sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

SOBRE O DESMONTE DO INSS

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"Ideia fixa da equipe econômica é adotar regime de capitalização tal qual no Chile – e não tem problema se não deu certo por lá."


O desmonte do INSS conforme planejado 

Por André Araújo 

A ideia fixa dos terraplanistas da equipe econômica é o regime de capitalização como o modelo chileno, onde cada trabalhador paga sozinho o fundo para sua aposentadoria, com o que ao final da vida de trabalho o fundo é tão pequeno que a aposentadoria será uma miséria, como no Chile.
Não deu certo no Chile? Não tem importância, eles são fanáticos de seita, acreditam que estão certos e o resto do mundo errado, incluindo o Social Security da pátria-mãe dessa turma, os Estados Unidos (https://www.ssa.gov/) – que paga US$ 1 trilhão de benefícios anuais a idosos, viúvas e inválidos, e é mantido por uma administração própria custeada pela contribuição sobre a folha de salários.
Esse sistema foi criado pelo Presidente Franklin Roosevelt e é um orgulho dos Estados Unidos, a ponto de sua carteira de beneficiado servir como carteira de identidade. Todo americano tem Social Security e ninguém pensa em acabar com o sistema para instalar um modelo chileno maluco.
Nessa nova política atual, o INSS é uma excrescência e nem deveria existir: quem administra a capitalização são gestoras privadas. No Chile, em 2018, elas tiveram US$ 1 bilhão em lucros.
Portanto, o previsível mau funcionamento do INSS, com filas imensas para todos os benefícios, está dentro dos planos. Se a ideia é acabar com o INSS deve-se deixá-lo morrer, sem concursos para suprir as vagas dos que se aposentaram – só em 2019 foram 6 mil funcionários.
O sistema de informática da Previdência, o Dataprev, vai ser privatizado e a demissão de funcionários para cortar 15% da folha já teve início. É claro que, nesse clima, as filas só podem crescer e não têm como acabar, só aumentar, o que é uma boa propaganda para a capitalização e muito bom para o ajuste fiscal.
Os militares como solução
Usar militares da reserva como tapa-buracos no INSS não irá resolver o aumento das filas. A lógica seria oferecer aos funcionários aposentados do INSS uma proposta de recontratação temporária, uma vez que eles já conhecem o serviço e não precisam de treinamento.
Mas a ideia NÃO é resolver o problema, que ajuda no ajuste fiscal: mais filas significam menos dispêndios; quem está na fila não esta recebendo nada, dinheiro que não entra na economia e ajuda na meta de inflação; quanto menos gente comprando melhor, na visão da equipe econômica.
A ideia de usar militares é outra: é envolver as Forças Armadas na defesa do Governo. Militares no INSS amedrontam os reclamantes velhos, viúvas, as grávidas e os inválidos.
No caso de qualquer protesto mais forte, é só invocar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e trazer a tropa de choque, porque os militares da reserva no INSS vão ser a linha de frente na porta das agências para defender o governo. Não haverá manifestações porque o problema só vai aumentar, e aí o Governo já terá militares prontos no local para a blindagem. (Nota deste Blog: o TCU informa que a opção pela contratação de militares é inconstitucional).
Depois do INSS, a Receita, o SERPRO, a Embrapa
A política alucinada do Estado mínimo em um País emergente – o Estado é muito maior nos Estados Unidos do que se pretende aqui – vai avançar sobre todas as instituições que levaram 200 anos para se estruturarem: museus, institutos de pesquisas, saúde pública, educação, correios, bancos públicos. A ideia é acabar com tudo pelo desmonte, concessão ou privatização, à moda chilena, onde não há mais nenhum serviço do Estado, é tudo privado e caro.
Os “mercados” apoiam porque acham que vão ganhar, mas sem Estado não há moldura institucional que garanta os “mercados”. Manifestações de 180 milhões de pobres podem brotar de repente e levar os “mercados” de roldão, como no Chile. A mesma cegueira atinge a mídia global, que continua a passar pano na equipe Guedes, como se ela fosse o lado virtuoso desse grupo que está no governo. Quando a casa cair, cai com todos dentro.
A chave para entender o plano macro desse grupo é a entrevista de Paulo Guedes no programa Central das Eleições em 2018, na Globonews, onde ele esbravejou que em 6 meses venderia R$ 2 trilhões de bens públicos e resolveria o problema da dívida.
Era uma alucinação. Guedes não deixou nenhum jornalista apartar, falava como um fanático de igreja, possuído por um ente. Hoje se contém, mas o projeto já era esse e continua sua implantação na velocidade politicamente possível, com apoio do Congresso, mídia e dos “mercados”.  -  (Fonte: Aqui).

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