quinta-feira, 9 de abril de 2015

O ESTRATÉGICO FERRO DE ENGOMAR


Adeus ferro de engomar

Por Luciano Hortêncio

Tadeu Kebian, meu amigo do Facebook, postou ontem essa foto "se sentindo muito feliz" por ter adquirido essa "raridade".

Esse ferro de engomar (ferro de passar) me fez lembrar minha infância: A Dolores, filha da nossa lavadeira e engomadeira Maria, foi dar uns treinos lá por casa. Juízo que é bom a pobre da Dolores nunca teve. Eu estava correndo pela área de serviço e ela disse que eu saísse dali senão iria me queimar com o ferro. Não lembro direito como tudo se passou. O fato é que ela me queimou entre o braço e o antebraço com a ponta do ferro de engomar. Durante muito tempo eu carreguei a marca da ponta do ferro como lembrança do acidente... Obviamente Dolores não foi admitida no cargo pretendido!

A foto me faz lembrar também da relatividade das coisas. Enquanto o amigo Tadeu Kebian se sente feliz por ter adquirido um velho e bom ferro de engomar, no interior do Ceará esse artefato continua a ser usado por muitas e muitas famílias. Para "eculumizar" o gás, as donas de casa cozinham no fogão a lenha e, após o preparo da refeição, aproveitam as brasas para encher o ferro de engomar, "eculumizando" também na energia elétrica.

Quem sabe o ferro de engomar vai ser uma opção nesses tempos bicudos de energia elétrica?

Trago, finalmente, o excelente CORAL DAS LAVADEIRAS DO JEQUITINHONHA, interpretando ADEUS FERRO DE ENGOMAR, música folclórica recolhida e adaptada pelo pesquisador e músico Carlos Farias. (Para continuar clique AQUI).

................
Fui lendo a crônica do Luciano e lembrando cenas de minha infância em Picos e Piracuruca, ambas nesse querido Piauí. Dona Francisca, que nos deu uma força por muitos anos, além de esmerada cozinheira era eficiente engomadeira - e, detalhe importantíssimo!, talentosa contadora de 'histórias de Trancoso'. Mas, como eu vivia enchendo a paciência dela, insistindo para que contasse histórias inéditas, de quando em vez tinha de apelar: pagava cachê; um sabonete, por exemplo, valendo por tantas histórias (uma, estourando duas histórias por vez, 'tipo' em dois dias da semana). E lá reinava Dona Francisca, me contando história enquanto manuseava o velho ferro de engomar! E não havia nenhum propósito de 'eculumizar': era roupa pra caramba, e energia elétrica, meus amigos, só entre seis da tarde e meia-noite!

Tempos depois, quando fui tomar posse no Banco do Brasil, em União-PI, tive uma experiência marcante envolvendo ferro de engomar e uma senhora idosa, guerreira sofredora, cujo sustento tirava do ofício de engomar. Fica para outra oportunidade.

Nenhum comentário: