quarta-feira, 6 de julho de 2016

ECONOMIA BRASILEIRA: A VITÓRIA DOS MERCADISTAS


A assustadora equipe econômica

Por André Araújo

Os novos diretores do Banco Central estão à direita de Gengis Khan no tratamento ortodoxo da economia. São todos ultra monetaristas e ligados ao mercado financeiro, os que ficaram como herança da antiga administração são também os mais radicais e que sempre votaram pelos juros altos.
Vejamos os históricos de cada um:
POLÍTICA ECONÔMICA - Carlos Viana, da turma da PUC Rio com doutorado em Princeton, foi economista do Federal Reserve Bank of New York, um dos 12 braços do Federal Reserve System, foi economista chefe do Banco Opportunity, elogiadíssimo pelo mercado financeiro.
POLÍTICA MONETÁRIA - Reinaldo Le Grazie vem do Bradesco Asset Management, braço de administração de fortunas do Bradesco. As "asset management" têm como clientes os rentistas e, por causa disso, (apresentam) um viés natural para juros altos. O mercado financeiro o acha um campeão da ideologia mercadista como matriz do processo econômico.
ASSUNTOS INTERNACIONAIS - Thiago Berriel, mais um da PUC - Rio. Armínio Fraga e Ilan Goldfajn foram orientadores da tese desse ortodoxo, o que já define o que pensa da economia como ciência e como visão de mundo. Ficaram na mesma cadeira Antonio Meirelles, na Diretoria de Fiscalização, Otávio Damaso na de Legislação e Sidney Marques na de Organização. Meirelles e Sidney são da torcida dos juros altos, até mais radicais do que a turma da PUC Rio, se é que isso é possível. Esses dois foram votos dissidentes quando outros diretores ortodoxos votaram  pela baixa da Selic.
O que chama  a atenção sobre esse time é a completa inexistência de diversidade de pensamento econômico, algo considerado muito valioso no Conselho de Diretores (Board) do banco central americano, o FED, onde cada um dos sete membros tem origem em escolas de economia de diferentes linhas, exatamente para criar uma multiplicidade de visões. A equipe econômica tem no seu topo um banqueiro, Henrique Meirelles, cuja carreira foi toda desenvolvida em banco comercial americano aqui e nos Estados Unidos, e Ilan Goldfajn, um israelense nascido em Haifa e também ligado à PUC-Rio, cuja última vinculação foi com o Banco Itaú, o que já diz muita coisa sobre sua ideia de economia.
Chama a atenção a absoluta ausência nessa equipe de qualquer exposição à economia produtiva, ao agronegócio, ao comércio varejista ou atacadista, aos transportes, à infraestrutura, aos serviços, à pequena e média empresa, setores e atividades que constituem o coração da economia de um grande País.
É como se toda a cúpula do Ministério da Saúde fosse constituída exclusivamente de médicos especialistas em cirurgia plástica. Como consequência dessa formação, todo o foco da equipe está centrado num único objetivo: trazer a inflação ao centro da meta, como se isso fosse a única coisa que interessa à população, que nem liga para o desemprego e para a falta de dinheiro.
Mesmo entre economistas de formação clássica, há a consciência de que, em tempos de profunda recessão causada pela falta de dinheiro para consumir, não tem sentido o combate exclusivo à inflação, que já está naturalmente em queda pela falta de demanda. Combater uma febre que já está baixando, qual o sentido? Esse combate único é o total do discurso de posse do presidente do Banco Central, que não demonstrou a mínima preocupação com a recessão e o desemprego, assuntos sequer abordados em sua fala, o resto da equipe pensa a mesma coisa, são todos fanáticos da moeda e nada além, a produção é um detalhe sem importância.
É de conhecimento também da economia clássica que se combate depressão e recessão com expansão monetária para criar demanda, e não apenas pela confiança na moeda. Sem demanda a ser atendida, não há razão para novos investimentos, é a existência da demanda que promove a construção de uma nova fábrica e não a confiança na moeda.
A equipe econômica não pensa em combater a recessão porque não sabe como fazer, todo o seu treinamento é para congelar a moeda na chamada "paz de cemitério", onde por não haver vida não há movimento e muito menos inflação, atingir o centro da meta é o ponto final.
Na Inglaterra, onde foi inventado o capitalismo moderno e seu antídoto, o socialismo, há pleno conhecimento sobre o que fazer numa recessão. Keynes, um economista ortodoxo que mudou a direção do vento quando viu a depressão de 1930, pregando, para combatê-la, a expansão monetária visando a gerar consumo, disse: "Vale a pena mandar homens levar pedras de um para outro lado da estrada apenas para poder pagar-lhes algum salário e gerar capacidade de compra", isso como receita para combater a Grande Depressão, em carta a Roosevelt.
Keynes era um economista clássico e não um maluco; quando chamaram sua atenção para sua incoerência, disse "eu sou coerente com as circunstâncias", significando que sua receita era aquela que as circunstâncias pediam.
A prioridade número um do Brasil é hoje sair da recessão para gerar empregos, e a equipe econômica nomeada tem, como único treinamento, fazer exatamente o contrário, aprofundar a recessão para "trazer a inflação para o centro da meta", o que significa mais recessão através de dois instrumentos, manter os juros altos e valorizar o Real, duas ações que fatalmente vão aumentar o desemprego.
Não é culpa deles, são pessoas cuja única visão de mundo e de economia é essa, são cozinheiros que só aprenderam a fazer um prato, não conseguem fazer outro e ao fazê-lo nas circunstâncias erradas, vão aumentar o desastre por que passa a economia brasileira.
Essa visão de economia que vem do mercado financeiro foi SUPERADA após a crise de 2008 e já não é mais aceita a lição de casa ensinada pelo mercado financeiro mas a "nossa equipe" estudou antes de 2008 e só sabe a lição antiga; (eles) não aprenderam novas técnicas e não lembram que o Japão e a União Europeia estão desesperadamente tentando criar inflação para reativar a economia; a inflação tal qual uma dose de conhaque na neve, pode às vezes ser necessária, ela não é maligna por si só, pode ser uma ferramenta temporária e necessária, embora eu acredite que a injeção de R$ 1 trilhão em investimentos públicos no Brasil não gera inflação por causa da imensa capacidade ociosa na indústria e na mão de obra, e um investimento desse porte criaria 6 milhões de empregos em 1 ano.
Evidentemente que essa assombrosa equipe das cavernas da economia não vai expandir em um Real a base monetária, eles vão é recolher mais dinheiro da economia para ver até onde a corda arrebenta, talvez em 20 milhões de desempregados cheguemos ao divino "centro da meta". (Fonte: Jornal GGN - aqui).

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