sábado, 2 de junho de 2018

UM POUCO DE HISTÓRIA: A MPB E A BANCA DO DISTINTO


Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho

Por Carlos Motta

"A Banca do Distinto" é um dos mais conhecidos sambas de Billy Blanco, paraense que se formou em arquitetura no Rio, mas que depois viu que seu negócio era outro: compôs cerca de 500 músicas, 300 das quais gravadas pelos maiores nomes da MPB: Dick Farney, Lúcio Alves, João Gilberto, Dolores Duran, Sílvio Caldas, Nora Ney, Jamelão, Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Miltinho, Elis Regina, Hebe Camargo... 

Entre seus sucessos destacam-se "Sinfonia Paulistana", "Tereza da Praia", "O Morro", "Estatuto da Gafieira", "Mocinho Bonito", "Samba Triste", "Viva meu Samba", "Samba de Morro", "Pra Variar", "Sinfonia do Rio de Janeiro" e "Canto Livre". "Sinfonia do Rio de Janeiro" é composta por dez canções, escritas em parceria com Tom Jobim, em 1960. 


"A Banca do Distinto" tem uma história interessante. Foi composta a pedido da então namorada Dolores Duran, talentosíssima cantora e compositora morta precocemente, aos 29 anos. Dolores estava incomodada com um cliente da boate em que ela cantava, nos anos 50, no famoso Beco das Garrafas, no Rio. O sujeito ia todas as noites ao seu show, sentava-se na primeira fileira de mesas, mas sempre de costas para o palco. Não dirigia uma única palavra a ela. E sempre pedia uma música. Chamava um garçom, dava a ele um bilhete e dizia: “Manda a neguinha cantar essa música aqui.”

No meio da madrugada, ia embora, levando um embrulho com a refeição que encomendava. Mas não o carregava: pedia que o garçom o levasse até o seu carro.

Dolores, inconformada com a atitude do indivíduo, contou a história a Billy que, sem mais, compôs o samba “A Banca do Distinto”. Dolores então se vingou: cantou o samba para o “doutor”, que depois disso sumiu da boate. 
"A Banca do Distinto" foi gravada em 1959 pela própria Dolores, e posteriormente por Isaurinha Garcia, Elza Soares, Neusa Maria, Dóris Monteiro, Elis Regina e Jair Rodrigues, entre outros. 
Como este é o país dos "doutores", gente de bem que não fala com pobre, não dá mão a preto, nem carrega embrulho, a música continua atualíssima.
A Banca do Distinto
Não fala com pobre, não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor
Pra que esse orgulho
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal
(Fonte: Aqui).

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