs, com sua linguagem diferenciada, seu dinamismo online e sua capacidade de interação. Ele também ocupa as primeiras posições no uso das redes sociais, como o facebook e o twitter. Este fenômeno incomoda os oligarcas da mídia tradicional, que se achavam donos da informação. O ativismo digital é hoje um instrumento, com suas limitações e riscos, para a democratização da comunicação. Daí a urgência de se pesquisar todo o potencial da chamada blogosfera.
O estudo apresentado pelo blogueiro Daniel Dantas, intitulado “A argumentação como elemento discursivo na mídia digital: um estudo sobre o blog ‘Fatos e Dados’”, transformado neste livro com o título de "Discurso e argumentação no Blog 'Fatos e Dados' da Petrobras", é uma importante contribuição neste sentido. A partir das reflexões de intelectuais de renome, como Mikhail Bakhtin, Michel Foucault, Manuel Castells e muitos outros, o autor analisa as técnicas argumentativas destas novas mídias. Seu amplo conhecimento teórico serve para o estudo de uma experiência concreta, a do blog “Fatos e Dados”, editado pela Petrobras.
Esta experiência gerou uma dura reação dos donos da velha mídia e teve forte impacto na blogosfera brasileira. Criado em junho de 2009, o blog “Fatos e Dados” nasceu no bojo de uma acirrada disputa política sobre os rumos da maior estatal do Brasil – e uma das maiores empresas de petróleo do mundo. Ele foi uma resposta – baseada em argumentos, ágil e ofensiva – à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, proposta por atores políticos que sempre criticaram a estatal e pregaram sua privatização. Como afirmou na época o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, o blog seria o contraponto à “manipulação das informações”.
O uso desta nova linguagem digital, com todas as suas técnicas discursivas, teve reflexos imediatos. Em curto espaço de tempo, o blog passou a interferir no agendamento do noticiário nacional. A Petrobras saiu da defensiva imposta pela criação da CPI e apresentou à sociedade, sem a intermediação dos monopólios da comunicação, a sua versão dos fatos. Entrevistas antes manipuladas pelos veículos hegemônicos passaram a ser reproduzidas, no mesmo instante, no blog da empresa. Através dos hiperlinks, ele disponibilizou inúmeros dados para sustentar a sua argumentação. O embate de ideias ganhou uma ferramenta nova, revolucionária no mundo da informação.
A inovação gerou a imediata reação. Apropriando-se indevidamente do discurso da “liberdade de expressão”, que os barões da mídia confundem com a liberdade dos monopólios, houve uma artilharia pesada contra o blog “Fatos e Dados”. O jornal O Globo, do maior império midiático do país, publicou editorial contra a iniciativa comunicacional da estatal. O título atestou o seu desespero: “Ataque à imprensa”. A Associação Nacional de Jornais (ANJ), que hoje não esconde mais seu papel de partido político, distribuiu nota oficial em “repúdio pela atitude antiética e esquiva com que a Petrobras vem tratando os questionamentos que lhe são dirigidos”.
Apesar da chiadeira, o blog cumpriu importante papel no esclarecimento da sociedade – já a CPI da Petrobras foi enterrada sem atingir os intentos privatistas dos seus proponentes. A cada ataque desfechado pela velha mídia, o blog apresentou seus contra-argumentos. Ele alcançou 2 milhões de visitantes em apenas cinco meses de existência. O pesquisador Daniel Dantas estuda as postagens publicadas no período de maior tensão. Ele analisa as respostas, as técnicas discursivas, a reação/interação dos leitores/produtores de conteúdo. É um estudo detalhado, pormenorizado, que permite perceber a força, o potencial e as limitações desta nova forma de comunicação.
“A grande audiência conseguida nos primeiros momentos de existência do blog e o volume de discussão política e apoio que obteve indicam que o ‘Fatos e Dados’ constituiu-se em uma iniciativa de sucesso para tratar daquela crise especifica enfrentada pela empresa – o que só pode ser reforçado quando tomamos em consideração que a CPI que motivou a criação do espaço virtual chegou ao fim sem grandes problemas de imagem para a Petrobras”, conclui o pesquisador e blogueiro Daniel Dantas. Por estas e outras razões, este estudo de caso é uma importante fonte de consulta e reflexão para os que estão conectados no apaixonante mundo da cibercultura.
* Texto de apresentação do livro "Discurso e argumentação no Blog 'Fatos e Dados' da Petrobras", do blogueiro Daniel Dantas Lemos (Editora Curviana). (Fonte: aqui).
sábado, 30 de março de 2013
DA COERÊNCIA DA OPOSIÇÃO DIUTURNA
"Projeção de crescimento aponta para PIB de 3,1% este ano, o maior do último triênio; desemprego de 5,6% é o menor em 14 anos, assim como a taxa de juros de 7,25% é a mais baixa dos últimos 20 anos; previsão do Banco Central é de queda de 15% na tarifa de energia e de 2% na de telefonia; empréstimos para empresas crescem 75% em janeiro na Caixa, apontando para investimentos produtivos; inadimplência se mantém estável; preços administrados devem subir 2,7%, dentro da meta traçada; por que esses números não são destacados pela mídia tradicional?"
('Lead' da matéria "Por que tanta má vontade?", do site Brasil 247 - aqui. Por que os números acima não são destacados pela mídia tradicional?, indaga o articulista. Ao que oferecemos singela pergunta: por que, afinal de contas, certa mídia iria divulgar itens positivos como os acima, contribuindo para inflar o balão de seu oponente e tornando cada vez mais distante o midiático sonho de retornar aos velhos tempos?).
sexta-feira, 29 de março de 2013
CARTÃO DESEMPREGO EM BAIXA
Pelicano.
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Em 2012, cerca de 130 mil pessoas deixaram de ser empregadas domésticas, dadas as novas e melhores oportunidades de emprego surgidas no país. Agora, as condições de trabalho da categoria são melhoradas.
Enquanto isso, segundo o IBGE o índice de desemprego no Brasil em fevereiro 2013 foi o menor desde 2002, ano de início da aferição com base nos critérios em vigor.
Boas notícias.
quinta-feira, 28 de março de 2013
PARA DESAGRADO DOS ESCRAVAGISTAS
Flávio.
Crítica à PEC das Domésticas é discurso da herança escravagista, diz professor da UnB
O Brasil não pode submeter trabalhadores domésticos a um tratamento desigual, com privação de direitos, para garantir o conforto da classe média. A avaliação é do professor do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Joaze Bernardino Costa. Para ele, criticar a ampliação de direitos da categoria sob o argumento de que vai encarecer as contratações é recorrer a um discurso “eticamente insustentável, encharcado de herança escravagista, baseado na exploração principalmente de mulheres negras”.
Ele acredita que a aprovação, (ante)ontem (26), pelo Senado, da proposta de emenda à Constituição (PEC) que estende aos empregados domésticos todos os direitos dos demais trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é um importante marco jurídico, mas precisa ser acompanhada de uma profunda mudança cultural.
“A aprovação da PEC é um importante avanço legal, mas ela só aponta a direção para onde devemos rumar. É preciso estimular uma nova representação social da trabalhadora doméstica no país, vista em geral, como uma não trabalhadora, porque sua jornada não gera um produto a ser comercializado no mercado”, disse o professor, autor de tese de doutorado sobre o trabalho doméstico no Brasil.
Costa lembrou que as primeiras leis sobre a atividade foram criadas na década de 1970. Quarenta anos depois,menos de um terço das trabalhadoras domésticas tem carteira assinada, conforme levantamento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Isso equivale a 29% de um universo que reúne 6,2 milhões de brasileiras.
O professor da UnB acredita que a ampliação de direitos pode aumentar as demissões no setor e provocar um rearranjo nas relações de trabalho, como, por exemplo, uma maior contratação de diaristas, sem vínculo empregatício. Ele defende políticas públicas complementares para garantir “o rompimento de um cenário provocado pela cultura patriarcal”.
“Se por um lado os trabalhadores domésticos não podem ser tratados de maneira diferenciada para evitar aumento nos custos dos patrões, a família que não pode arcar com esses gastos deve ter apoio da sociedade e do governo. Isso pode ocorrer com a ampliação da oferta de serviços como creches públicas e lavanderias com preço acessível perto das casas, por exemplo”, explicou.
Para ele, também é preciso haver modificações na divisão das tarefas domésticas, com maior participação de todos os integrantes da família. “É preciso modificar a lógica de invisibilidade do trabalho de cuidados no lar, seja ele desempenhado por uma trabalhadora doméstica ou por uma dona de casa ou mãe de família”, acrescentou. (Fonte: aqui).
................
Foi positiva a iniciativa do Senado. O Brasil, com as medidas adotadas, dá um passo importante rumo à dignidade humana. Aos escravagistas, claro, assiste o direito de espernear ante mais uma conquista das classes desfavorecidas.
Cumpre agora aguardar a regulamentação da matéria, inclusive para sabermos a forma como serão tratados determinados itens, como o FGTS.
