quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O PORQUÊ DO ESTADO DE COISAS

O general Golbery do Couto e Silva, emérito conselheiro do general Geisel, teria comentado nos anos de chumbo, diante do poder monumental do SNI, Serviço Nacional de Informações, literalmente incontrolável pela Cúpula: "Criamos um monstro". Nesses tempos estranhos, é de perguntar-se: Quem construiu as condições para que o ódio aflorasse? Desde quando se desenvolve esse processo? Quantos hoje, em nosso País, admitem a perspectiva de que a barbárie prospere e venha a se estabelecer? Quem se omitiu, quem ignorou, quem distorceu as diretrizes alinhadas em cláusulas pétreas da Constituição da República? Faz sentido, agora, certas pessoas se dizerem surpresas ante a ascensão do senhor Bolsonaro, que, frise-se, está agindo segundo as normas eleitorais?  
(Barbárie, por Pedro Franz).
Bolsonaro no JN: o discurso fascista encontra quem fez vista grossa à barbárie
Por Tiago Barbosa
A fúria indomável do Jornal Nacional contra Ciro Gomes temperou a expectativa de ver os âncoras peitarem Jair Bolsonaro, candidato cuja linguagem é um mix de fake news de whatsapp com bordão fascista das passeatas antipetistas.
Era a chance de deixar nua a debilidade das propostas e esvaziar o discurso de ódio do ex-militar, alçado ao estrelato das pesquisas eleitorais pela lacuna civilizatória e política instalada com os abusos da Lava Jato.
Mas os entrevistadores falharam com tentativas toscas de exigir complexidade de um presidenciável cujo compromisso com a humanidade se resume a andar de pé - e não de quatro como seria mais alinhado ao conteúdo das suas declarações homofóbicas, misóginas e racistas.
Bonner e Renata Vasconcellos repetiram erros de entrevistas passadas ao tentar extrair de Bolsonaro constrangimento sobre demonstrações públicas de preconceito e burrice.
Em vão. O candidato logrou visibilidade justamente por se alimentar da barbárie para a qual a mídia fechou os olhos, em anos recentes, porque era necessário extirpar o PT da vida pública.
Bonner ousou falar de corda em casa de enforcado e ficou desmoralizado quando o ex-militar disparou “Eu fico com o Roberto Marinho”, em alusão ao apoio da emissora ao golpe de 1964 - reconhecido pela empresa 50 anos depois.
A vergonha é redobrada porque a Globo é acusada por forças progressistas de liderar o golpe parlamentar de 2016 aplicado contra Dilma Rousseff e estendido ao ex-presidente Lula - silenciado em uma cela após uma condenação sem provas assinada por um juiz protegido pela emissora.
As reações de Bonner e Renata se resumiram a frases balbuciadas e quase inaudíveis: “Não vai fazer nada sobre desigualdade salarial (entre homens e mulheres)”, “o senhor concorda com isso (retirada de direitos do trabalhador)”, afirmaram de forma contida.
A atitude mais enérgica se deu quando Bolsonaro tentou acusar a Globo de remunerar de forma diferente homens e mulheres. “Pago o seu salário”, chegou a dizer a apresentadora.
Ele já havia acusado a empresa de “pejotizar” os funcionários - prática comum entre as empresas de mídia para cortar benefícios dos trabalhadores.
Voluntário na ignorância, truculento por vida e oportunismo, o candidato ainda usou o tempo na TV para defender abertamente o direito de policiais matarem com respaldo do estado - apologia ao vivo, para milhões de pessoas, em um país conflagrado pelo extermínio de jovens, negros e pobres pelas mãos da criminalidade e de parte de uma polícia assassina.
Os âncoras silenciaram - assim como sempre se calaram o Ministério Público e o Judiciário, cujo exemplo de omissão mais recente remonta ao adiamento do julgamento de Bolsonaro, à tarde, por ter se referido a negros como animais, pesados em “arrobas”.
O pesquisador Jessé Souza defende a tese segundo a qual Bolsonaro é filho da Lava Jato com a Globo, ou seja, do abuso corporativo com o antipetismo midiático, do fascismo com a seletividade e a omissão.
Ao fim do JN, Bonner releu fragmento do editorial no qual a Globo reconhece o apoio equivocado no golpe de 1964.
Surtiu pouco efeito.
Enfrentar a tirania de Bolsonaro exigiria da mídia revisar o próprio papel antidemocrático manifestado, cotidianamente, no desprezo às bandeiras e aos candidatos progressistas.
Mas isso nem a ONU conseguiu mudar.  -  (Aqui).

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.Clique AQUI para conferir "Bolsonaro usa JN de escada", por Luis Nassif.

.Clique AQUI para ler "Em debate não se fazem propostas. Em debate se vai à guerra", por Gilberto Maringoni.

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