Tereza Cruvinel:
A Folha de S. Paulo agora é "um jornal a serviço da democracia". Ótimo. Mas não aspire a Folha ao título de campeã da democracia nem pretenda que vistamos amarelo a seu pedido. E não apenas pelo apoio à ditadura - mais que um "erro", como diz o editorial de ontem, um crime que não pode ser esquecido. Na democracia da Folha, em tempos recentes, faltou compromisso com o pluralismo, sobrou intolerância e houve aversão ao resultado das urnas, quando os eleitos, como Lula e Dilma, a contrariam. Injetando ódio no antipetismo, o jornal foi co-artífice do golpe de 2016, ajudando a abrir caminho para Bolsonaro.
Sobre a ditadura, a Folha agora vai dar um curso, ministrado em quatro módulos pelo jornalista e escritor Oscar Pilagallo, um ex-funcionário. O terceiro abordará o período pós AI-5, o mais infame e cruel, em que a tortura, as mortes e desaparecimentos tornaram-se práticas do terror de Estado. Também neste período a Folha apoiou o regime, ao contrário do que disse no editorial de ontem:
"A censura calava a imprensa, que apoiou o novo regime num primeiro momento, caso desta Folha, que errou. Este jornal viu-se rapidamente engalfinhado pelo novo sistema de poder, perdendo a capacidade de reagir antes mesmo de percebê-lo."
Não foi só no primeiro momento, nem a Folha se engalfinhou com o regime. Não foi obrigada a colaborar, como outras empresas, com a montagem da Operação Bandeirantes, a tenebrosa Oban. E isso já é História.
No relatório final da Comissão Nacional da Verdade está documentado que o Grupo Folha deu não apenas apoio financeiro e ideológico ao golpe de 1964, mas apoio material e operacional à repressão e à caçada dos opositores do regime, já depois de 1968 e do AI-5; emprestou veículos de distribuição do jornal para a realização de tocaias contra militantes, muitos deles mortos no local, mesmo não tendo reagido.
O relatório da CNV lista diversas empresas que ajudaram a montar a Oban, embrião do sistema Doi-Codi. Recorre à tese de doutorado da pesquisadora Beatriz Kushnir - "Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988", que “constatou a presença ativa do Grupo Folha no apoio à Oban, seja no apoio editorial explícito no noticiário do jornal Folha da Tarde, seja no uso de caminhonetes da Folha para o cerco e a captura de opositores do regime”. A Folha sempre negou o uso dos carros mas muitos presos e torturados falaram da presença deles nas operações da repressão. - (Fonte: Aqui).
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Nos Anos Oitenta, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou projeto de emenda constitucional defendendo eleições diretas para Presidente da República, o que motivou a campanha nacional Diretas Já, simbolizada pela cor amarela. O amarelo se alastrou País afora. Fiz bonito no Salão Internacional de Humor do Piauí, com a charge acima (charge que o tempo se encarregou de transformar em cartum).
Bem, a proposta foi rejeitada pelo Congresso, mas entrou para a História - e em sua esteira o trabalho em destaque.
Eis que agora a Folha se 'apropria' da cor amarela, em contexto diverso do apresentado na histórica campanha pelas Diretas...
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