Por Carlos Alberto Mattos É a própria Marília Pêra, e só ela, que se narra em Viva Marília. E não precisava de mais do que isso. A verve da moça em entrevistas, tal como nos palcos, era suficiente para dimensionar uma das atrizes mais completas já surgidas no país.
Nascida numa família de teatro, Marília estreou na ribalta aos nove dias de idade, no colo de uma atriz. Aos quatro anos, morria no papel da filha de Medeia. Dali em diante, não parou mais: teatro, circo, balé, canto, televisão, cinema. Sempre esfuziante, descobrindo humor até em tragédias. Ninguém imitava Carmen Miranda como ela, nem era capaz de passar com tanta naturalidade da comédia para o sapateado.
O documentário de Zelito Viana reúne arquivos preciosos de sua carreira e surpreende com a quantidade de (boas) imagens de Marília criança, já então dando mostras do talento que desabrocharia mais tarde. O roteiro do ex-marido Nelson Motta, a pesquisa de Remier Lion e a montagem de Jordana Berg garantem um fluxo cativante de histórias, testemunhos e (muitos) excertos de teatro, televisão e cinema. A codireção é assinada por sua filha Esperança Motta.
Nessa viagem por algumas décadas das artes cênicas brasileiras, a fisionomia de Marília passou por tantas mudanças que às vezes é difícil reconhecê-la nesta ou naquela cena. Como resultado de tanta maleabilidade, ela se dizia um amálgama de suas muitas personagens. “Eu fiquei com um pouco de cada uma delas, e de mim mesma não sobrou nada”, diz com um misto de piada e realidade na peça Viva Marília, de 1972.
Embora tenha sido uma atriz eminentemente teatral, Marília guardou boas lembranças do cinema. De Eduardo Coutinho, por exemplo, com quem estreou na tela grande em O Homem que Comprou o Mundo e fez um de seus últimos trabalhos em Jogo de Cena. Ou de Pixote – a Lei do Mais Fraco, que lhe permitiu assumir o despudor de atuar também para uma câmera.
Viva Marília também tangencia seus casamentos e sua vida de mãe, ambos difíceis de conciliar com a labuta artística. Mas o foco do filme está mesmo na exuberância de uma intérprete excepcionalmente bem dotada. Sem Marília Pêra, os palcos brasileiros ficaram um tanto mais vazios. - (Blog Carmattos - Aqui).
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