Crítica à PEC das Domésticas é discurso da herança escravagista, diz professor da UnB
O Brasil não pode submeter trabalhadores domésticos a um tratamento desigual, com privação de direitos, para garantir o conforto da classe média. A avaliação é do professor do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Joaze Bernardino Costa. Para ele, criticar a ampliação de direitos da categoria sob o argumento de que vai encarecer as contratações é recorrer a um discurso “eticamente insustentável, encharcado de herança escravagista, baseado na exploração principalmente de mulheres negras”.
Ele acredita que a aprovação, (ante)ontem (26), pelo Senado, da proposta de emenda à Constituição (PEC) que estende aos empregados domésticos todos os direitos dos demais trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é um importante marco jurídico, mas precisa ser acompanhada de uma profunda mudança cultural.
“A aprovação da PEC é um importante avanço legal, mas ela só aponta a direção para onde devemos rumar. É preciso estimular uma nova representação social da trabalhadora doméstica no país, vista em geral, como uma não trabalhadora, porque sua jornada não gera um produto a ser comercializado no mercado”, disse o professor, autor de tese de doutorado sobre o trabalho doméstico no Brasil.
Costa lembrou que as primeiras leis sobre a atividade foram criadas na década de 1970. Quarenta anos depois,menos de um terço das trabalhadoras domésticas tem carteira assinada, conforme levantamento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Isso equivale a 29% de um universo que reúne 6,2 milhões de brasileiras.
O professor da UnB acredita que a ampliação de direitos pode aumentar as demissões no setor e provocar um rearranjo nas relações de trabalho, como, por exemplo, uma maior contratação de diaristas, sem vínculo empregatício. Ele defende políticas públicas complementares para garantir “o rompimento de um cenário provocado pela cultura patriarcal”.
“Se por um lado os trabalhadores domésticos não podem ser tratados de maneira diferenciada para evitar aumento nos custos dos patrões, a família que não pode arcar com esses gastos deve ter apoio da sociedade e do governo. Isso pode ocorrer com a ampliação da oferta de serviços como creches públicas e lavanderias com preço acessível perto das casas, por exemplo”, explicou.
Para ele, também é preciso haver modificações na divisão das tarefas domésticas, com maior participação de todos os integrantes da família. “É preciso modificar a lógica de invisibilidade do trabalho de cuidados no lar, seja ele desempenhado por uma trabalhadora doméstica ou por uma dona de casa ou mãe de família”, acrescentou. (Fonte: aqui).
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Foi positiva a iniciativa do Senado. O Brasil, com as medidas adotadas, dá um passo importante rumo à dignidade humana. Aos escravagistas, claro, assiste o direito de espernear ante mais uma conquista das classes desfavorecidas.
Cumpre agora aguardar a regulamentação da matéria, inclusive para sabermos a forma como serão tratados determinados itens, como o FGTS.
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Economia. Direito. Empregados domésticos.
quarta-feira, 27 de março de 2013
PICLES LALAUS
Lalau, por Dálcio Machado.
Roubou 169 milhões e seguiu em frente, convicto de que com uma bolada dessas poderia tudo, até mesmo ressuscitar sua reputação.
Tudo bem, o habeas corpus pode não vir, mas a prescrição, essa com certeza virá, tal como nos gibis de caubói, em que o mocinho, na hora fatal, era salvo pela Sétima de Cavalaria.
Juiz que afana o Erário é mais do que salafrário.
Calma, não se exasperem. Há uma atenuante: Lalau desconhece a palavra preconceito: o dinheiro pode ser limpo, sujo, encardido, o que for. E se eventualmente a cédula não puder circular, tudo bem: Lalau prontamente lhe concede habeas corpus.
Sobre os acontecimentos, Lalau nada tem a declarar. Mas seus advogados preparam dezenas de embargos de declaração.
Lalau não obteve habeas corpus, mas uma conquista o consola: o processo criminal há décadas se arrasta livremente rumo à prescrição.
Roubou 169 milhões e seguiu em frente, convicto de que com uma bolada dessas poderia tudo, até mesmo ressuscitar sua reputação.
Tudo bem, o habeas corpus pode não vir, mas a prescrição, essa com certeza virá, tal como nos gibis de caubói, em que o mocinho, na hora fatal, era salvo pela Sétima de Cavalaria.
Juiz que afana o Erário é mais do que salafrário.
Calma, não se exasperem. Há uma atenuante: Lalau desconhece a palavra preconceito: o dinheiro pode ser limpo, sujo, encardido, o que for. E se eventualmente a cédula não puder circular, tudo bem: Lalau prontamente lhe concede habeas corpus.
Sobre os acontecimentos, Lalau nada tem a declarar. Mas seus advogados preparam dezenas de embargos de declaração.
Lalau não obteve habeas corpus, mas uma conquista o consola: o processo criminal há décadas se arrasta livremente rumo à prescrição.
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Juiz Lalau. Picles lalaus. Dálcio Machado.
IDEIA RECORRENTE
Ecologia, meio ambiente, natureza humana, eis três dos temas em que mais pensam os cartunistas no processo de elaboração de seus trabalhos. A situação acima, que sintetiza os itens citados, é uma das campeãs mundiais.
SOBRE A SEDE DA CIDH NOS EUA
Cícero.
Equador questiona sede da Organização Interamericana de Direitos Humanos nos EUA
Por Leandro Felipe, da Agência Brasil
O Equador questionou o fato da sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) estar localizada em Washington, capital dos Estados Unidos, sendo que o país não ratificou a Convenção Americana de Direitos Humanos. O questionamento foi levantado (...) pelo ministro de Relações Exteriores equatoriano, Ricardo Patiño, durante sessão extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir reformas na comissão.
"A sede de um organismo não pode estar em um país que em 40 anos não ratificou algo que subscreveu", disse Patiño. Ele defendeu que a sede da comissão fique em um país que tenha ratificado a convenção.
Na visão do chanceler do Equador, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos "está em crise por não ser universal e porque não há uma condução e orientação adequadas".
O ministro argumentou que problemas financeiros que a CIDH enfrenta vêm do descuido dos países-membros que não priorizam o organismo. "A comissão se converteu em um espaço para defender interesses midiáticos, empresariais e de outros países", criticou.
A CIDH foi criada em 1959, 11 anos depois de a OEA ter aprovado a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, em Bogotá, na Colômbia. Dez anos depois, foi firmada a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), que sistematizou a CIDH e suas atribuições.
O texto foi ratificado até o momento por 23 países. Eles se comprometeram "a respeitar os direitos e liberdades reconhecidos pela convenção e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua jurisdição, sem qualquer discriminação". Além da CIDH, a convenção criou a Corte Interamericana de Direitos Humanos com sede na Costa Rica. (Fonte: aqui).
................
Faz sentido. Mas não causa estranheza. Afinal, quem não lembra a recusa em subscrever o Protocolo de Kyoto (e posteriormente o acordo climático no Canadá)? Quem desconhece o fato de que Guantánamo está fora da jurisdição da Suprema Corte americana?
Equador questiona sede da Organização Interamericana de Direitos Humanos nos EUA
Por Leandro Felipe, da Agência Brasil
O Equador questionou o fato da sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) estar localizada em Washington, capital dos Estados Unidos, sendo que o país não ratificou a Convenção Americana de Direitos Humanos. O questionamento foi levantado (...) pelo ministro de Relações Exteriores equatoriano, Ricardo Patiño, durante sessão extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir reformas na comissão.
"A sede de um organismo não pode estar em um país que em 40 anos não ratificou algo que subscreveu", disse Patiño. Ele defendeu que a sede da comissão fique em um país que tenha ratificado a convenção.
Na visão do chanceler do Equador, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos "está em crise por não ser universal e porque não há uma condução e orientação adequadas".
O ministro argumentou que problemas financeiros que a CIDH enfrenta vêm do descuido dos países-membros que não priorizam o organismo. "A comissão se converteu em um espaço para defender interesses midiáticos, empresariais e de outros países", criticou.
A CIDH foi criada em 1959, 11 anos depois de a OEA ter aprovado a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, em Bogotá, na Colômbia. Dez anos depois, foi firmada a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), que sistematizou a CIDH e suas atribuições.
O texto foi ratificado até o momento por 23 países. Eles se comprometeram "a respeitar os direitos e liberdades reconhecidos pela convenção e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua jurisdição, sem qualquer discriminação". Além da CIDH, a convenção criou a Corte Interamericana de Direitos Humanos com sede na Costa Rica. (Fonte: aqui).
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Faz sentido. Mas não causa estranheza. Afinal, quem não lembra a recusa em subscrever o Protocolo de Kyoto (e posteriormente o acordo climático no Canadá)? Quem desconhece o fato de que Guantánamo está fora da jurisdição da Suprema Corte americana?
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Direito. Direitos humanos. CIDH. EUA. Equador.
terça-feira, 26 de março de 2013
DA SÉRIE COISAS SEM GRAÇA
Basquiat.
Crise em grupo de autores atinge patrimônio de artistas como Ziraldo e Millôr Fernandes
Por Marco Aurélio Canônico
"No fim da vida, quando podíamos ter um certo gozo do trabalho que fizemos e que não rendeu muito, nos vemos nessa situação horrorosa."
