sexta-feira, 3 de abril de 2015
O IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA PETROBRAS SOBRE O PIB 2015
FGV: custo econômico da Lava Jato é de R$ 87 bilhões
Do Brasil 247
Além da crise que deverá afetar o crescimento econômico ao longo deste exercício, o PIB do País poderá ser reduzido em até R$ 87 bilhões por conta dos efeitos da Operação Lava Jato, que investiga casos de desvios e corrupção na Petrobras. O efeito da retração de gastos da Petrobras e da cadeia de fornecedores são fatores que devem resultar ainda na perda de um milhão de postos de trabalho.
Os números constam de um estudo feito pelo Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas e pelo Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (Cedes).
O levantamento considerou os efeitos da contenção e da redução de gastos de R$ 27,5 bilhões pela Petrobras em toda a cadeia de fornecedores. A partir daí, foram calculados os resultados decorrentes da perda de produção, salários, empregos e geração de impostos.
Somente com os postos de trabalho que deverão ser perdidos, a redução sobre o consumo de bens e serviços deverá chegar a R$ 13,5 bilhões. A receita de estados, municípios e da União também poderá encolher em R$ 5,7 bilhões, de acordo com os pesquisadores.
As grandes empreiteiras do País, que estão no foco da Lava Jato, devem deixar de contribuir em até R$ 10 bilhões para o crescimento da economia brasileira este ano.
O setor de construção, um dos mais afetados, como já noticiou o 247, poderá amargar o fechamento de 192 mil empregos. A redução na massa salarial do setor deverá alcançar R$ 1,7 bilhão, segundo a mostra, e a queda nos imposto e tributos é avaliada em R$ 652 milhões.
Outro setor fortemente atingido com as consequências da investigação é o da indústria naval, no qual a empresa Sete Brasil, criada pela Petrobras para subcontratar estaleiros para a produção de sondas e navios-plataforma no Brasil, passa por sérias dificuldades (leia mais).
Nessa semana, a OAS, um dos alvos da investigação, foi a terceira empresa a entrar com pedido de recuperação judicial, depois do grupo Galvão e da Alumini Engenharia, responsável pelas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil, no entanto, comentam a pesquisa da FGV, que será divulgada na íntegra na próxima segunda-feira 6, e opinam que a recessão na economia brasileira pode ser menor do que o esperado. Leia abaixo:
Recessão causada pela Lava Jato pode ser menor que esperado, diz economista
O Brasil pode viver uma recessão causada pela Operação Lava Jato mais branda em 2015 do que a projetada por economistas que tem calculado os impactos econômicos das investigações. Parte dos dados de um estudo que será apresentado na próxima segunda-feira (6) em um seminário da Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram antecipados hoje (2) durante um debate em teleconferência para discutir os efeitos econômicos e sociais da Lava Jato.
Gesner Oliveira, professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração da Fundação Getúlio Vargas (Eaesp/FGV), diz que as decisões tomadas pela equipe econômica podem amenizar os efeitos sobre o setor. "O cenário mais provável é uma recessão [com queda] de menos de 0,5% do PIB [Produto Interno Bruto - soma de todos os bens e serviços produzidos no país]", disse.
Segundo os dados iniciais, os economistas do Eaesp/FGV projetaram que a queda de investimentos da Petrobras, estimada em 20%, associadas à retração no setor da construção de quase 10% provocarão perdas de produção equivalente a R$ 97 bilhões, o que representaria uma queda de 2% no PIB.
"Para 2015, levamos em consideração outros fenômenos que estão ocorrendo", disse Oliveira, ao citar o ajuste da taxa de câmbio, com menor artificialismo na política cambial, e os sinais de recuperação da credibilidade econômica. "A despeito de todas as dificuldades, a gente percebe a política econômica que sinaliza com mais clareza sobre o que se pretende fazer e o ajuste fiscal. São dois elementos que são relativamente positivos".
Oliveira alertou para pontos que não estão sendo considerados na divulgação de fatos sobre a Lava Jato e que podem provocar impactos mais graves à economia brasileira e deveriam ser tratados com cautela. Entre os pontos citados estão o poder de mercado da Petrobras, que "é única contratadora de determinados serviços", o fato de que determinados agentes e executivos possam ter tomado medidas contrárias aos interesses da empresa e o papel da delação premiada.
"É um mecanismo que levou a avanço grande no combate aos cartéis nos Estados Unidos. É uma ferramenta muito poderosa, mas qual o significado das informações? A delação premiada deve ser vista no contexto de um jogo. A informação não pode ser levada como verdade absoluta", alertou.
Tatiana Farina, PHD em economia pela Boston College e especialista em pesquisa de organização industrial, microeconometria e marketing quantitativo, destacou o risco sistêmico que as investigações podem produzir sobre o setor financeiro. Ela lembrou que a indústria da construção sofreu grandes perdas e que muitas construtoras estão com dificuldade de acesso a crédito em função de impedimentos provocados pelas investigações. "A gente entende o ponto de vista dos bancos, mas vê o efeito na economia real e o impacto de não dar continuidade a projetos que já foram aprovados", disse.
O especialista em regulação de mercado e doutor em economia pela Stanford University, Vinícius Carrasco, discordou do cálculo sobre o impacto na economia brasileira. Segundo ele, é difícil computar danos, mas a experiência mostrou que os cartéis no Brasil apresentaram prejuízos altos.
"[Os impactos] são inferiores. Não há evidências de que neste caso, em que a vítima [a estatal] e os cartelistas [as construtoras] parecem estar mancomunados, seja diferente. O que é peculiar no caso da Petrobras é que parece ser um conluio de cartelistas e gestores da empresa".
Para o advogado Bruno Werneck, advogado de áreas de infraestrutura e financiamento de projetos, as denúncias reforçam que o sistema de compras públicas brasileiro está "falido". "Os níveis de corrupção se estendem para outros setores que tem mecanismos de contratação ainda mais ineficazes. A [Lei das Licitações] 8.666 é um tremendo fracasso. A ênfase demasiada no menor preço é catastrófica. Ninguém vai no mercado e fica comprando produtos apenas pelo menor preço". (Fonte: aqui).
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Resumindo: é o que se pode chamar de crimes hediondos de lesa pátria. Enquanto isso, o MPF se mantém indiferente para a possibilidade de celebração de acordos de leniência, alternativa que ao menos poderia atenuar prejuízos brutais ao país.
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