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(Rita brilhando - E o porquê da ausência dos Mutantes)
Dois documentários trazem Rita Lee (1947-2023) de volta às nossas conversas. Em Ritas, de Oswaldo Santana e codirigido por Karen Harley, a estrela narra-se a si mesma com base no livro Rita Lee – Uma Autobiografia, o primeiro de dois em que Rita desfiou sua história. O segundo tratava mais de seus últimos anos de luta contra o câncer e a pandemia Covid-19. Ritas chegou aos cinemas ontem, 22 de maio, Dia de Santa Rita de Cássia e agora também Dia de Rita Lee desde que a cantora o escolheu como seu aniversário afetivo. (E o porquê da ausência dos Mutantes)
Já Rita Lee: Mania de Você, de Guido Goldberg, escala o jornalista Guilherme Samora, amigo e organizador das memórias de Rita, para conduzir a narrativa. Esse está na plataforma Max desde 8 de maio.
Em ambos os filmes, chama atenção a ausência da fase de Rita com Os Mutantes. O fato é que a ruptura entre eles, com a expulsão de Rita em 1972, nunca foi contornada. Quando Paulo Henrique Fontenelle fez Loki, sobre seu ex-parceiro e ex-marido Arnaldo Batista, Rita não quis dar seu depoimento no filme. Agora, a produção de Rita Lee: Mania de Você não recebeu resposta de Arnaldo ao pedido de autorização de imagens e músicas.
Por Carlos Alberto Mattos
Ritas é mais uma cinebiografia em primeira pessoa póstuma no cinema brasileiro. Ou seja, até certo ponto, já que Rita Lee muitas vezes falava de si mesma na terceira pessoa. Uma Rita já idosa pontua o filme dirigindo-se à câmera para revisitar suas lembranças, mostrar fotografias da infância, falar dos seus bichos de estimação e mostrar que continuava irreverente, mesmo que já temperasse o pensamento com menções a Deus e à autoajuda.
O filme de Oswaldo Santana e Karen Harley faz uma espécie de gangorra entre a maturidade e as outras idades de Rita. O período Mutantes é rapidamente mencionado, como que somente para não ficar fora de todo. Mais destaque é dado ao sofrimento de Rita com a expulsão. “Chorei três meses sem parar”, confessa.
Lá estão as diversas personas de Rita na televisão, nos palcos e em videoclipes. As intervenções da “colunista social” Adelaide Adams, a encarnação de um mecânico casca grossa contracenando com Gilberto Gil, a imitação de Raul Seixas e os duetos escancarados com Bethania, Caetano e Elis Regina são alguns momentos impagáveis do acervo trazido à tona. A pluralidade de Rita fica mais que evidente.
O reconhecimento aos Tropicalistas pelo impulso de liberdade musical recebido, o chamego com o marido e parceiro Roberto de Carvalho e as brincadeiras com Hebe Camargo dão mostras de como Rita combinava atrevimento e ternura. Era uma roqueira repleta de alma.
Ainda assim, Ritas fica alguns quarteirões aquém de oferecer a mais completa tradução de Rita Lee. O filme é pouco mais que uma colagem esperta de arquivos, salpicada de efeitos psicodélicos. É bom de ver e ouvir, sem dúvida, mas faltou o salto que o fizesse transcender a mera evocação.
Por Paulo Lima
O documentário Rita Lee: Mania de Você é um carrossel de emoções da primeira à última cena. O diretor Guido Goldberg se valeu de uma profusão de imagens de arquivos familiares inéditos para contar a história da rainha do rock brasileiro, morta aos 75 anos em 2023.
As filmagens começaram quatro semanas antes da partida da artista, portanto ainda sob o impacto da iminência de sua perda. O resultado é um mergulho na intimidade de Rita Lee jamais visto.
A produção teve o apoio integral do marido e parceiro Roberto de Carvalho e dos três filhos de Rita Lee, fato que permitiu franquear o acesso a informações preciosas sobre a cantora e compositora.
A cronologia estabelecida é diluída num mosaico de informações em que Rita aparece em suas múltiplas dimensões e fases, que vão do início da carreira até o seu desenlace.
Para nos guiar no fio condutor da trajetória musical de Rita, o documentário contou com a participação do jornalista Guilherme Samora, que apresenta um roteiro enriquecedor das fases musicais da artista, desde seu début na banda Tutti Frutti até a gênese e apogeu na carreira solo ao lado de Roberto de Carvalho.
Os fãs estranharão a ausência de informações a respeito da história de Rita com os Mutantes, mas consta que essa etapa importante não foi mencionada no documentário por questão de autorização de uso de imagens e sons.
Particularmente, senti falta apenas de alguma menção à faceta da Rita Lee escritora, revelada em livros de fundo autobiográfico e ficcional que alcançaram grande sucesso editorial.
De resto, os fãs de Rita Lee terão com o documentário a rara oportunidade de privar de sua proximidade e se emocionar a cada minuto com sua verve pessoal e artística de mulher desbravadora e original, que rompeu com tabus e paradigmas. - (Blog Carmattos - Aqui).
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Às voltas com os documentários sobre Rita Lee, de repente sou surpreendido pela notícia da partida do monumental fotojornalista Sebastião Salgado, aos 81 anos. Uma enorme tristeza. Pêsames ao Brasil e ao Mundo.


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