quinta-feira, 4 de maio de 2023

HÃ?! IR AO IRÃ?!

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Eis o balanço inicial do périplo do notável crítico Carlos Alberto Mattos pelo Irã. O arremate virá oportunamente.


Por Carlos Alberto Mattos

De alguns amigos com quem primeiro comentei da minha viagem ao Irã, ouvi perguntas e exclamações do tipo: “Você está louco?” / “Não tinha um lugar mais tranquilo para visitar?” / “Vai prestigiar aquela ditadura teocrática que prende e executa?” / “O que vai fazer no Irã, afinal?”. 

Embarco para lá amanhã (quinta, 13/4) e respondo agora àquelas perguntas.

Para começar, não estou louco. Apesar do terror que a mídia ocidental promove a respeito do Irã e das tensões que existem de fato, aquele é um país extremamente tranquilo para turistas – desde que eles não se envolvam na política local e cumpram os preceitos ditados pela Revolução Islâmica. Estes são muito mais severos para as mulheres. Eu vou sozinho, gozando portanto de privilégios reservados aos homens, como andar com a cabeça e os braços descobertos.Haveria, sim, lugares muito mais tranquilos para visitar. Não sei de protestos na Nova Zelândia, por exemplo, nem de climas políticos nefastos na Noruega. Mas já viajei muito, e o Irã estava no meu radar há um bom tempo. Além do mais, todas as informações fidedignas que tenho dão conta de um país acolhedor, seguro, e uma gente extremamente hospitaleira – talvez até demais para o meu gosto. Para um visitante como eu, o Irã é um país absolutamente tranquilo.

Abyaneh

O regime dos aiatolás é de fato uma realidade cruel. Uma sociedade onde a religião dita as leis e o conservadorismo impera e mata não merece qualquer admiração. Acontece que eu não vou visitar o governo iraniano, mas o seu povo e sua cultura. Um povo que seguidamente tem resistido aos governantes totalitários, sejam eles monárquicos ou clericais. Hoje os iranianos escolhem presidente e parlamentares a partir de uma lista previamente estabelecida pelo Conselho dos Guardiães da Revolução, que tem poderes para vetar qualquer decisão que se oponha às leis islâmicas. A margem de oposição é, portanto, nenhuma. Todo desvio pode ser punido com prisão, cerceamento da cidadania e eventualmente morte.

O Irã tem uma história de glórias, derrotas e invasões sem que jamais tenha experimentado plenamente a democracia. Esperar que se torne democrático seria renunciar à experiência incomparável de conhecê-lo.

Mesquita em Shiraz

E o que vou fazer no Irã? Ora, vou botar os pés numa das matrizes da civilização humana. Os persas estão no mapa desde cerca de 2.000 A.C. O império persa foi o primeiro superpoder a dominar grande parte do planeta por mais de dois séculos. Em suas sucessivas dinastias, a cultura persa legou ao mundo uma infinidade de heranças artísticas, literárias, linguísticas, culinárias e religiosas – inclusive a primeira religião monoteísta, o zoroastrismo, ainda hoje praticado por uma minoria. Mais recentemente, o Irã nos presenteou com uma das melhores cinematografias do mundo.

Vou conhecer in loco alguns dos palácios, mesquitas e jardins mais deslumbrantes que se pode ver. Vou passear por localidades que permanecem intactas há séculos e outras onde abundam os luxos modernos. Depois de um longo voo via Dubai, meu trajeto vai compreender as cidades de Shiraz, Yazd, Nain, Isfahan, Abyaneh, Kashan, Qom e, por fim, a capital Teerã. No caminho, não perderei as ruínas de Persépolis e Pasárgada, as primeiras capitais do império Aquemênida, cujos nomes fazem voar nossa imaginação.

Ruínas de Persépolis

Organizei meu calendário de modo a passar os sete últimos dias do Ramadã já no Irã. Quero ver como é a vida dos muçulmanos durante esse período em que jejuam, inclusive de água, até o por do sol. E à noite se atiram em alegre comilança. A última noite do Ramadã (21 de abril este ano) é marcada por banquetes e uma grande celebração, o Eid al-Fitr.

Na minha preparação para a viagem, em meio a muitas leituras, filmes e vídeos, li três livros essenciais para quem escolhe esse destino: Descobrindo o Irã, da crítica de cinema e viajante Ivonete Pinto, Trágica e Bela – Uma Viagem pelas 1001 Faces da Pérsia e do Irã, de Lúcia Araújo, e Os Iranianos, do jornalista Samy Adghirni. São introduções vastas e deliciosas à história, à cultura e ao modo de vida iranianos.

                           (Ponte Em Isfahan)

Ainda não sei como será meu acesso ao Facebook, uma vez que a plataforma está banida pelos clérigos e os VPN são incertos no Irã. Se não conseguir postar minhas fotos diárias por lá, como costumo fazer em viagens, tentarei postar aqui no blog. Retorno no dia 30 de abril e então conto o resto.  -  (Blog Carmattos - Ir Ao Irã? - Aqui).

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