sexta-feira, 20 de novembro de 2020

"DENTRO DA MINHA PELE", O RACISMO ESTRUTURAL NO BRASIL

.

Disponível na Globoplay, o documentário 
Dentro da Minha Pele, de Toni Venturi e Val Gomes sobre o racismo estrutural no Brasil, foi selecionado para o Festival de Documentários da Holanda (IDFA), um dos mais importantes do mundo. A estreia internacional será dia 24 deste mês no IDFA que se inicia no próximo dia 16 e vai até 6 de dezembro com exibições presenciais e online.

Chico César, Luedji Luna e Sueli Carneiro, Cida Bento e Jessé de Souza, entre outros artistas e intelectuais, participam do filme que narra histórias de nove pessoas com diferentes tons de pele preta comentando o seu cotidiano na cidade de São Paulo e compartilhando situações de racismo que viveram, das mais veladas às mais explícitas, e a sua luta e superação.

O comentário sobre o filme, no link a seguir, foi publicado em Carta Maior em agosto passado, com o título Consciência tem cor? 


                
(Equipe de 'Dentro da Minha Pele')

Consciência Tem Cor?

Por Carlos Alberto de Mattos

Experiência, Pensamento e Arte. Sobre esse tripé Toni Venturi e Val Gomes construíram o documentário Dentro da Minha Pele, que propõe uma reflexão ampla e profunda sobre o racismo estrutural brasileiro.

No campo da experiência, temos testemunhos de pessoas que sofrem ou sofreram a discriminação no seu cotidiano. Como o médico Estefânio Neto, que, acostumado com certo status cultural, percebeu que seria necessário "tirar a capa branca" depois de ser ofendido até por pacientes. Ou a empregada doméstica Neide de Souza, sordidamente humilhada por uma patroa. Ou ainda dois universitários cotistas que se sentem deslocados numa faculdade de elite.

Essas vivências são indiretamente comentadas por pensadores como Jessé Souza, Sueli Carneiro, a escritora Cidinha da Silva e o historiador Salloma Salomão. Este último encerra o filme com uma declaração explosiva, que Toni Venturi discute em cena se deveria ou não incluí-la na montagem final. Incluindo-a, compactuou com seu atrevimento e deixou uma provocação poderosa no ar.

Há também os artistas, que se apresentam em números musicais (Chico César entre eles), poemas e pequenas performances relativas à questão racial. Nesses segmentos mais performáticos, a câmera se demora sobre peles e cabelos, como a sondar a instância física na qual todo o debate se concretiza. 

"O que é ser negro no Brasil?", pergunta(-se) o diretor. A resposta passa pelas falácias da miscigenação, pela forma como os direitos universais se transformam em privilégios numa sociedade baseada na escravidão, pela naturalização do preconceito em tantas práticas sociais dadas como inocentes, pela conformação dos territórios habitacionais nas grandes cidades e pela condição de vítimas preferenciais da violência policial.

"Como um branco faz um filme antirracista?", pergunta-se em seguida Toni Venturi. Neto de imigrantes italianos, pertencente à classe média e à elite cultural paulistana, Toni é um dos mais lúcidos e progressistas cineastas brasileiros. Não lhe escaparia, portanto, a questão do lugar de fala. Ele se incorpora à discussão investigando também o papel da branquitude e abrindo espaço para o questionamento da sua posição de poder na produção do filme.

 "Apesar da consciência crítica que permeia minha produção, até um tempo atrás a questão racial era um tema subordinado às desigualdades de classe que marcam o Brasil a ferro e fogo. Na medida em que o país submergia na volatilidade política, sentia que precisava entender melhor as entranhas desta sociedade paradoxal", comenta Toni Venturi a respeito do projeto. Ele se cercou de uma equipe predominantemente negra e de uma codiretora também negra, a socióloga Val Gomes. Ainda assim, foi duramente interpelado pela ativista transgênero Neon Cunha por não ter cedido o espaço para um diretor ou uma diretora afro-brasileira.

Na negociação com a Globoplay, Toni incluiu a implementação de um serviço de cuidado da saúde emocional (apoio psicológico) daqueles que confiaram ao filme a sua história íntima e vai compartilhar a receita bruta advinda do licenciamento com 49 pessoas – personagens, artistas, intelectuais e equipe (44 negros e 5 brancos).

Com qualidade excepcional de captação e montagem, Dentro da Minha Pele reúne um conjunto de experiências, reflexões e atuações artísticas que realçam como a pauta do racismo é inesgotável. Mas também insere a representação do assunto no cinema como algo a ser disputado. Essa problematização é um trunfo importante do documentário de Toni e Val.  -  (Fontes: Carta Maior - AquiAqui).

(Dentro da Minha Pele está disponível na Globoplay. Clique aqui para assistir ao trailer).

Nenhum comentário: