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Boa sorte para o admirável Ainda Estou Aqui.
Não tenho mais dúvida, depois de assistir a muitos vídeos de previsões de especialistas de Hollywood, de que o Brasil vai ganhar seu primeiro Oscar na noite de amanhã e que será comemorado como a primeira Copa do Mundo, em 1958. Eu vi, todo mundo pulava e dançava na rua São Caetano, em São Paulo, onde eu morava, como se fosse carnaval, era tudo cinzento naqueles tempos, das roupas às fachadas dos prédios, mas de repente a rua ficou colorida e musical, os homens de paletó e gravata, as mulheres de vestido bem comportado, mas pulavam e dançavam, jogavam guarda-chuvas e chapéus para o alto, um êxtase coletivo que eu nunca tinha visto nos meus nove anos de vida, eu ainda tinha uma suspeita, há algumas semanas, de que estava entre o filme brasileiro e o francês, mas agora tenho certeza que “Ainda estou aqui” é pule de dez, já virou unanimidade em Hollywood, tal como os prêmios de ator coadjuvante (Kirian Culkin), atriz coadjuvante (Zoe Saldaña), melhor música (“El Mal”, de “Emília Pérez”), o filme de Walter Salles conquistou crítica, público e star system americano, virou paixão nacional, é só assistir aos vídeos dos especialistas, caras que conhecem a lógica da premiação, acompanham o Oscar faz tempo (estou falando “caras”, mas não são apenas homens) e eu não vi um só apontar algum senão, ao contrário, dizem que “amaram” e cravam o Oscar sem nem mais levar em conta o francês, que caiu em desgraça, virou o filme mais infame do Oscar.
Esses mesmos especialistas, no entanto, também por unanimidade, apesar de também “amar” seu desempenho, não citam Fernanda Torres, não vi um só ou uma só apostando nela, há um duelo entre Demi Moore e Mickey Madison e aí entra, é óbvio, o bairrismo, as duas são americanas, uma da velha geração, outra da nova, então eles (e elas) colocam a Fernanda em terceiro, a maioria está com Mickey Madison, a Demi Moore em segundo e depois a Fernanda, (é normal os americanos votarem nas americanas e os brasileiros votarem na brasileira), o que não quer dizer que ela seja menos atriz que as outras, claro que ela é e está ótima no filme, aí entram outros fatores, como a indústria americana de cinema, a vitória de “Ainda estou aqui” não afeta Hollywood, mas a de Fernanda afetaria, porque venceria as americanas, enquanto o filme, ao ganhar o Oscar, não vence os americanos, e sim o francês (os outros concorrentes não são levados a sério), mas é claro que a vitória do filme é sobretudo uma vitória dela, que é 90% do filme, ela é a cara do filme, é a sua cara que está no cartaz, o Oscar do filme é o Oscar da Fernanda, o Oscar de filme internacional, não o Oscar Oscar, os mesmos especialistas que apontam “Ainda estou aqui” na prateleira internacional não o incluem (nem um só deles) como melhor filme de todos, o número 1, que está mais para o americano “Anora”.
Ainda assim é um Oscar de primeira qualidade, é artístico e não técnico, o maior triunfo do cinema brasileiro desde a “Palma de Ouro” que Anselmo Duarte ganhou em Cannes pelo clássico “O Pagador de Promessas”, em 1962, desbancando, dentre outros, gênios como Buñuel (“O anjo exterminador”) e Antonioni (“O eclipse”), vai abrir as portas do mundo para o cinema nacional.
Uma conquista tão extraordinária quanto a Copa do Mundo de 1958.
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