É com uma mistura de desânimo e desespero que o diretor teatral Aderbal Freire-Filho, 71, narra o imbróglio jurídico em que ele e três amigos --os desenhistas Ziraldo, 80, e Millôr Fernandes (1923-2012) e o dramaturgo Alcione Araújo (1945-2012)-- estão metidos há oito anos.
Depois que foram nomeados conselheiros da Sociedade Brasileira de Autores (Sbat), os quatro tiveram suas contas bancárias bloqueadas para o pagamento das milionárias dívidas trabalhistas da entidade, responsável pela arrecadação de direitos autorais de dramaturgos.
"Nós fomos chamados para salvar a Sbat. Aí o babaca aqui foi. Chamou para ser herói, lá vou eu", diz Ziraldo, um dos que participaram da assembleia que, em 2004, elegeu o novo conselho, não remunerado, para tentar contornar a crise em que a entidade se arrastava há décadas.
Aderbal diz ter ficado "empolgado com a ideia de salvar uma instituição centenária".
"Chamamos autores, pensamos que a solução seriam os jovens, juntamos muita gente. Aí tivemos a primeira surpresa em 2006, quando foram bloqueadas as contas. Ficamos em pânico."
As dívidas da Sbat são tantas, e a confusão tão grande que os envolvidos dizem nem ter certeza do valor exato.
As trabalhistas são estimadas em R$ 1 milhão; as tributárias, "entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões"; as cíveis, de herdeiros de autores como Jorge Amado e Antonio Maria, que cobram direitos autorais não recebidos, estão em pelo menos R$ 160 mil.
Há grandes débitos também com "dois ou três bancos" e com os condomínios das salas que a Sbat ainda ocupa em São Paulo e no Rio - e que estão penhoradas.
Por conta das ações trabalhistas -90% delas anteriores à entrada do conselho, segundo Aderbal-, Ziraldo e Alcione têm cerca de R$ 140 mil bloqueados; Aderbal diz já ter perdido "mais de R$ 100 mil".
MILLÔR SE LIVRA
Quem sofreu o maior baque inicial em suas contas foi Millôr, que teve R$ 273 mil bloqueados para o pagamento de uma dívida trabalhista de R$ 110 mil, na época em que já estava inconsciente.
Seu filho, Ivan Fernandes, entrou no caso e conseguiu liberar a quantia bloqueada em excesso. A dívida foi então renegociada para R$ 65 mil, valor que a Sbat pagou em 13 prestações, liberando o montante bloqueado.
A maior vitória de Ivan foi conseguida recentemente: a Justiça reconheceu que seu pai não devia ser considerado conselheiro da Sbat, pois nunca assinou atas nem participou de nada.
A sociedade fundada em 1917 por um grupo liderado por Chiquinha Gonzaga (1847-1935) está prestes a ser fechada.
Perdeu para outra sociedade de autores, a Abramus (Associação Brasileira de Música e Artes), a maior parte dos direitos autorais que administrava, mas ainda tem entre seus afiliados nomes simbólicos como Chico Buarque, Plínio Marcos, Dias Gomes e Ana Maria Machado.
"Ao contrário do Ecad, que não quer fiscalização, meu sonho é que o governo fiscalize a Sbat", diz Aderbal. "Que descubra as consequências horríveis dessa falência. O governo não pode ficar insensível à morte da Sbat." (Fonte: aqui).
Crise em grupo de autores atinge patrimônio de artistas como Ziraldo e Millôr Fernandes
Por Marco Aurélio Canônico
"No fim da vida, quando podíamos ter um certo gozo do trabalho que fizemos e que não rendeu muito, nos vemos nessa situação horrorosa."
É com uma mistura de desânimo e desespero que o diretor teatral Aderbal Freire-Filho, 71, narra o imbróglio jurídico em que ele e três amigos --os desenhistas Ziraldo, 80, e Millôr Fernandes (1923-2012) e o dramaturgo Alcione Araújo (1945-2012)-- estão metidos há oito anos.
Depois que foram nomeados conselheiros da Sociedade Brasileira de Autores (Sbat), os quatro tiveram suas contas bancárias bloqueadas para o pagamento das milionárias dívidas trabalhistas da entidade, responsável pela arrecadação de direitos autorais de dramaturgos.
"Nós fomos chamados para salvar a Sbat. Aí o babaca aqui foi. Chamou para ser herói, lá vou eu", diz Ziraldo, um dos que participaram da assembleia que, em 2004, elegeu o novo conselho, não remunerado, para tentar contornar a crise em que a entidade se arrastava há décadas.
Aderbal diz ter ficado "empolgado com a ideia de salvar uma instituição centenária".
"Chamamos autores, pensamos que a solução seriam os jovens, juntamos muita gente. Aí tivemos a primeira surpresa em 2006, quando foram bloqueadas as contas. Ficamos em pânico."
As dívidas da Sbat são tantas, e a confusão tão grande que os envolvidos dizem nem ter certeza do valor exato.
As trabalhistas são estimadas em R$ 1 milhão; as tributárias, "entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões"; as cíveis, de herdeiros de autores como Jorge Amado e Antonio Maria, que cobram direitos autorais não recebidos, estão em pelo menos R$ 160 mil.
Há grandes débitos também com "dois ou três bancos" e com os condomínios das salas que a Sbat ainda ocupa em São Paulo e no Rio - e que estão penhoradas.
Por conta das ações trabalhistas -90% delas anteriores à entrada do conselho, segundo Aderbal-, Ziraldo e Alcione têm cerca de R$ 140 mil bloqueados; Aderbal diz já ter perdido "mais de R$ 100 mil".
MILLÔR SE LIVRA
Quem sofreu o maior baque inicial em suas contas foi Millôr, que teve R$ 273 mil bloqueados para o pagamento de uma dívida trabalhista de R$ 110 mil, na época em que já estava inconsciente.
Seu filho, Ivan Fernandes, entrou no caso e conseguiu liberar a quantia bloqueada em excesso. A dívida foi então renegociada para R$ 65 mil, valor que a Sbat pagou em 13 prestações, liberando o montante bloqueado.
A maior vitória de Ivan foi conseguida recentemente: a Justiça reconheceu que seu pai não devia ser considerado conselheiro da Sbat, pois nunca assinou atas nem participou de nada.
A sociedade fundada em 1917 por um grupo liderado por Chiquinha Gonzaga (1847-1935) está prestes a ser fechada.
Perdeu para outra sociedade de autores, a Abramus (Associação Brasileira de Música e Artes), a maior parte dos direitos autorais que administrava, mas ainda tem entre seus afiliados nomes simbólicos como Chico Buarque, Plínio Marcos, Dias Gomes e Ana Maria Machado.
"Ao contrário do Ecad, que não quer fiscalização, meu sonho é que o governo fiscalize a Sbat", diz Aderbal. "Que descubra as consequências horríveis dessa falência. O governo não pode ficar insensível à morte da Sbat." (Fonte: aqui).
CRISE EURO: ESPANHA
Kap. (Espanha).
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Fato novo leva pânico aos mercados: após o socorro ao Chipre, com confisco 'heterodoxo', o Banco Central Europeu sinaliza que doravante o ônus da recuperação não recairá exclusivamente sobre os contribuintes e os estados, como observado desde 2009, mas também sobre os capitais dos aplicadores detentores de somas superiores a determinado montante (cem mil euros, por exemplo). Ou seja, os aplicadores privados passarão a compartilhar da construção da austeridade, eufemismo lançado pelos criativos dirigentes para amaciar a dura realidade. O saneamento dos bancos falidos, por exemplo, implicará o corte de uma fatia dos recursos dos aplicadores, e não mais exclusivamente o corte de verbas/benefícios dos contribuintes e o rombo das finanças estatais. A nova realidade poderá enfim forçar a regulamentação dos mercados, coisa sobre a qual se vem falando há quatro anos e que até agora estava em conveniente e estratégico banho maria.
segunda-feira, 25 de março de 2013
OS IMPUNES SÓCIOS DA TORTURA:
Ilustração de Guayasamin.
Os coniventes
Por Luis Fernando Veríssimo
Os coniventes
Por Luis Fernando Veríssimo
O ex-deputado estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um ex-ativista politico, pois recentemente voltou à militância partidária no PDT, apesar de limitado pela saúde. Quando militava na resistência à ditadura foi preso, junto com a Dilma, e os dois foram torturados.
Depondo diante da Comissão Nacional da Verdade (...) sobre sua experiência, Araújo lembrou a participação de empresários na repressão, muitas vezes assistindo à ou incentivando a tortura.
Que eu saiba, foi a primeira vez que um depoente tocou no assunto nebuloso da cumplicidade do empresariado, através da famigerada Operação Bandeirantes, em São Paulo, ou da iniciativa individual, no terrorismo de estado.
O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se seguiu à queda do Collor e à revelação do esquema montado pelo P. C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas.
A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do esquema.
Nunca se fez a CPI não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão, talvez se chegue à punição, ou no mínimo à identificação, de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.
A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os dois maiores países da America do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá o terrorismo de estado foi mais terrível do que aqui e sua expiação — com a condenação dos generais da repressão — está sendo mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles. (Fonte: aqui).
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Em lugar de "Os coniventes", certamente o título "Os incentivadores" também seria adequado. Que o diga o Cidadão Boilesen (Henning Albert Boilesen), empresário dinamarquês radicado no Brasil (São Paulo), entusiasta da tortura nos anos de chumbo, o que, aliás, rendeu documentário - comentado aqui neste blog.
Marcadores:
Crônica. Tortura. Luis Fernando Veríssimo.
domingo, 24 de março de 2013
MÍDIA, A BRAVA DEFENSORA DA METRÓPOLE
A inspiração ideológica da mídia
Por Roberto Amaral
Não se discute o reacionarismo da "grande imprensa" no Brasil (eu havia escrito "da imprensa brasileira", mas pensei melhor); a questão é seu entranhado entreguismo, pois para ser de direita não precisa ser entreguista. A imprensa dos EUA, por exemplo, embora conservadora, é nacionalista… É este, aliás, o único ponto em que a imprensa aqui instalada se afasta de sua congênere norte-americana: vive de costas para os interesses nacionais.
A explicação, porém, é fácil: no reverso, para atender aos interesses dos EUA (mais precisamente da dupla Pentágono-Departamento de Estado, e, logo, Departamento de Comércio), ela, essa imprensa, precisa ser antinacional. Por isso, em seu viés, o Brasil pode até crescer, desde que jamais ouse deixar de ser "quintal" do grande "irmão do Norte". Pode até ser rico, o Brasil, para poder ser bom comprador; contanto que jamais ouse qualquer arroubo de autonomia.
Nossas "elites", ideologicamente colonizadas, não entendem que um país mestiço possa ter política externa, mormente ditada pelos seus próprios interesses.
Não é de hoje. Não é antilulismo, embora tenha encontrado nessa paixão política terreno fértil para se desenvolver. A grande imprensa, que ainda hoje odeia a Petrobras (que deslocou a Esso de nosso território), foi sempre contra a exploração brasileira do petróleo brasileiro. Chegou mesmo a defender a tese de que não devíamos gastar dinheiro procurando um "óleo que não tínhamos", se podíamos comprá-lo das "Sete Irmãs". Foi contra a triticultura brasileira, pois deveríamos comprar o trigo subsidiado do Ponto 4, quando os EUA renovavam seus estoques de guerra. Foi contra a industrialização do país. Repercutindo as teses de Eugênio Gudin, dizia-nos que nossa vocação, de país agrícola "por natureza", era a de ser, palavras de hoje, "a grande fazenda do Ocidente". Jamais gostou da democracia. Foi contra a posse de JK, contra a posse de Jango, a favor do golpe de 1964 e do regime militar, cuja implantação defendeu com entusiasmo, dando-lhe sustentação, até o momento em que, como jenipapo maduro, a ditadura anunciou que ia cair do galho.
O ódio a Vargas vinha daí, não da ditadura do Estado Novo, mas do Vargas do regime democrático; não fôra ele defensor dos interesses nacionais em conflito com o imperialismo (recomendo a releitura de sua "Carta-testamento"; está no Google). Vem, também de seu ranço anti-popular, o ranço das "elites" que os meios de comunicação repercutem, pois Vargas foi o fundador do trabalhismo brasileiro.
Nossa velha imprensa nunca aceitou a "política externa independente". Apoiou com denodo, e unanimidade, a aventura janista. Mas logo, comandada por Lacerda, passou a hostilizar o governo de JQ. Qual a motivação? Seus arreganhos autoritários? Seus delírios bonapartistas? Não, o inimigo era a política externa independente, elucubrada pelo presidente e exemplarmente formulada e executada por Afonso Arinos.
Antidemocrática, defendeu a tentativa de golpe contra a posse de Jango. Depois, sempre comandada ideologicamente pelo lacerdismo mais tacanho (pensei em escrever "abjeto", mas…) partiu para a conspiração e a oposição mais desabrida, de que é exemplo paradigmático o famoso editorial "Fora", do "liberal" Correio da Manhã de 1º de abril de 1964. O que a incomodava, senão a política externa independente comandada pelo gênio de San Tiago Dantas?
Dócil e cevada, bem cevada com canais de rádio e de televisão para incensar a ditadura de 1964, sempre torceu o nariz para tudo que contrariasse os interesses do Departamento de Estado dos EUA. Ora, Geisel chegou a romper com o acordo militar Brasil-EUA e defender, contra a sabotagem estadunidense, o acordo nuclear com a Alemanha. Essa imprensa detestava Silveirinha, pois para ela o modelo de bom chanceler era o general Juracy Magalhães, para quem "o que é bom para os EUA é [era] bom para o Brasil". Por essas mesmas razões não se cansou em render loas à diplomacia de FHC, aquela na qual nosso chanceler tirava os sapatos para ingressar no solo norte-americano; é a mesma imprensa que então e agora devotava e devota ódio à trinca Amorim-Marco Aurélio-Samuel Guimarães, que, sob o comando de Lula, recolocou nossa politica externa no campo da dignidade.
A grande imprensa, por definição, está a serviço dos interesses de classe, isto é, da classe dominante, isto é, do empresariado. No Brasil, porém, ela contraria os interesses de nosso empresariado, ou seja, do capitalismo caboclo, para quem é importante vender para a China, para quem é importante vender para a Venezuela, para quem é importante o Mercosul e o hemisfério Sul, em geral, e a África em particular (coisa que os chineses não ignoram). Mas, a chamada mídia (um monopólio ideológico e empresarial inaceitável numa democracia que se preze) não está comprometida, sequer, com o capitalismo brasileiro, pois se ela é fiel servidora de interesses externos, ela é servidora, antes de tudo, do capitalismo norte-americano, de seu imperialismo (vá lá a palavra detestada pelos "liberais" mas sempre exata) político e econômico, ainda presa, anacronicamente, a uma Guerra Fria que ela vai recolher na leitura da concordatária Seleções.
Nosso empresariado dos meios de comunicação de massas é contra a expansão de nossos interesses na América Latina, é contra a abertura de novos mercados para além dos EUA, e é a favor, ainda hoje!, da falecida Alca, que, ao fim e ao cabo, pretendia nossa anexação.
Essas considerações me são provocadas pela leitura do editorial "Inspiração ideológica" do último dia 18 deste março, de um grande matutino brasileiro.
Começa, o editorial, curiosamente, por chamar nossa atual política externa de ideológica, para criticá-la, como se a própria crítica do jornal não fosse, em si, uma formulação ideológica…, para em seguida de fato defender nosso isolamento do subcontinente sul-americano. Essa tese vem dos tempos coloniais! É contra a aproximação com nossos vizinhos, particularmente com a Argentina (porque é governada por uma Kirschner), contra a Bolívia (porque é governada por Evo Morales), contra o Equador (porque é governado por Rafael Correa). Porque todos eles põem acima dos interesses dos EUA os interesses de seus povos. Isto está dito com todas as letras: esses países "são anti-imperialistas". Ao imperialismo deveriam ser dóceis. Essa mesma imprensa foi contra nossa aproximação com o Paraguai quando era governado por Lugo, e agora defende nossa aproximação porque Lugo foi defenestrado por um golpe de Estado parlamentar. Diz que não podemos afrontar os EUA, e uma maneira de afrontá-los é aceitar que a China venha "substituindo os EUA como grande parceiro comercial do Brasil".
Reclama porque não brigamos com a Bolívia quando esta ocupou uma instalação da Petrobras. Defende a posição pusilânime dos EUA no golpe em Honduras, e acusa nossa posição ali – de firme defesa democrática – como "apelo ideológico".
Quer que o Brasil se dilua no Nafta (tratado entre os EUA, o Canadá e o México, esses, dois países virtualmente sem soberania, até por uma tragédia geográfica) para, afinal, sucumbirmos na Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, fazendo de nós todos a colônia que já fomos de Portugal e Espanha, agora sob outra bandeira.
É por ignorância larvar ou má-fé medular que nossas "elites" não entendem a proposta estratégica de nossa presença na América Latina e na África?
O editorial do grande jornal é contra a presença da Venezuela no Mercosul, a maior reserva de petróleo do mundo, e onde estão instalados significativos interesses brasileiros. À conta do chavismo, em que pese a partida de Chávez.
E por que o jornalão é contra o chavismo? Simplesmente porque essa "ideologia" combate, nas terras venezuelanas, o imperialismo norte-americano que levou o povo daquele país riquíssimo à pobreza extrema. A Venezuela não pode integrar o Mercosul, porque se trata de uma nação "inimiga do maior mercado consumidor do mundo, os EUA". E aí, o editorialista confunde, numa grosseira contradição ideológica, o país Venezuela, uma permanência, com o chavismo, um processo político-social datado. Mais ainda: ignora, por má-fé, a profunda relação comercial que os EUA mantêm com a Venezuela.
Afinal, esse editorial é tão sintomático do reacionarismo antinacional, que deve ter sido escrito (embora corrigido formalmente pelo copydesk do jornal), por um qualquer dos nossos embaixadores de pijama, recalcados irrecuperáveis, viúvas do "Consenso de Washington", alguns abrigados (salarialmente) na Fiesp, que, supunha-se, estaria a serviço dos interesses dos empresários brasileiros.
Com que Brasil sonha a velha imprensa? (Fonte: aqui).
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Com que Brasil sonha a velha imprensa? Com o Brazil.
