segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
A PREMIAÇÃO DE MARINA SILVA
Direita financista dá prêmio de consolação a Marina Silva
Por Miguel do Rosário
A notícia: Marina foi considerada uma das “mulheres do ano” pelo Financial Times.
Palmas para ela.
Agora vamos às críticas.
Os “gringos” adoram Marina Silva, isso é um fato que ficou notório após a homenagem que fizeram a ela na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres.
Marina representa tudo o que eles gostariam de ver numa líder política brasileira: submissão aos ditames do mercado financeiro e a estranha determinação de apostar no atraso como estratégia de desenvolvimento.
A Inglaterra, então, ama Marina com paixão, porque é o país onde a mentalidade colonial mais se arraigou.
Origem da revolução industrial, a Inglaterra melhorou a situação de seus trabalhadores transferindo o peso da opressão para o resto do mundo.
Deu certo para os ingleses, mas ajudou a produzir miséria na África e na Ásia.
Através de sua imprensa, a elite inglesa fez campanha por Marina Silva, depois para Aécio.
Marina Silva era mais palatável, porque a sua imagem, colada à bandeira ambientalista, vai ao encontro das fantasias pós-coloniais da maioria dos ingleses.
O Financial Times pertence ao grupo Pearson, uma espécie de super Abril britânica.
O grupo começou no setor da construção civil e chegou a ser a maior empreiteira do mundo. As relações de poder entre a metrópole e suas colônias eram fundamentais, naturalmente, para o sucesso da companhia.
Hoje a Pearson atua no bilionário mercado de livros didáticos, cujos maiores clientes são governos.
Tudo isso ajuda a entender a cultura colonial da corporação.
A Pearson fez campanha para Marina Silva, através do Financial Times, que publicou ao menos duas matérias laudatórias sobre a candidata, antes do primeiro turno.
Em seguida, já no segundo turno, fez campanha para Aécio, através da Economist, que é 50% dela.
E agora a Pearson, através do Financial Times, dá um prêmio de consolação pela dupla derrota da candidata, que não apenas deixou de ir ao segundo turno, como apoiou, na segunda etapa, o candidato perdedor.
O prêmio ajuda a confirmar a teoria que sempre levantamos, sobre Marina ser a representante do mercado financeiro internacional, teoria que ela mesmo ajudou a consolidar quando passou a defender, como sua principal bandeira eleitoral, a independência do Banco Central. (Fonte: aqui).
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Algo deve ser destacado a propósito de Marina Silva: ela tem talento. Foi simplesmente inesquecível sua performance quando, num comício em Fortaleza, na campanha eleitoral, a candidata, singela, sofrida, trajes "madre-tereza", olhar perdido na distância, afirmou, voz embargada: "Eu sei o que é passar fome...". E repetiu, quase sem conseguir conter uma lágrima furtiva: "Eu sei o que é passar fome...". Comovente. Arrebatador. (Dias depois, a jornalista responsável pela biografia de Marina - um compêndio com cerca de 500 páginas, ao que consta - declarou que a candidata jamais falara em fome nas muitas entrevistas a ela concedidas para preparação do livro, observando algo como "Marina viveu uma infância e adolescência difíceis, apertadas, mas não a ponto de passar fome").
Performance número 2: as fotos em que Aécio Neves beija as mãos da candidata derrotada no primeiro turno e que poucos dias atrás anunciara apoio ao mineiro: conjunto saia e blusa elegantes, cinto caprichado, cabelos presos por lacinho atrás, mas com madeixas descendo charmosamente pelas costas, sorriso esfuziante, olhar vivaz - a ponto de Maurício Rands, coordenador de sua campanha, observar, logo após: "Se tivesse mostrado todo esse charme desde o início, teria ganho no primeiro turno!". Deslumbrante, eis a palavra.
Talento, caros amigos, não é pra todo mundo.
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