quinta-feira, 6 de junho de 2019

O BRASIL E SEUS ECONOMISTAS DE CAIXINHA

(GGN)
Tudo na mais perfeita ordem: o mundo dos economistas de caixinha
Por André Araújo (No GGN)
A psicologia é parente próxima da economia, só ela explica a existência de economistas que constroem um mundo perfeito onde cada coisa está na sua caixinha. Tal qual a boa dona de casa, tem o lugar certinho do arroz, do açúcar, das batatas, a gavetinha dos temperos, tudo na mais perfeita ordem.
Assim devem ser as finanças públicas e, mais ainda, assim deve ser a economia, tudo certinho, cada coisa em seu lugar.
Essa governança psicológica persegue os Mansuetos da vida até na tipologia física. Nos meus primeiros anos no Banco do Brasil, lá se vão mais de 50 anos, encontrei grande número de colegas de vida certinha, anotavam até o custo do cafezinho para fechar o mês. Outro se lamentava da gratificação semestral de um salário e meio porque isso desorganizava seu orçamento doméstico. Creio que há muito mais gente assim do que aqueles que preferem o imprevisto.
O mundo jamais foi “certinho”, as economias dos países muito menos, o caos absoluto do Século XX com duas guerras mundiais, 58 guerras locais, 647 golpes de Estado (segundo Luttwalk), nove grandes crises financeiras, 16 hiperinflações, incontáveis crises humanitárias, 13 genocídios de grande porte, nunca foi um lugar do “tudo certinho”, mas não importa, o espírito em busca da ordem é como a formiga que vê o formigueiro chutado e desmanchado, ela recomeça a reconstrução no minuto seguinte porque isso está no seu DNA. O indivíduo “tudo no seu lugar” enlouquece se não procurar a ordem.
Isso explica muitas das loucuras de coisas como a Lei do Teto, uma tentativa de fazer tudo certinho no orçamento, quando isso é impossível.
O problema desses obcecados pela ordem é que, na tentativa de criar a ordem no seu mundo imaginário, eles podem produzir imensa desordem no mundo real, o que não lhes afeta. Eles vivem no mundo imaginário e tentam, desesperadamente, fazer o mundo real se encaixar no seu mundo imaginário.
A CONTA MOVIMENTO DO BRANCO DO BRASIL
O Brasil entre 1945 e 1980 foi o País que mais cresceu no mundo. Nesse período NÃO havia ordem nas finanças públicas, no balanço cambial, na moeda, no crédito, MAS havia um “drive”, um impulso de crescimento na desordem. Uma das alavancas desse crescimento era a facilidade com que a União conseguia se financiar. Um mecanismo engenhoso, criativo, era a chamada CONTA MOVIMENTO da União no Banco do Brasil.
No dia 24 a União recebe impostos, no dia 25 com esse dinheiro paga a folha do Ministério da Saúde. Se, naquele momento, a União não tem saldo, o Banco do Brasil adianta por um, dois ou três dias e depois se ressarce com recolhimento de impostos, MAS ISSO É DESORDEM para os “tudo nas caixinhas”.
Não pode. Então fechou-se a CONTA MOVIMENTO e agora o governo faz tudo certo, emite títulos da dívida pública, toma dinheiro no mercado para pagar sua folha e assim não existe a desordem de se usar uma conta de capital de giro rotativo onde os dois lados ganham. A União se financia por dias ou horas e o Banco em outros dias fica com saldo do recolhimento de impostos no seu caixa sem pagar juros, os dois lados ganham.
Quem acabou com a CONTA MOVIMENTO foi o então Ministro Mailson da Nóbrega, um típico “tudo nas caixinhas”, ex-funcionário do Banco do Brasil. (Nota deste blog: Maílson da Nóbrega bolou, quando ministro da Fazenda do governo Sarney, a famosa 'política do feijão com arroz' - fazer tudo com simplicidade, sem "pratos exóticos", sem invenções -, que culminou numa inflação astronômica, que por sua vez culminou no fracassado 'Plano Verão').
A ORDEM IMAGINÁRIA PODE SER A DESORDEM REAL
Nessa construção da ordem imaginaria entram as reformas, as cruzadas anticorrupção, a Lei do Teto, as privatizações, as “metas de inflação”, o Banco Central independente, “a melhoria no ambiente de negócios”, MAS nessa ordem imaginária não há crescimento porque isso é DESORDEM.
Os “economistas de caixinha” podem levar um País ao desastre absoluto quando sua ordem imaginária não se encaixa no mundo real.
Voltaremos a esse tema inesgotável porque estamos exatamente agora com uma turma de “economistas de caixinha” tentando destruir o País na empreitada impossível de fazer a economia entrar nas “caixinhas” certas. Eles enlouquecem na desordem, da mesma forma que ficam nervosos se a empregada muda de lugar o tubo da pasta de dente (como é possível essa gentinha gostar tanto de bagunça?, que coisa!).

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