SUASSUNA: VAMOS CONHECER MATIAS AIRES
Suassuna em uma de suas muitas palestras.
Ariano Suassuna prende a atenção do público com histórias que viveu pelo país
Por Marcelo Brandão
Por cerca de uma hora, o escritor paraibano Ariano Suassuna prendeu a atenção do público durante palestra, nessa quarta-feira (20), na 1ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional, em Brasília. O autor de uma série de romances, entre eles Auto da Compadecida, valorizou a cultura brasileira, divertiu o público com histórias que viveu e ouviu pelo país e reivindicou o Brasil como berço de sua própria manifestação cultural.
“Os jesuítas trouxeram uma contribuição maravilhosa ao teatro, mas quando aqui chegaram, já encontraram o teatro. Já encontraram uma música, uma dança. A cultura brasileira vem de muito antes do ano de 1500”, disse à plateia, que teve a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e dos ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e da Aquicultura e Pesca, Marcelo Crivella. A conferência tem por objetivo discutir a reformulação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional.
O ocupante da Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, 85 anos, tratou de uma série de assuntos, como religião, sua paixão pelo circo e o medo de viajar de avião, sempre com bom humor. “Uma vez, uma moça me recebeu no aeroporto e disse professor, a viagem foi boa?. Eu disse: minha filha, eu não conheço viagem de avião boa. Só conheço dois tipos de viagens de avião: as tediosas e as fatais. Avião é uma coisa tão ruim que a gente reza para a viagem ser tediosa”.
Suassuna mostrou fotos antigas de cantadores nordestinos e de uma cena de teatro indígena, com a riqueza cultural do país, muitas vezes esquecida, segundo ele. “Machado de Assis dizia que no Brasil existem dois países, o oficial e o real. Todos nós somos criados, formados e deformados pelo Brasil oficial. Mas a gente tem que olhar para o Brasil real. Foi o que fiz no Auto da Compadecida, olhei para a literatura do povo brasileiro e procurei me manter fiel a ela”.
Antes de encerrar, Suassuna criticou a falta de referência ao próprio país nas universidades. Lembrou que, ao falar para estudantes de nível superior, todos conheciam o filósofo alemão Immanuel Kant, mas ninguém conhecia Matias Aires, filósofo brasileiro e contemporâneo de Kant. “A universidade brasileira ensina de costas para o país e para o povo. Eles todos já ouviram falar em Kant, mas não em Matias Aires, o maior pensador de língua portuguesa do século 18. A gente não dá importância a um pensador da qualidade de Matias Aires”.
O escritor leu para o público um texto de Matias Aires: “Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto nem cortejo e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”. (Fote: aqui).
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Eu também preciso conhecer Matias Aires.
Ariano Suassuna prende a atenção do público com histórias que viveu pelo país
Por Marcelo Brandão
Por cerca de uma hora, o escritor paraibano Ariano Suassuna prendeu a atenção do público durante palestra, nessa quarta-feira (20), na 1ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional, em Brasília. O autor de uma série de romances, entre eles Auto da Compadecida, valorizou a cultura brasileira, divertiu o público com histórias que viveu e ouviu pelo país e reivindicou o Brasil como berço de sua própria manifestação cultural.
“Os jesuítas trouxeram uma contribuição maravilhosa ao teatro, mas quando aqui chegaram, já encontraram o teatro. Já encontraram uma música, uma dança. A cultura brasileira vem de muito antes do ano de 1500”, disse à plateia, que teve a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e dos ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e da Aquicultura e Pesca, Marcelo Crivella. A conferência tem por objetivo discutir a reformulação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional.
O ocupante da Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, 85 anos, tratou de uma série de assuntos, como religião, sua paixão pelo circo e o medo de viajar de avião, sempre com bom humor. “Uma vez, uma moça me recebeu no aeroporto e disse professor, a viagem foi boa?. Eu disse: minha filha, eu não conheço viagem de avião boa. Só conheço dois tipos de viagens de avião: as tediosas e as fatais. Avião é uma coisa tão ruim que a gente reza para a viagem ser tediosa”.
Suassuna mostrou fotos antigas de cantadores nordestinos e de uma cena de teatro indígena, com a riqueza cultural do país, muitas vezes esquecida, segundo ele. “Machado de Assis dizia que no Brasil existem dois países, o oficial e o real. Todos nós somos criados, formados e deformados pelo Brasil oficial. Mas a gente tem que olhar para o Brasil real. Foi o que fiz no Auto da Compadecida, olhei para a literatura do povo brasileiro e procurei me manter fiel a ela”.
Antes de encerrar, Suassuna criticou a falta de referência ao próprio país nas universidades. Lembrou que, ao falar para estudantes de nível superior, todos conheciam o filósofo alemão Immanuel Kant, mas ninguém conhecia Matias Aires, filósofo brasileiro e contemporâneo de Kant. “A universidade brasileira ensina de costas para o país e para o povo. Eles todos já ouviram falar em Kant, mas não em Matias Aires, o maior pensador de língua portuguesa do século 18. A gente não dá importância a um pensador da qualidade de Matias Aires”.
O escritor leu para o público um texto de Matias Aires: “Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto nem cortejo e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”. (Fote: aqui).
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Eu também preciso conhecer Matias Aires.
sábado, 23 de março de 2013
CHIPRE, ZONA DO EURO: SEM SAÍDA
Christo Komarnitski.
O trauma da ilha do tesouro
Por Paul Krugman
Há cerca de dois anos, o jornalista Nicholas Shaxson publicou um livro fascinante e assombroso intitulado “Ilhas do tesouro”, no qual explicava como os paraísos fiscais internacionais — que são também, como frisou o autor, “jurisdições secretas” onde muitas regras não se aplicam — abalam economias em todo o mundo. Não apenas eles roubam receitas de governos necessitados de caixa e estimulam a corrupção, como também distorcem o fluxo de capital, ajudando a alimentar crescente crise financeira.
Um aspecto que Shaxson não aprofundou, no entanto, é o que acontece quando uma jurisdição secreta é exposta. É isso que está acontecendo agora no Chipre. E seja qual for o desfecho da situação do Chipre propriamente dito (uma dica: não deverá ter um final feliz), a bagunça cipriota revela justamente o quanto permanece sem regulamentação o sistema bancário mundial, quase cinco anos depois do início da crise financeira global.
Com respeito ao Chipre: pode-se indagar por que alguém se preocuparia com um minúsculo país, com uma economia não muito maior do que a área metropolitana de Scranton, na Filadélfia. Mas, como o Chipre é um membro da zona do euro, os eventos lá podem contagiar (por exemplo, fuga de depósitos) as nações maiores. E mais: embora a economia cipriota seja minúscula, o país é surpreendentemente um importante ator financeiro, com um sistema bancário quatro ou cinco vezes maior que o tamanho de sua própria economia.
Por que os bancos cipriotas são tão grandes? Porque o país é um paraíso fiscal, onde corporações e bilionários estrangeiros escondem seu dinheiro. Oficialmente, 37% dos depósitos nos bancos cipriotas são de não residentes; o número real, quando se leva em conta a riqueza expatriada e as pessoas que residem apenas formalmente no Chipre, é certamente bem maior. Basicamente, o Chipre é um lugar onde pessoas, sobretudo mas não exclusivamente russos, escondem suas fortunas tanto do Fisco como dos reguladores
Qualquer que seja o eufemismo usado, trata-se pura e simplesmente de lavagem de dinheiro.
E a verdade é que boa parte da riqueza nunca saiu do lugar; apenas tornou-se invisível. No papel, por exemplo, o Chipre se tornou um grande investidor na Rússia — muito maior do que a Alemanha, cuja economia é centena de vezes maior. Na realidade, é claro, tratava-se apenas de uma viagem “ida e volta” de russos que usam a ilha para evitar taxação.
Infelizmente para os cipriotas, muito dinheiro real acabou financiando alguns maus investimentos, à proporção que seus bancos compraram títulos de dívida grega e financiaram uma lenta e ampla bolha imobiliária. Cedo ou tarde, as coisas iriam explodir. E explodiram agora.
E agora? Há forte similaridade entre o Chipre de hoje e a Islândia de alguns anos atrás. Como o Chipre agora, a Islândia possuía um enorme setor bancário, inchado por depósitos estrangeiros, que era simplesmente muito grande para ser salvo. A resposta da Islândia foi deixar que os bancos quebrassem, expulsando aqueles investidores estrangeiros, ao mesmo tempo em que protegia os correntistas internos — e o resultado não foi muito ruim. De fato, a Islândia, com uma taxa de desemprego menor do que a maioria da Europa, sobreviveu à crise surpreendentemente bem.
Infelizmente, a resposta do Chipre à própria crise tem sido desesperançosamente confusa. Em parte, isso é um reflexo do fato de o país não mais possuir uma moeda própria, o que o torna dependente de tomadores de decisões em Bruxelas ou Berlim — tomadores de decisões que não têm se mostrado dispostos a deixar os bancos falirem.
