domingo, 7 de dezembro de 2014

A ÓPERA DO CONTRA


 "A ópera do impeachment começa a avançar para a primeira semifinal.

Todos os capítulos convergem para o relatório de Gilmar Mendes sobre as contas de campanha de Dilma Rousseff e do PT - que deverá ser apresentado nos próximos dias.

São várias linhas de ação, no estilo "joga-para-ver-se-cola".

A linha mais próxima é a tentativa de rejeitar as contas de campanha de Dilma e do PT, conforme já antecipado aqui há vários dias.

Como se recorda, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Antonio Dias Toffoli fez uma manobra que acabou entregando as duas relatorias ao Ministro Gilmar Mendes.  O relatório de Gilmar será entregue nos próximos dias.

Para preparar o terreno, nos últimos dias houve as seguintes manobras:

1. Hoje a Folha traz uma pesquisa Datafolha segundo a qual 60% dos brasileiros acham que Dilma está envolvida no escândalo. E a previsível Veja traz capa enfatizando ligações do Lava Jato com financiamento de campanha do PT.

2. Já era previsível que começassem as pressões sobre o Ministério Público e o STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, Veja esboçou o primeiro ataque, com uma nota sobre supostas negociações do PGR Rodrigo Janot com empreiteiras, visando tirar o governo das suspeitas. Não ousou mais que uma pequena nota que, já na segunda-feira, era repercutida pelo viking Aloyzio Nunes no Senado e se perdeu na balbúrdia da semana. Desde a campanha, a IstoÉ assumiu o papel de linha auxiliar dos quatro grandes. Esta semana fez uma capa sobre o tema. São ataques preventivos visando inibir a atuação do Ministério Público, no caso da operação impeachment deslanchar.

3. Nas tentativas de inflamar as ruas, até José Serra saiu das sombras para discursar em um comício pró-impeachment, visando suprir a ausência de Aécio Neves. A mídia tratou de transformar os 800 em uma multidão.

Ventos pró e contra
Em cima desse vendaval, já tiveram início as manobras oportunistas.

A Globo é o grupo decisivo nessas jogadas. Na semana passada, Dilma foi visitada por João Roberto Marinho, o mais diplomático dos irmãos Marinho.

Na sequência, o Jornal Nacional soltou matéria favorável a Dilma, desmentindo nota anterior, nas qual supostamente um dos delatores teria implicado ela e Lula nas operações levantadas pela Lava Jato.

Repare que nesse jogo, os fatos pouco importam.  Se não tem acordo, sai a versão. Havendo acordo, dá-se o desmentido. E o preclaro Ayres Brito sustenta que a liberdade incondicional de imprensa - inclusive abolindo até o direito de resposta - é pre-condição para o direito do cidadão à informação.

Ontem, já circulavam notícias de que Dilma deixará para o segundo semestre a questão da regulação econômica da mídia; e não pretende mexer na questão da propriedade cruzada, para não embaralhar demais o meio campo. Pretender regular economicamente a mídia sem mexer na propriedade cruzada é o mesmo que ir a uma ópera com um protetor de ouvidos.

Nos próximos dias, as movimentações do Congresso e das manchetes de jornal elevarão a temperatura. Depois, caberá a Gilmar Mendes medir a temperatura, para avaliar até onde poderá avançar com seu relatório.

Conhecendo-se a falta de limites de Gilmar, a probabilidade maior é que vá longe.

Gilmar é tão sem limite que, em entrevista recente à revista Veja sustentou que a jurisprudência do Supremo tende a considerar que direito de resposta - norma constitucional - em publicação impressa fere a liberdade de imprensa."





(De Luis Nassif, no Jornal GGN, post intitulado "A ópera do impeachment perto do primeiro grand finale" - aqui. A despeito da avalanche de más notícias vazadas de processo judicial 'sigiloso' e de matérias inflando aspectos negativos, a imagem da presidente da República segue a mesma observada em outubro: 42% consideram sua gestão boa/ótima, segundo o Datafolha. Outro ponto importante: as 'acusações' formuladas por envolvidos na operação Lava Jato carecem de comprovação; a mídia pode considerá-las fidedignas a priori, como vem fazendo, mas no âmbito processual a história é outra. 
Uma providência inevitável: a mudança radical do processo licitatório; a lei 8.666 se revela inteiramente desmoralizada, e a sua 'versão especial', objeto de decreto do governo FHC feito especialmente para assuntos da Petrobras, pior ainda).

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