O golpe dos financistas no Conselho Monetário Nacional
Por André Araújo
A lei que criou o Plano Real trouxe no seu bojo uma alteração na composição do Conselho Monetário Nacional, organismo que foi criado no Governo Militar para ser o centro da política monetária, cambial, fiscal e de crédito do País.
Dentro desse desenho, o Banco Central estava abaixo do CMN e era o executor das decisões do CMN, e não formulador da política monetária, cambial e de crédito, assim como o Ministério da Fazenda deveria executar a política fiscal definida no CMN, que era composto de dez membros, três naturais e sete indicados pelo Presidente da República, dentre nomes de reconhecida expressão, biografia e vivência. Desde sua criação até 1995, o CMN era o organismo de cúpula da direção econômica do País, todos os dias citado nos jornais, e suas reuniões eram aguardadas com grande atenção, hoje poucos sabem que o CMN existe e o que faz o órgão, (que) não foi extinto mas perdeu completamente sua importância.
O modelo original do CMN era uma continuidade de um sistema que vinha da Era Vargas, quando Getúlio se aconselhava em matéria econômica com grandes nomes que faziam parte do seu Conselho Técnico de Economia e Finanças, um precursor do CMN, onde se sentavam os maiores empreendedores do País, gente que estava no risco Brasil e não apenas no camarote vendo a economia pela janela de uma sala envidraçada na Av. Faria Lima. O golpe de mão dos financistas do Plano Real no CMN equivaleu a uma "transferência" de poder de influência da economia da produção sobre a política econômica, mecanismo que vinha desde a Revolução de 30 e que permitiu um decisivo papel de empresários de grande visão como Valentim Bouças, Guilherme Guinle e Walther Moreira Salles sobre a formulação da política econômica e de sua inserção no mundo, empresários que "REPRESENTAVAM" uma experiência de vida e uma enorme rede de relacionamentos na sociedade e que projetavam esse capital acumulado na formulação macro e micro da política econômica e seus desdobramentos sociais, políticos e diplomáticos.
O golpe dos financistas transferiu o poder sobre a política econômica inteiramente para burocratas de bancos, nem sequer donos mas sim executivos bancários, uma escolha limitativa e medíocre, porque esses personagens não têm BIOGRAFIA E PESO POLÍTICO para ter nas mãos a totalidade da política econômica, eles não representam nada a não ser a si mesmos e suas carreiras dentro de bancos, são pesos plumas na construção de um País.
A política econômica é algo muito maior para estar apenas nas mãos de bancários que não têm por formação e experiência de vida a plena noção da complexidade dos impactos sociais que as decisões econômicas produzem, não têm a alma dos verdadeiros líderes que são os verdadeiros "capitães" de segmentos econômicos, com histórias complexas de altos e baixos, de grandes aventuras e riscos, por isso mesmo dotados de RADARES sensíveis para as vicissitudes, armadilhas, incertezas da economia de um grande País cheio de problemas.
"Economista-chefe" de banco é apenas isso; um economista de gabinete e executivo de banco estrangeiro tem o tamanho de seu limitado cartão de visitas, não vai além disso. O desenho original do Conselho Monetário Nacional tinha uma grande lógica de organização da política econômica, havia um fluxo de sensores da economia real que fluía para o Conselho, quando este se reunia havia visões diferentes e divergentes, mas ao fim complementares da indústria, do comércio, dos transportes, dos serviços, da agricultura, da pecuária, do câmbio bom para uns e ruim para outros, era uma mescla de opiniões, um "brainstorming", havia choques de ideias e de planos e ao fim saia uma angulação média que construía a política econômica possível sem cartilhas, receitas ou fórmulas prontas.
Os financistas do Real jogaram para o seu time, o dos "economistas do mercado" expulsando os verdadeiros comandantes da economia, que têm seus negócios, suas empresas, seus riscos no Brasil e não em Boston ou New York, como são "os de mercado", cujo sonho é morar nos EUA ou Canadá; aliás, alguns já moram lá e apenas dão plantão no Brasil.
O atual comando da política econômica na mão de bancários é uma temeridade, o Brasil é muito maior, mais complexo do que o que se pensa em "departamento de economia" de banco.
Abaixo, lista histórica de alguns membros do CMN; vê-se grande representação da agricultura, com nomes referenciais como Pratini de Morais, Pedro de Camargo Neto, Fabio Yassuda e Alysson Paulinelli, do setor de comércio como Abílio Diniz, Arthur Sendas e João Paes Mendonça, de grandes economistas como Bresser Pereira, Ronaldo Costa Couto, Antonio Barros de Castro, de líderes industriais como Luís Eulálio Vidigal (FIESP), Aldo Franco (Metal Leve), diretores da CACEX como Benedito Moreira, Namir Salek e Roberto Fendt, banqueiros de verdade como Olavo Setúbal e Casimiro Ribeiro, governadores como Abreu Sodré e Paulo Egydio, grandes advogados como Ary Oswaldo Mattos Filho, Jorge Gouveia Vieira e Luis Motta Veiga, era uma nata com firme inserção na vida brasileira e não gente de passagem pelo Brasil.
Hoje o total do CMN é Henrique Meirelles (com green card e residência nos EUA), Ilan Goldfajn (um cidadão israelense) e Dyogo Moreira, o interino do Ministério do Planejamento, nome desconhecido no Brasil e no mundo.
A política econômica do Brasil, uma das dez potências econômicas do planeta, está nas mãos desses três senhores. Que tal? (Fonte: Jornal GGN - aqui).
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