Porém, isso também reflete a própria relutância do Chipre em aceitar o fim de seu negócio de lavagem de dinheiro; seus líderes ainda estão tentando limitar as perdas dos correntistas estrangeiros com a vã esperança de que os negócios podem ser retomados como sempre. E eles estão tão desesperados para proteger o dinheiro grande que tentaram limitar as perdas dos estrangeiros por meio da expropriação dos recursos de pequenos correntistas domésticos. Como se viu, no entanto, os cipriotas comuns ficaram indignados, o pacote foi rejeitado e, a esta altura, ninguém sabe o que vai acontecer.
Meu palpite é que, no fim, o Chipre vai adotar uma solução parecida a da Finlândia, mas, a não ser que seja expulso da zona do euro nos próximos dias — uma possibilidade concreta —, poderá perder muito tempo e dinheiro com meia soluções, tentando evitar o confronto com a realidade e avolumando grandes dívidas com os países ricos. Veremos.
Mas, voltemos um passo e consideremos o fato extraordinário de que paraísos fiscais como o Chipre, as Ilhas Cayman e muitos outros ainda operam basicamente da mesma forma que faziam antes da crise financeira global. Todos viram o prejuízo que banqueiros fugitivos podem infligir, e no entanto muitos dos negócios financeiros do mundo ainda são direcionados por meio de regulações que permitem que os banqueiros evitem as legislações mais brandas que temos em vigor. Todos estão reclamando dos déficits fiscais, mas as corporações e os ricos continuam livremente recorrendo a paraísos fiscais para fugir do pagamento de impostos.
Portanto, não chores pelo Chipre; chore por todos nós, que vivemos num mundo cujos líderes parecem determinados a não aprender com os erros. (Fonte: aqui).
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Cinco anos depois do estouro da crise financeira mundial, persiste o que lhe deu causa: a falta de regulamentação da ação dos agentes do mercado. Eis certamente a maior demonstração da força do Neoliberalismo, que, a despeito da desmoralização de seu ideário, conta com entusiasmados defensores mundo afora, inclusive no Brasil, país que escapou do flagelo graças às providências adotadas por seus dirigentes antes e depois de 2008/9.
Os neoliberais não perdem a pose: a vida, pra eles, é sempre um paraíso... fiscal.
O trauma da ilha do tesouro
Por Paul Krugman
Há cerca de dois anos, o jornalista Nicholas Shaxson publicou um livro fascinante e assombroso intitulado “Ilhas do tesouro”, no qual explicava como os paraísos fiscais internacionais — que são também, como frisou o autor, “jurisdições secretas” onde muitas regras não se aplicam — abalam economias em todo o mundo. Não apenas eles roubam receitas de governos necessitados de caixa e estimulam a corrupção, como também distorcem o fluxo de capital, ajudando a alimentar crescente crise financeira.
Um aspecto que Shaxson não aprofundou, no entanto, é o que acontece quando uma jurisdição secreta é exposta. É isso que está acontecendo agora no Chipre. E seja qual for o desfecho da situação do Chipre propriamente dito (uma dica: não deverá ter um final feliz), a bagunça cipriota revela justamente o quanto permanece sem regulamentação o sistema bancário mundial, quase cinco anos depois do início da crise financeira global.
Com respeito ao Chipre: pode-se indagar por que alguém se preocuparia com um minúsculo país, com uma economia não muito maior do que a área metropolitana de Scranton, na Filadélfia. Mas, como o Chipre é um membro da zona do euro, os eventos lá podem contagiar (por exemplo, fuga de depósitos) as nações maiores. E mais: embora a economia cipriota seja minúscula, o país é surpreendentemente um importante ator financeiro, com um sistema bancário quatro ou cinco vezes maior que o tamanho de sua própria economia.
Por que os bancos cipriotas são tão grandes? Porque o país é um paraíso fiscal, onde corporações e bilionários estrangeiros escondem seu dinheiro. Oficialmente, 37% dos depósitos nos bancos cipriotas são de não residentes; o número real, quando se leva em conta a riqueza expatriada e as pessoas que residem apenas formalmente no Chipre, é certamente bem maior. Basicamente, o Chipre é um lugar onde pessoas, sobretudo mas não exclusivamente russos, escondem suas fortunas tanto do Fisco como dos reguladores
Qualquer que seja o eufemismo usado, trata-se pura e simplesmente de lavagem de dinheiro.
E a verdade é que boa parte da riqueza nunca saiu do lugar; apenas tornou-se invisível. No papel, por exemplo, o Chipre se tornou um grande investidor na Rússia — muito maior do que a Alemanha, cuja economia é centena de vezes maior. Na realidade, é claro, tratava-se apenas de uma viagem “ida e volta” de russos que usam a ilha para evitar taxação.
Infelizmente para os cipriotas, muito dinheiro real acabou financiando alguns maus investimentos, à proporção que seus bancos compraram títulos de dívida grega e financiaram uma lenta e ampla bolha imobiliária. Cedo ou tarde, as coisas iriam explodir. E explodiram agora.
E agora? Há forte similaridade entre o Chipre de hoje e a Islândia de alguns anos atrás. Como o Chipre agora, a Islândia possuía um enorme setor bancário, inchado por depósitos estrangeiros, que era simplesmente muito grande para ser salvo. A resposta da Islândia foi deixar que os bancos quebrassem, expulsando aqueles investidores estrangeiros, ao mesmo tempo em que protegia os correntistas internos — e o resultado não foi muito ruim. De fato, a Islândia, com uma taxa de desemprego menor do que a maioria da Europa, sobreviveu à crise surpreendentemente bem.
Infelizmente, a resposta do Chipre à própria crise tem sido desesperançosamente confusa. Em parte, isso é um reflexo do fato de o país não mais possuir uma moeda própria, o que o torna dependente de tomadores de decisões em Bruxelas ou Berlim — tomadores de decisões que não têm se mostrado dispostos a deixar os bancos falirem.
Porém, isso também reflete a própria relutância do Chipre em aceitar o fim de seu negócio de lavagem de dinheiro; seus líderes ainda estão tentando limitar as perdas dos correntistas estrangeiros com a vã esperança de que os negócios podem ser retomados como sempre. E eles estão tão desesperados para proteger o dinheiro grande que tentaram limitar as perdas dos estrangeiros por meio da expropriação dos recursos de pequenos correntistas domésticos. Como se viu, no entanto, os cipriotas comuns ficaram indignados, o pacote foi rejeitado e, a esta altura, ninguém sabe o que vai acontecer.
Meu palpite é que, no fim, o Chipre vai adotar uma solução parecida a da Finlândia, mas, a não ser que seja expulso da zona do euro nos próximos dias — uma possibilidade concreta —, poderá perder muito tempo e dinheiro com meia soluções, tentando evitar o confronto com a realidade e avolumando grandes dívidas com os países ricos. Veremos.
Mas, voltemos um passo e consideremos o fato extraordinário de que paraísos fiscais como o Chipre, as Ilhas Cayman e muitos outros ainda operam basicamente da mesma forma que faziam antes da crise financeira global. Todos viram o prejuízo que banqueiros fugitivos podem infligir, e no entanto muitos dos negócios financeiros do mundo ainda são direcionados por meio de regulações que permitem que os banqueiros evitem as legislações mais brandas que temos em vigor. Todos estão reclamando dos déficits fiscais, mas as corporações e os ricos continuam livremente recorrendo a paraísos fiscais para fugir do pagamento de impostos.
Portanto, não chores pelo Chipre; chore por todos nós, que vivemos num mundo cujos líderes parecem determinados a não aprender com os erros. (Fonte: aqui).
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Cinco anos depois do estouro da crise financeira mundial, persiste o que lhe deu causa: a falta de regulamentação da ação dos agentes do mercado. Eis certamente a maior demonstração da força do Neoliberalismo, que, a despeito da desmoralização de seu ideário, conta com entusiasmados defensores mundo afora, inclusive no Brasil, país que escapou do flagelo graças às providências adotadas por seus dirigentes antes e depois de 2008/9.
Os neoliberais não perdem a pose: a vida, pra eles, é sempre um paraíso... fiscal.
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Economia. Crise mundial. Chipre. Paul Krugman.
DA SÉRIE ARTES MONUMENTAIS
Um pinheiro que sobreviveu ao terremoto seguido de tsunami que atingiu o norte do Japão em 11 de março de 2011 se tornou agora um memorial em homenagem às vítimas da tragédia. A árvore chamada de "pinheiro milagroso" foi artificialmente restaurada e virou um monumento de 27 metros de altura, em um projeto que custou cerca de 150 milhões de ienes (R$ 3,1 milhões). (Fonte: aqui)
Cartum de Biratan Porto, de Belém-PA, produzido há um bom tempo.
A vida, no caso, não imita a arte, mas é lícito dizer: a vida celebra a arte. No caso, a arte do notável Biratan.
IDH: OBSERVAÇÕES FINAIS
IDH, por Antonio Delfim Netto
O famoso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), publicado anualmente pela ONU, tenta medir um fenômeno metafísico: a "qualidade de vida" de cada país em relação a todos os outros. E o faz por meio de um indicador imaginoso que varia de 0 a 1, mas manipula apenas três indicadores: nível de renda, educação e saúde.
O problema é que o IDH incorpora indicadores defasados, para poder comparar a situação dos países (hoje, 187) com a plena disponibilidade dos elementos estatísticos necessários. Isso prejudicaria o Brasil, porque a qualidade e a disponibilidade de nossos dados são melhores [nos últimos anos]. É o caso, por exemplo, dos números da educação: para "uniformizar" os dados dos 187 países, o IDH foi construído com os números de 2005, o que deixa de medir os substanciais progressos que vimos obtendo desde então.
No relatório, ocupamos o 85º lugar, o mesmo do ano anterior, com IDH de 0,730. A Noruega ocupa o 1º, com o índice de 0,955. A crítica é obviamente pertinente. É reconhecida, aliás, no próprio relatório "Ascensão do Sul - Progresso Humano em um Mundo Diverso", produzido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), que se desdobra em cuidados e elogios à política social do governo do Brasil (citado mais de uma centena de vezes).
Antecipando-a, o relatório faz uma simulação irrelevante: qual seria nossa posição se tivesse utilizado os números mais recentes da educação? O IDH seria de 0,754 e o país passaria ao 69º posto no indicador. Mas essa é uma hipótese absurda: supõe que os outros 186 países não tivessem feito progressos desde 2005.
A realidade é que o “Índice de Bem-Estar Social”, imaginado pelo economista e filósofo Amartya Sen, visto abaixo, mostra que melhoramos. O IDH apenas sugere que os outros também melhoram...
Fonte: aqui.
Marcadores:
Economia. IDH 2012. Antonio Delfim Netto.
sexta-feira, 22 de março de 2013
SOBRE A PAIXÃO AMERICANA
BEATLES: 50 ANOS DE PLEASE PLEASE ME
Primeiro álbum dos Beatles consolidou o rock
Por Thales de Menezes
Quem acredita que o rock and roll ajudou a formar sua personalidade ou influiu em seu comportamento, não importa a idade, precisa comemorar nesta sexta-feira.
No dia 22 de março de 1963, chegava às lojas de discos da Inglaterra "Please Please Me", o primeiro álbum dos Beatles. Para muitos, o mais importante da história.
É notório que o auge da banda foi com "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967), álbum que encabeça quase todas as listas de melhores discos do rock.
Depois que o gênero foi criado na década anterior por Elvis Presley, Bill Haley, Carl Perkins, Little Richard e outros pioneiros, uma enxurrada de novos "ritmos jovens" inundou o mercado fonográfico anglo-americano.
O rock correu o risco de definhar entre modas musicais como o twist e o calipso.
O sucesso de massa dos Beatles cruzou o Atlântico para disseminar entre os garotos a vontade de formar uma banda, numa dimensão que consolidou o rock até hoje.
Para um álbum que gerou tanto barulho e ainda está à venda 50 anos depois, até que "Please Please Me" foi gravado sem grande investimento.
BEATLEMANIA
Depois do lançamento do primeiro single da banda, "Love Me Do", em outubro do ano anterior, os Beatles começaram a excursionar sem parar pelo Reino Unido.
Era o início do fenômeno que o mundo chamaria nos anos seguintes de "Beatlemania" --no Brasil virou "iê-iê-iê", pelo som do refrão "yeah, yeah, yeah" em "She Loves You", que os Beatles lançariam em agosto de 1963.
Tanto sucesso nos shows fez o produtor George Martin idealizar a gravação do álbum como uma simples repetição das canções para prensar em vinil. Assim, alugou por duas sessões de três horas o estúdio da gravadora EMI, que depois ficaria famoso pelo nome de seu endereço, Abbey Road.
A ideia era gravar mais algumas faixas para juntar com as quatro lançadas em dois singles: "Love Me Do"/"P.S. I Love You" (outubro de 1962) e "Please Please Me"/"Ask Me Why" (janeiro de 1963).
Às 10h, Martin e os quatro Beatles começaram a gravar. As duas sessões agendadas não foram suficientes. O produtor conseguiu mais uma, no mesmo dia. O tempo total no estúdio foi de 9 horas e 45 minutos, para dez faixas.
Um dos maiores hits do disco --e do grupo-- também é o que tem a história mais curiosa. "Twist and Shout" exigia muito de John Lennon, com vocal forte, aos berros. E ele estava muito gripado no dia das gravações.
Martin resolveu deixá-la para ser gravada por último. E a voz de John resistiu a apenas uma tentativa, que é o vocal eternizado no vinil.
POR CONTA PRÓPRIA
Com oito canções escritas por Lennon e McCartney, "Please Please Me" esboçou um padrão que os Beatles buscariam sempre: compor e tocar todo o repertório.
A parada britânica na época era dominada por música romântica, e o álbum levou dois meses para chegar ao topo dos discos mais vendidos.
Permaneceu lá por 30 semanas consecutivas e só perdeu a primeira posição para... "With the Beatles", o segundo álbum do grupo.
O resto é história. A história da música pop. (Fonte - inclusive com vídeos de The Beatles: aqui).
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Pivete ouvindo no rádio The Beatles, cinquenta e um anos atrás. Impacto é isso!
Marcadores:
Música. The Beatles. Beatles. Please please me.
quinta-feira, 21 de março de 2013
VERÍSSIMO: É PELÉ
Sem exagero
Por Luis Fernando Veríssimo
Fizeram um encontro meu com o Abel Braga quando ele estava treinando o Internacional, e descobrimos uma coincidência. O primeiro jogo que ele viu no Maracanã, ainda garoto, ao lado do pai, foi o último que eu vi, já nada garoto, perto de me casar. Santos e Milan, novembro de 1963.
Até então eu não perdia jogo do Botafogo, da seleção ou do Santos no Maracanã. Morava no Leme e pegava o ônibus Leme-Triagem, atravessava a pé a Quinta da Boa Vista e ia para a arquibancada. Sim, o Santos jogava suas partidas decisivas no Maracanã. O Maracanã enchia para ver o Pelé. Mas no jogo que o Abel, eu e uma multidão vimos o Pelé não jogou. O herói da noite foi o Almir. O Pelé da noite foi o Almir.
Volta e meia, vem a discussão. Pelé era mesmo tudo que se diz dele? O Maradona era melhor? O Messi é melhor?
Meu testemunho não interessa. Ele reinou quando já havia videotape. Seus feitos estão bem documentados. Você não precisa recorrer à literatura para contar às crianças como era o seu futebol — ao contrário das façanhas de gente como Ademir e Zizinho, que ficaram na memória dos velhos e em filmes desbotados, nenhuma das duas coisas muito confiável.
E o grande mérito de Pelé é que ele resiste ao videotape completo. Se tivesse ficado só em filme, só os seus grandes momentos estariam registrados. Já o videotape completo traz tudo: o passe errado, o tombo sentado, a chuteira desamarrada. E Pelé resiste aos detalhes. Ele era bom até amarrando a chuteira.
Com o futebol aconteceu um pouco do que aconteceu com a guerra: quanto mais realista a sua reprodução, mais difícil romanceá-la.
Quando só se viam cenas de guerra em quadros épicos em que até os cadáveres colaboravam na composição, ela podia ser glorificada sem contestações, salvo as estéticas. Fora as gravuras de Goya, não se conhece um quadro sobre a guerra, antes da invenção da fotografia, que não a exaltasse.
A fotografia primitiva roubou da guerra a cor e a composição artística, o filme e o tape dinamizaram o horror, o zoom destacou o detalhe. Ainda há quem ame a guerra, mas nunca mais a percepção dela foi a mesma.
E o futebol também mudou, o que só aumentou a dificuldade em julgar jogadores antigos pelas precárias imagens que ficaram deles e pelo que contam — com o inevitável toque romântico do exagero — os que os viram jogar. Algumas das grandes reputações do passado sobreviveriam aos cinco no meio e à marcação no campo todo de hoje?
Pelé pegou o começo do futebol sem espaço. Não só se impôs como deixou o exemplo de como sobreviver no sufoco. A extrema objetividade (nunca se viu um drible do Pelé apenas pela satisfação do drible, era sempre um espaço conquistado), a antecipação da jogada seguinte antes mesmo de a jogada presente começar, a solidariedade, a simplicidade. Melhor do que Maradona, melhor do que Messi, e dou fé. (Fonte: aqui).
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Ao que um fã do Veríssimo observou: "O título do post é Veríssimo: é Pelé, mas os dois pontos podem ser sacados, que a pertinência persistirá."
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Ao que um fã do Veríssimo observou: "O título do post é Veríssimo: é Pelé, mas os dois pontos podem ser sacados, que a pertinência persistirá."
UM MICROCONTO PARA PIRACICABA
Perfil do microconto: máximo de 140 caracteres, incluindo o título, pontuação e espaçamento. Um único microconto por participante. Tema livre, com teor humorístico.
Regulamento: aqui.
quarta-feira, 20 de março de 2013
SOPA DE LETRINHAS ENEM
César.
Entreouvido na redação (no caso, redação de jornal, de revista, de veículo - veículo sim, mas não de rodas, claro - de comunicação) após constatada infinidade de erros em redações elaboradas por candidatos aprovados no Enem:
- Erros não são tão relevantes. O importante é dar o recado. No fundo, Zé Simão, o Macaco Simão, da Folha, está correto: no Brasil, todo mundo escreve errado, mas todo mundo entende o escrito!
