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"Historiador especializado em estudos sobre o fascismo, o autor se preocupa em definir cada termo empregado com precisão e profundidade, enumerando exemplos e comparando diferentes experiências políticas ao redor do mundo."
O livro Aspirantes a fascistas é uma contribuição imensa às intermináveis discussões sobre como definir governantes que corroem a democracia por dentro. Na obra, lançada no Brasil no fim do ano passado, o historiador argentino Federico Finchelstein – professor da New School for Social Research e da Eugene Lang College, em Nova York – defende o uso da expressão wannabe fascists (“aspirantes a fascistas”) para expressar a ameaça que representam Donald Trump, Jair Bolsonaro, Viktor Orbán, Narendra Modi e companhia.
Historiador especializado em estudos sobre o fascismo, o autor se preocupa em definir cada termo empregado com precisão e profundidade, enumerando exemplos e comparando diferentes experiências políticas ao redor do mundo. Ele aponta, por exemplo, quatro pilares fundamentais que compõem um regime fascista: violência política, propaganda e desinformação, xenofobia e ditadura. No caso de Donald Trump e Jair Bolsonaro, faltaria apenas um último para completar o bingo fascista, já que eles foram eleitos democraticamente. Isso não significa que sejam menos perigosos. Finchelstein argumenta que, ao contrário das antigas ditaduras militares que prosperaram na América Latina, figuras como Bolsonaro tentam empurrar aos cidadãos o fascismo como democracia. (Aliás, nada disso impede que os aspirantes a fascistas tentem destruir depois a própria democracia que os elegeu e completar o bingo – vide as investigações sobre a tentativa de golpe ensaiada pela cúpula bolsonarista.)
Para entender os atuais “aspirantes a fascistas”, o autor faz uma revisão histórica dos governos populistas (como o do presidente Getúlio Vargas) e defende que os atuais governantes autoritários são uma mistura inédita – e mais perigosa – de características fascistas e populistas. “Os populistas no poder durante todo o século XX, especialmente depois de 1945, mentiram de maneira mais parecida com os políticos mais típicos, ou seja, mentiram sem acreditar em suas mentiras. Juan Domingo Perón e Silvio Berlusconi, por exemplo, eram mentirosos como todos os outros. Prometiam coisas que não podiam e não iriam fazer”, argumenta Finchelstein. “Já os aspirantes a fascistas mentirosos são diferentes.”
Para ele, esses novos governantes criam uma realidade alternativa que transcende os fatos e confirma a visão fascista do mundo que eles propõem. No Brasil, sabemos exatamente do que Finchelstein está falando. Por isso mesmo, seu livro é assustadoramente atual. O autor acerta em não minimizar os componentes abertamente fascistas desses governos, ainda que o contexto histórico atual seja diferente daquele que deu origem aos fascistas originais.
Por ser argentino, Finchelstein dá especial atenção a exemplos concretos do Sul global, que costumam ficar esquecidos nas análises políticas internacionais. Também não poupa críticas a Trump e à fragilidade da democracia americana. De quebra, ainda deixa um alerta: “Líderes como Trump e Bolsonaro ainda estão brincando de experimentar formas de destruir a democracia de maneira mais eficaz.” - (Fonte: Revista Piauí).

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