sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

A PALAVRA DA NOVA MINISTRA


"Sobre sua militância social

São anos na estrada na defesa da infância. A cada momento da minha vida, encontrei um grupo de crianças mais vulnerável que o outro. Nasci no Paraná, mas me criei entre Sergipe e Bahia. Em Aracaju, comecei com meninos e meninas de rua, por volta de 1984. Fui professora desde muito cedo. Estava em sala de aula há quinze anos, já, e trabalhava com a primeira infância. Às vezes o aluno não vinha porque algo tinha acontecido. “Meu irmão morreu”, “meu irmão está preso”. Eram meninos que estavam na rua. Militei algum tempo no movimento Meninos de Rua, atendendo meninos que estavam se prostituindo, cheirando cola.

Sobre mulheres camponesas

No final de 1987, fui trabalhar com mulheres camponesas e pescadoras. Tenho uma história de muita intimidade e identificação com a história delas. São mulheres sofridas, que apanharam de maridos, foram agredidas na infância, trabalharam desde cedo.

Sobre a defesa das crianças

Sou educadora e pastora, em 1991 me tornei advogada e passei a usar o direito para buscar a proteção de direitos. Essa foi a minha história até vir para o Congresso Nacional, onde eu vim fazer essa abordagem nos bastidores com os parlamentares. Eu ia para a rua brigar pelos meninos, mas ainda não tínhamos o Estatuto da Criança e do Adolescente. Então eu ajudei a construir e aperfeiçoar essa legislação. 

Sobre os “invisíveis”

Eu gostaria muito de trazer para o protagonismo dessa história de direitos humanos os invisíveis, que são os ciganos, a mulher ribeirinha, a mulher seringueira, cortadora de cana, que cata siri, que quebra coco, que colhe açaí. Essas mulheres de mãos calejadas não estão no protagonismo e as políticas públicas nem sempre chegam nelas. Temos mais de um milhão no ciganos no Brasil. Esse povo é lindo, é incrível, e está invisível, sofre preconceito e discriminação.

Sobre os transexuais

É essencial ter um diálogo com a travesti que está na rua, que está se prostituindo. Será que está lá por opção, ou porque não ingressam no mercado de trabalho? Gostaria muito de conversar sobre isso. Tenho encontrado travestis dotados de uma inteligência extraordinária e com o corpo machucado. O corpo na rua sendo machucado. Será que não está na hora de a gente começar a ver esse ser, que foi por tantos anos discriminado, e se perguntar: por que para o travesti sobra só a prostituição? Por que só esse caminho, por que não trazer eles para as universidades?

Sobre a prostituição

Não tenho nenhum problema com a prostituta, mas quem consome mulher na prostituição pra mim é predador. Então eu quero muito pensar nessa prostituta como um ser humano que precisa de dignidade. Elas sofrem, apanham na rua. Não tem glamour, tem dor e sofrimento. Nem todas as mulheres são “Uma Linda Mulher”. Estou na rua com elas, eu sei como é chorar com elas, levar sopa, cobertor. Meu sonho é um mundo em que ninguém precisasse vender o corpo, que a mulher tivesse o corpo respeitado.

Sobre identidade de gênero

Eu tenho uma posição muito forte em relação à teoria de gênero. É uma teoria furada, sem nenhuma comprovação científica. Nós temos que lutar pela igualdade de direitos civis entre homens e mulheres. Eu não quero nenhuma mulher ganhando menos que um homem ou sendo preterida por ser mulher, ou sendo enterrada viva por ser mulher, o que acontece no Brasil. Mas homens e mulheres não são iguais. 

Sobre mulher nascer para ser mãe

Mas a mulher nasceu para ser mãe, porque nasceu com útero. Nesse planeta Terra, a fêmea nasce com útero para gerar. Então eu não menti. A mulher nasce para ser mãe. Se ela não quer ser mãe, é uma opção dela, mas a mulher nasceu, sim, para ser mãe. Isso é tão instintivo, da natureza humana, que mesmo aquelas que não querem ser mães vão dizer “puxa, eu podia ter sido mãe”. Então a veia salta dizendo que é direito da mulher não querer ser mãe. Eu concordo, mas é uma luta contra a natureza humana. Quem manda são as regras biológicas, que nos fizeram com peito, útero, ovário e trompas, para gerar.
(...) Mas entendo que o ideal para a mulher seria, quando tiver um filho, escolher se quer ficar quatro anos em casa com o bebê. Mas não tem como. Somos muito cobradas, a competição no mercado de trabalho é muito grande. Precisamos ajudar com o sustento, ajudar o marido. Somos, em maioria, chefes de família. Vejo mães de licença-maternidade agoniadas com o que está acontecendo no trabalho. É angustiante.

Sobre a discriminação contra mulheres

Sim. O Brasil é um país em que a mulher sofre, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, a cada 7 uma sofre violência doméstica, e, detalhe, esses são os números oficiais. E a mulher que não denuncia, que não fala? É uma nação que machuca as mulheres e eu sonho com essa mudança.

O combate à violência contra a mulher

Nós vamos ter que fazer uma revolução cultural. Todos os meninos vão ter que entregar flores para as meninas nas escolas, para entender que nós não somos iguais. Quando a teoria de gênero vai para a sala de aula e diz que todos são iguais e que não tem diferença entre menino e menina, as meninas podem levar porrada, porque são iguais aos meninos. Somos frágeis, mas somos muito especiais, fazemos coisas que eles não conseguem fazer. Vamos proteger as crianças, as grávidas, e mostrar que uma nação que teve uma mulher presidente da República tem tudo para ser o melhor país do mundo para mulheres.

Sobre o casamento homoafetivo

Isso é uma questão que já está praticamente definida no Brasil. É uma conquista deles. Direitos conquistados não se discutem mais. Então, pra mim, é uma questão vencida, tanto é que o movimento gay nem tem mais isso como pauta, é uma questão superada, um direito civil garantido.

Sobre o aborto

Eu sou contra o aborto. Acho que nenhuma mulher quer abortar. As mulheres chegam até o aborto porque possivelmente não foi lhe dada uma outra opção. O aborto não desengravida nenhuma mulher. A mulher caminha o resto da vida com o aborto. Se a gravidez é um problema que dura só nove meses, eu digo que o aborto é um problema que caminha a vida inteira. Queremos um Brasil sem aborto. Um Brasil que priorize políticas públicas de planejamento familiar, que o aborto nunca seja considerado como método anticonceptivo."



(De Damares Alves, nova Ministra anunciada pelo governo eleito, post intitulado "A surpreendente Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos". Trata-se de um apanhado da entrevista que ela concedeu à repórter Natália Portinari, de O Globo, sob o título Homens e Mulheres não são iguais, diz futura Ministra dos Direitos Humanos”. O resumo foi realizado pelo GGN - aqui.
O GGN encerra a postagem com o seguinte alerta: "Recebo um alerta de um amigo, evangélico em Curitiba, para não me deixar iludir pela entrevista. A futura Ministra esteve em Curitiba, inclusive se valendo de passagens parlamentares, para se apresentar em uma Igreja. Deixou as mentes mais arejadas escandalizadas com as barbaridades que falou. Estou aguardando mais dados, mas fica ai o alerta."
Clique aqui para conferir vídeo em que a ministra fala a evangélicos, em maio de 2016).

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