Rizos (com z. Ou seria com s? Tanto faz).
Nota: Jornalões e outros veículos que divulgaram com estardalhaço a notícia também incorrem em deslizes. Veja aqui.
Marcadores:
Charge. Enem. Redação Enem. Enem 2013. César.
MENSALÃO REVISITADO
Da coluna Painel, jornal Folha de São Paulo, edição de ontem, 19:
"Esqueçam... O ministro Luiz Fux mandou apagar suas intervenções das notas orais do STF (Supremo Tribunal Federal) contendo todo o debate em plenário durante o julgamento do mensalão.
... o que eu disse Entre as falas agora apagadas estava uma que contrariou os advogados, por sugerir que caberia à defesa provar a inocência dos réus (grifo deste blog). Os ministros estão liberando aos poucos suas notas orais para o sistema de informática da corte.
Veja bem A assessoria do ministro afirma que tudo que ele disse durante o julgamento constará no voto, e que foram excluídas as declarações para evitar um documento muito longo. Além disso, justifica que outros ministros fizeram o mesmo."
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Post publicado por este blog em 22 de agosto de 2012 (aqui):
"AULAS DO MENSALÃO
Merece registro a iniciativa de algumas instituições de ensino, de destacar estudantes de Direito para assistir a sessões de julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Nesta semana, por exemplo, compareceram estudantes de Balsas (MA), sequiosos dos ensinamentos a serem ministrados pelos doutos julgadores do chamado processo do Mensalão.
Infelizmente, depois de juízos formulados fora dos autos, da não consideração da subsunção do(s) ato(s) praticado(s) aos tipos penais e do entendimento externado pelo ministro Fux consistente em que o ônus da prova cabe ao acusado, os professores certamente terão fortes ressalvas a oferecer a seus aplicados apreciadores do Direito Penal."
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Mais sobre o Mensalão (melhor dizendo: sobre a violentada Teoria do Domínio do Fato): aqui.
terça-feira, 19 de março de 2013
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E SÃO JOSÉ DOS SERTÕES
Seca no estado da Bahia
Por Manoel Bomfim Filho
A seca já se instalou nos sertões do estado da Bahia produzindo os seus efeitos negativos e nefastos sobre a economia dos agricultores. Não é uma seca inusitada, mas prevista de longas datas pelos estudos do Instituto de Atividades Espaciais-(IAE) de São José dos Campos. Esta previsão foi chamada de “Prognóstico do Tempo a Longo Prazo”. Baseia-se em interpolações e pesquisas cuidadosas fundamentadas no histórico pluviométrico da região nordeste.
A cada 26 anos, ocorre uma grande seca, como aconteceu a de 1979/84 quando o DNOCS e outros órgãos dos estados nordestinos receberam antecipadamente relatórios sigilosos analisando e alertando para o que iria ocorrer. Não é um modelo matemático na acepção do termo, mas um “Método Estatístico de Correlação,” estudo que passou a merecer toda a credibilidade dos técnicos e dos poderes administrativos.
Fizemos, pessoalmente e por curiosidade, uma regressão com o perfil senoidal das secas acontecidas desde a chegada de Tomé de Sousa ao Brasil. A coincidência foi magistral, a cada 26 anos a senóide entra no seu ramo descendente apontando exatamente as secas ocorridas na região em séculos passados. Exemplificamos só algumas: 1582/84-1777/80-1877/80 -1930/33 1957/59 e por aí vai a ciclometria das Secas.
Não é uma equação, é um modelo que pode sofre alterações nas datas presumidas das secas para mais ou para menos devido à complexidade da trama atmosférica que foge aos domínios de técnicos, meteorologistas e cientistas. Esta seca instalada agora, sobretudo no estado da Bahia, promete durar todo o ano de 2012 e também por todo o ano de 2013.
Neste estudo, procuramos mostrar o sistema ondulatório dos períodos de chuvas escassas indicando a projeção das estiagens que afligem a região.
Analisemos agora o Semiárido baiano. O Semiárido dos quatro estados Ceará, Paraíba, R. G. do Norte e Pernambuco soma uma área total de 327.000 km² e o da Bahia sozinho tem área de 320.000 km², praticamente igual.
Desde o final do século XIX aqueles estados começaram a luta pela geração de água construindo açudes de maneira obstinada. A seca de 1877/80 foi tirana ceifando 500.000 vidas, 10% da população nordestina que era na época de 5.000.000 de habitantes. Uma grande calamidade. Morriam de fome, sede, tifo, bexiga e outras endemias. Uma grande tragédia registrada na história do Nordeste e jamais esquecida.
Juntar água foi, então, o grande objetivo de todos os nordestinos uma vez que estes reservatórios se tornaram essenciais para minorar os terríveis efeitos da seca. O açude é um núcleo de vida, de atividade social e econômica, sobretudo nos períodos calamitosos de secas.
A nucleação em torno da açudagem foi de tal importância que os nossos técnicos se tornaram os maiores barrageiros do mundo e ao longo do século XX construíram a maior rede de açudes do planeta Terra, mais de 70.000 açudes armazenando 40 bilhões de m³ de água, volume igual a 16 baias da Guanabara. O sertão virou mar.
O Semiárido baiano, entretanto, ao longo do século XX, ficou totalmente esquecido pelos governantes apesar da sua mais baixa pluviosidade. Não participou da epopeia nordestina gerando e acumulando água para os períodos inditosos. Não tivemos um programa específico e determinado de construir uma estrutura hídrica.
O Estado já tinha tudo, “Cacau, Petróleo e Paulo Afonso, as riquezas da Bahia”, um jingle eleitoral. O cacau declinou, o petróleo, o maior produtor em terra, é, hoje, o R.G. do Norte e Paulo Afonso é de todo o Nordeste.
Construímos, tão somente, cerca de 150 açudes de pequeno e médio porte armazenando 1 bilhão de m³. Toda nossa água armazenada cabe num único açude do Ceará, o Araras, que acumula 1 bilhão de m³.
Em 1882, há 130 anos passados, o Rio G. do Norte já tinha açude acumulando 600.000 m³ de água. Em 1934, o Ceará já armazenava um bilhão de m³ o que hoje acumula a Bahia.
O nosso Semiárido possui uma excelente rede filamentar de rios e riachos intermitentes podendo construir um portentoso programa de açudagem, mas nada foi feito.
Vejamos mais, o rio São Francisco banha 850 km no Estado pela margem esquerda, de Carinhanha a Casa Nova, e 1.300 km pela direita, de Malhada a Paulo Afonso. São mais de 2.000 km lindeiros, mas não possuímos uma só adutora adentrando-se pelos nossos sertões. O estado de Sergipe, com 250 km de rio, tem cinco adutoras levando água aos seus municípios.
O Semiárido baiano se constitui, portanto, na maior solidão hidro geográfica do Brasil. Não estamos preparados para enfrentar a grande seca de 2012/13. Os nossos administradores foram sempre absenteístas em relação a esta grande hinterlândia baiana. São 269 municípios, 57% da área do Estado, carentes de estrutura hídrica.
O programa de cisternas é excelente para as famílias sertanejas, já é um avanço, mas é água doméstica, mitiga a sede, mas não gera economia.
Temos, portanto, um Semiárido pobre, mas prenhe de riquezas naturais. A caatinga com suas 922 espécies botânicas é um bioma único no mundo. Por ser pouco explorada, esta grande área mantém ainda uma rica vegetação xerófila, verdadeiro baluarte contra a desertificação devido a sua intensa inflorescência para a perpetuação das espécies.
Esta rica fitogeografia é um paraíso, o melhor do mundo para o desenvolvimento de um vigoroso programa de apicultura orgânica. O Semiárido baiano, este grande sertão dilatado, pode produzir cerca de 120.000 toneladas de mel por ano, três vezes o que todo o Brasil produz.
A faveleira, euforbiácea leguminosa, nativa dos nossos sertões, é, ainda, um diamante bruto da caatinga á espera de lapidação. Ela, sozinha, redimirá o Semiárido baiano com a produção de um finíssimo óleo de mesa que substituirá, com vantagens, o óleo de oliva, além da sua excelência como forrageira para caprinos, riquíssima em proteínas. Existem muitas outras riquezas naturais, mas permanecem inexploradas na estática do nada.
Estas potencialidades naturais da região não fazem, entretanto, nenhum progresso sem que haja o empenho da sociedade e dos poderes constituídos. O Semiárido setentrional está anos-luz a frente do baiano, preparado para a grande seca e nós aqui no estado da Bahia ainda estamos de calças curtas.
(Eng. Manoel Bonfim Ribeiro, ex-presidente do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs)
http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_NOTICIA=7302
http://www.upb.org.br/uniao-dos-municipios-da-bahia/informativos-e-notic...
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Ao que se observa, a situação do semiárido baiano é ainda mais dramática do que, por exemplo, a do semiárido piauiense. O que, convenhamos, não representa grande coisa, tamanha a dramaticidade geral produzida pela seca. Resta-nos torcer para que o tal Prognóstico do Tempo a Longo Prazo se revele incorreto e o desastre não se materialize. Seria como se o São José dos Sertões aplicasse um piparote em São José dos Campos, sede do Instituto de Atividades Espaciais...
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