Bennett.
"Custo Brasil": a solução é asiática?
Por Saul Leblon
Um incêndio matou sete pessoas num prédio de 11 andares da fabricante de vestuário Tung Hai Group , em Bangladesh, nesta 5ª feira.
Grande exportadora de suéteres e jerseys, a empresa tem como clientes algumas das maiores redes varejistas ocidentais.
O incêndio é o quarto desastre de grandes proporções em fábricas de vestuário de Bangladesh desde dezembro.
Em abril, o desabamento de um condomínio vertical de indústrias têxteis, na região metropolitana da capital bengali, Dacca, chocou o mundo.
No início desta semana, as autoridades locais informaram que 800 operários teriam morrido.
Somente ontem, 5ª feira, as equipes de resgate chegaram aos porões dos prédios.
Descobriram mais 100 corpos. Hoje 6ª feira, as estimativas falam em mais de 1.000 corpos.
O negócio têxtil no entroncamento Índia/Bangladesh rende US$ 20 bilhões anuais em exportações ; gera 3 milhões de empregos .
O setor é considerado um titã naquilo que alguns analistas enchem a boca e reviram os olhos antes de escandir em tom de admoestação ao Brasil: ‘com-pe-ti-ti-vi-da-de’ .
Condições de trabalho dos primórdios da revolução industrial; piso salarial em torno de US$ 40 dólares, o equivalente a ¼ do valor hora da China; baixa regulamentação e fiscalização complacente.
Eis a fórmula que está na cabeça de muitos dos nossos engomados analistas e dirigentes empresariais quando se reclama ‘um custo Brasil competitivo”.
O país vive uma transição de ciclo de desenvolvimento. Precisa sacudir sua logística e adensar tecnologia às cadeias produtivas.
Obras públicas, incentivos e desonerações, associados a condicionalidades em termos de metas, prazos e contrapartidas sociais são inadiáveis.
O governo tem caminhado nessa direção.
Mas ainda desprovido da legitimação de um projeto ancorado em amplo escrutínio da sociedade.
Conceitos e estratégias --leia-se, metas, custos e benefícios, sociais e econômicos-- flutuam num debate de linguagem cifrada pelo jornalismo conservador.
Queremos ser uma sucursal das linhas de montagem asiáticas, onde se confunde eficiência com extração impiedosa da mais-valia e as relações de trabalho são pouco mais que um gigantesco moedor de carne humana? (Para continuar, clique aqui).
................
Indagação: Queremos ser uma sucursal das linhas de montagem asiáticas, onde se confunde eficiência com extração impiedosa da mais-valia e as relações de trabalho são pouco mais que um gigantesco moedor de carne humana, tendo como mero espectador um Estado Mínimo e sob o reinado do laissez-faire?
Resposta dos sapientes iluminados: Sim, sim, of course!
Nenhum comentário:
Postar um comentário