sexta-feira, 9 de agosto de 2019

SOBRE O BRASIL E A ESCOLA DE CHICAGO

."...Ao fim da gestão Cavallo, que privatizou tudo, até o jardim zoológico de Buenos Aires, a economia da Argentina estava destruída". Domingo Cavallo, o todo poderoso ministro da Argentina de Carlos Menem, aplicara "política muito parecida com o plano Paulo Guedes". Todos sob inspiração da Escola de Chicago.


A Escola de Chicago não viaja bem
Por André Araújo
Uma combinação de má-fé, insanidade, estupidez e ignorância alega que o País vai crescer com ajuste fiscal; a arrecadação cai e isso justifica mais cortes orçamentários, sob o eufemismo de “contingenciamentos”. Mais cortes reduzem a atividade econômica e a arrecadação cai mais, aí se tornam necessários mais cortes, em um círculo infernal sem fim, como se isso fosse ciência e não fé numa seita fundamentalista enterrada pelo mundo, menos no Brasil.
Aí aparece em um mês um microcrescimento de emprego, rojões são comemorados pela GLOBONEWS, cujo programa FATOS E VERSÕES desta semana parecia ter sido feito para o Canadá, tais os sorrisos de satisfação de Cristiana Lobo pela ótima situação da economia brasileira, segundo sua “análise”.
Micro variações estatísticas não significam tendência, são da natureza de um organismo vivo, como é a economia de um grande País, até doentes terminais têm momentos de melhora antes do último suspiro. NENHUMA recessão dura cinco anos, quando isso acontece há um persistente erro de manejo da política econômica, há algo de profundamente errado na operação da política monetária que induz o País a andar para trás.
O que o País NÃO CRESCEU nestes cinco anos, comparando-se com a média de países como Peru, Paraguai, Bolívia e Colômbia, mostra que o Brasil EMPOBRECEU em 11% do PIB pelo que não cresceu, algo inacreditável comparando-se com períodos em que crescia mesmo com alta inflação e crises cambiais mas sem a praga daninha que destrói os fundamentos de nossa política econômica especialmente desde 1994. A presença no comando da economia de “economistas de mercado” ligados ao mundo financeiro de Nova York, um biotipo mortal para qualquer economia que pretenda ter um projeto nacional para toda a população.
A ESCOLA DE CHICAGO MAL EXPLICADA
A cúpula do comando atual da economia brasileira se gaba de ter cursado o departamento de economia da Universidade de Chicago, cujo maior doador de recursos foi o primeiro John Rockefeller. Essa escola de economia, ao contrário das escolas de economia da Costa Leste, Harvard, Princeton, Yale, MIT, John Hopkins, Columbia, tem um viés ideológico como marca registrada, tornou-se uma seita para os neoliberais do mundo, enquanto as demais grandes escolas americanas são ecléticas e não identificadas com uma ideologia fixa.
Chicago representa não só uma escola de economia, é também uma ideologia política misturada às lições de economia. Sua época mais gloriosa nasceu com a segunda fase da Escola Monetarista de Milton Friedman. A primeira escola monetarista, de Irving Fisher, terminou em desgraça, quando esse então famoso economista disse, duas semanas antes da quebra da bolsa em 1929, que “a economia dos EUA nunca esteve tão forte e teremos anos de prosperidade pela frente”. Com o “crash” de 24 de outubro de 1929 essa profecia liquidou com a reputação de Fisher para sempre e desmoralizou a primeira Escola Monetarista, reinventada nos anos 60 por Milton Friedman no departamento de economia da Universidade de Chicago.
Narrei com mais detalhes essa trajetória da segunda escola monetarista em vários capítulos de meu livro MOEDA E PROSPERIDADE, de 900 páginas. Milton Friedman era um grande economista, com nome consagrado na sua obra mais conhecida História Monetária dos Estados Unidos, escrito com Anne Schwartz, outra grande economista falecida depois de Friedman, ambos com mais de 90 anos.
Friedman ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1976 e teve grande influência no governo Reagan e no relançamento de uma sub-ideologia conhecida como” neoliberalismo”. Mas, ao contrário da visão pedestre, Friedman era mais que um neoliberal, tinha inteligência superior para criar conceitos que seus seguidores não querem lembrar; Friedman foi o pai intelectual da ideia de uma “bolsa família” para os mais pobres e tinha visões avançadas sobre drogas e outros temas sociais.
É surpreendente que mentes tão medíocres e toscas como os atuais comandantes da economia brasileira tenham sido alunos de Chicago na época de Friedman, pouco absorveram do seu refinamento intelectual e transportaram suas ideias ao Brasil embrulhadas em papel de padaria.
No Chile, a aplicação das ideias de Chicago levou o Pais a um desastre econômico e social que levaram à expulsão dos “economistas de Chicago” com a queda do Ministro da Fazenda Sergio de Castro após uma crise cambial que levou a economia chilena à ruína completa, com a previdência capitalizada levando à miséria, até hoje, os idosos chilenos. Um projeto maluco e sem sentido em países emergentes, onde pobres não têm sobra para esse tipo luxo.
Política muito parecida com o plano Paulo Guedes foi aplicada à Argentina no Governo Carlos Menem, onde o Ministro todo poderoso da economia era Domingo Cavallo. Ao fim da gestão Cavallo, que privatizou tudo, até o jardim zoológico de Buenos Aires, a economia da Argentina estava destruída.
Assim como certos vinhos, a Escola de Chicago viaja mal fora do meio oeste americano, onde é hoje peça de museu, depois da mega crise financeira de 2008, quando o desprezado ESTADO salvou a economia de mercado. Logo o Estado, que, segundo a teoria de Chicago, não deveria atrapalhar o mercado.  -  (Aqui).

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