segunda-feira, 19 de maio de 2014

SEU TADEU, DO PIAUÍ

                  Seu Tadeu, com o filho Jivanei, em hospital de Barretos (SP).

Pai deixa o Piauí para viver em hospital com o filho em SP

Por Isabela Palhares

Há três meses o aposentado Tadeu Ferreira, 69, recebeu a notícia de que o filho Jivanei, 38, teve um AVC após ser espancado durante um roubo. Deixou o Piauí e não sai do lado do filho, internado sem responder a estímulos, em Barretos (423 km de São Paulo).

Jivanei é casado, tem dois filhos, um de um mês que ainda não conheceu. Ferreira mora no hospital e tem ajuda de família de pacientes e funcionários para seguir com o filho.

Quando o Jivanei disse que se mudaria para São Paulo para buscar um emprego melhor, senti um nó na garganta. Eu acredito que as pessoas têm de ficar no lugar em que nasceram e foram criadas.

Elas precisam buscar melhores condições nos locais em que cresceram. Foi o que eu fiz na minha vida. Nunca sai de Simplício Mendes, no Piauí, onde tenho uma plantação de milho e feijão e criei meus 12 filhos.

A gente sempre ouve falar da violência que existe aqui no Estado de São Paulo e fica com medo disso. Lá no Piauí também tem violência, mas é diferente da que há aqui.

Apesar do medo que eu sempre tive de que algo de ruim pudesse acontecer, nem nos meus piores pesadelos poderia imaginar que uma situação tão ruim realmente acontecesse com o Jivanei.

Ele mora há dois anos em Guaíra, trabalhando como servente de pedreiro. Desde o final do ano passado estava muito feliz, porque a mulher dele engravidou pela segunda vez –eles já tinham um menino de cinco anos e, agora, têm uma menina.

Nosso único problema era a saudade. Ele sempre dizia que estava juntando dinheiro para nos visitar no Piauí. A expectativa de vê-lo aliviava a saudade.

Até que eu recebi a notícia no mês de fevereiro que me fez perder o chão. Ele tinha ido trabalhar em um sábado, era dia de pagamento dele, e recebeu R$ 400.

Ninguém viu o que aconteceu. Ele foi largado na rua, espancado, sem dinheiro e sem os seus documentos.

O Jivanei nunca foi de briga, era um homem muito trabalhador e também muito preocupado com a família.

Recebi um telefonema da minha nora no mesmo dia do assalto. Ela estava desesperada. Não sabia como cuidar do Jenivaldo, do filho de cinco anos e, além disso, estava no oitavo mês de gravidez.

Eu não pensei duas vezes. Um dos meus genros pagou minha passagem e, pela primeira vez na vida, andei de avião. Viajei para a cidade de São Paulo no dia seguinte.

INTERNADO JUNTO
De lá vim de ônibus para Barretos. Desde então, não saí mais daqui do hospital.

Às vezes dou uma volta pelo centro da cidade, mas volto logo, porque não quero deixar o Jivanei sozinho. Quando ele acordar quero estar ao lado dele.

Os médicos afirmaram que as chances de ele voltar a ser o que era antes são pequenas, mas tenho fé de que o Jivanei vai voltar para o Piauí comigo e me ajudar na plantação de milho e feijão.

Estou conversando com os médicos e com as assistentes sociais da Santa Casa de Barretos para levá-lo de volta para o Piauí do jeito que ele está mesmo.

Eles estão avaliando se há essa possibilidade. Com a família por perto, tenho certeza de que ele vai melhorar. (Fonte: aqui).

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Boa sorte, Seu Tadeu!

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