quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CABEÇAS DE ESTADÃO


As elites acham que pobre "dá muita despesa"

Quem quiser conhecer a crueza que a parcela da classe média brasileira que se deslumbra – e se crê ser, sem ser – com a elite deste país, visite a página do Estadão onde se noticia que o "Nordeste recebe metade dos benefícios do Bolsa Família em dezembro", onde se noticia o óbvio: que a transferência de recursos para pessoas em situação de miséria é maior onde é maior a própria miséria.

A matéria não diz, mas os comentaristas explicitam: é um absurdo São Paulo receber menos bolsas-família que o estado da Bahia, o único dos estados nordestinos que supera o valor transferido aos paulistas, que, é obvio, arrecadam mais tributos.

E aí as manifestações viram explicitudes:
“(…) o Sul e o Sudeste nao têm nada a ver com as misérias do Nordeste. Os problemas do Nordeste precisam ser resolvidos pelos nordestinos, e nao pelos paulistas ou gaúchos. O povo nordestino que se vire sozinho. Que cobre atitudes efetivas dos políticos que ele elege. A pobreza deles é problema deles, e de ninguém mais”, diz um deles. “Bem que o povo lá de cima podia começar a trabalhar como nós aqui para sentir o drama do que é viver contra o governo tirando tudo que você sua para ganhar”, argumenta outro.

Talvez diminuissem sua fúria racista se tivessem tido acesso à pesquisa do IPEA, de onde vieram os dados sobre o Bolsa Família. Ignoram o que ela contém, como fez o repórter do Estadão.

Ali veriam, por exemplo, que o Sudeste tem 44% das instituições públicas – e caras – de ensino superior do país, metade delas em São Paulo, enquanto o Nordeste fica com 25%. Ou que o número de médicos recebendo pelo Sistema Único de Saúde é de 301 mil, 50% do total, e no Nordeste, que tem uma relação médico público/habitante 30% menor, são apenas 20% do total de profissionais médicos brasileiros.

Todos eles custando dinheiro público.

Essa parcela – felizmente minúscula – dos brasileiros, que pensa ser moderna mas ainda tem a cabeça na Idade Média não é apenas escravocrata: é burra e raivosa. E por estar concentrada no estado mais rico da Federação, São Paulo, acha que o papel que lhe cabe é o de capitão do mato cosmopolita.

Odeiam Dilma e Lula no século 21 como odiaram a Getúlio no século 20.

Porque, no fundo, o que odeiam é a ideia de um só Brasil e de um povo brasileiro.

Ficaram para trás, estão politicamente em extinção.

São as “maria-antonieta” dos Jardins, mas poderiam ser as mesmas de Ipanema. (Fonte: Tijolaço).

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Resta citar outra importante particularidade: adotar medidas tendentes à minoração das desigualdades regionais é obrigação do Estado, constitucionalmente prevista. Nesse sentido, as ações dos governos Dilma e Lula vêm se desenvolvendo em sintonia com a Carta de 1988, a despeito do escárnio dos cabeças de Estadão.

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