segunda-feira, 6 de novembro de 2017

DA SÉRIE TEORIA DA EVOLUÇÃO: O FUTURO DA CIÊNCIA

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As teses formuladas e/ou esposadas pelo senhor Gollo ao longo da série - clique AQUI - vêm sendo questionadas por leitores diversos desde o início da série. De todos os posts, o texto abaixo foi certamente o que suscitou as críticas mais contundentes. Uma delas, aliás, didática:
"...'Quando o bebê abre os olhos' - vê o bruxo Gollo, místico. De olhos abertos ocorre mera recepção visual dos objetos, intuição a priori: segundo o espaço ou o tempo, nos termos de Kant? Para que o bebê signifique é necessário o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, vide Vygotsky. Ademais, é preciso passar da fala exterior à interior - Piaget e Vygotsky. O mero observar e atestar as coisas, não é ciência. Sua posse pelas pessoas não é espontânea: o sujeito gnosiológico deve ser formado pela educação, e a epistemologia deve ser também ensinada."
Uma sugestão: leia os posts e os comentários.



O futuro da ciência, uma profecia

Por Gustavo Gollo

Quando um bebê abre os olhos, ele tenta compreender o mundo ao redor. Bebês são grandes cientistas, todos eles. Depois, nossa atenção vai sendo capturada pelos afazeres do dia a dia, o que leva a maioria de nós a abandonar essa habilidade. De qualquer forma, somos criaturas curiosas, e a ciência é uma atividade muito natural; ciência é apenas a tentativa de compreender o mundo.
Apesar disso, “A Ciência” costuma ser tratada com uma deferência especial, como algo mágico, venerável, inalcançável por mortais comuns. Não é, é um jogo como outro qualquer, basta rolar a bola. Proponho brincar mais disso, o jogo é empolgante.
Aliás, a automação vem gerando grandes mudanças em nosso mundo, substituindo uma parte crescente do trabalho anteriormente executado por pessoas. Um dos resultados desse processo é a crescente disponibilidade de tempo livre para as pessoas. Essa enormidade de tempo disponível, eventualmente entediante, pode ser preenchida com atividades artísticas, científicas e esportivas. Jogos, em geral, têm forte apelo, assim como as drogas recreativas.
Em vista disso, profetizo um fortíssimo crescimento no interesse no jogo da ciência. E, embora seja difícil que esse jogo possa gerar tantos aficionados quanto o futebol, poderá gerar um contingente maior de praticantes efetivos, muitos dos quais mergulharão profundamente em seu fascínio
Contarei uma curta história para ilustrar o tipo de atividade lúdica que tenho em mente.
Tempos atrás, li brevemente sobre o fenômeno da inflação cósmica, um período no qual o universo teria se expandido a uma velocidade superior à da luz. Não consigo compreender tal fato, nem o que teria gerado tal explicação. Anotei, mentalmente, a informação, mas desleixadamente. Informações desconexas, como essa, não me interessam, mesmo que estejam corretas. A cosmologia atual está repleta de informações desse tipo que, para mim não fazem sentido. O fundamental, para mim, é a compreensão, o entendimento.
Chamo “compreensão” a um encadeamento de fatos em uma história coerente. Histórias que não compreendo não têm sentido para mim, por isso não me interessam. Por outro lado, histórias equivocadas NÃO me causam um desgosto especial, se apresentadas de maneira racional, coerente. Nesse caso, podem ser compreendidas e corrigidas, posteriormente, mostrando-se que algo nelas não se encaixa, funcionando, assim, como fonte de conhecimento. Informações desconexas, no entanto, mesmo se corretas, não contribuem para minha compreensão do mundo. Quando penso em “ciência”, nunca perco de vista esse objetivo. O alvo é sempre a compreensão.
Li, anos atrás, um livro que, na época, fez enorme sucesso, mas que, pelo motivo acima, não me emocionou. Nada aprendi com a leitura de “Uma breve história do tempo”, de Steven Hawkings. Esse livro apresentava um enorme conjunto de informações desconexas que, a mim, nada diziam. Publicado em 1988, imagino que, hoje, o livro seja tido como ultrapassado. Sobre o mesmo tema, a origem do universo, recomendo, de George Gamow, “A criação do Universo”, de 1952, e também “Gênese, as origens do homem e do universo” de John Gribbin (1981), ambos atuais porque justificam suas proposições através de raciocínios. 2 bons exemplos de divulgação científica.

A leitura de raciocínios encadeados explicando partes do mundo me faz vibrar tanto quanto um gol. Costumo saborear tais momentos fechando o livro momentaneamente para tentar, eu mesmo, tomar o lugar do Sherlock e descobrir a solução do enigma. Depois é partir pro abraço...
Recomendo a todas as pessoas essa prática: a leitura de belos argumentos científicos, acompanhando-os passo a passo, saboreando-os e tentando reconstruir a solução do enigma em questão. Quem assim o fizer, vibrará a cada passo que conseguir avançar.
Os gols, no jogo da ciência fazem-nos vibrar tanto quanto os do gramado. São conseguidos quando se percebe que depois que todas as peças se encaixaram, articulando com absoluta naturalidade a solução do enigma proposto, magicamente, outras começam a se e incorporar a ela, estabelecendo conexões nem vislumbradas anteriormente.
Quando isso acontece, é só partir pro abraço; essa alegria compensa qualquer esforço anterior.
A profecia
O jogo, em breve, será popularizado, permitindo que muitas pessoas comuns, em suas casas, participem dele. Inventarão suas próprias histórias – a ciência é uma espécie muito particular de ficção, explicarei isso, qualquer dia –, proporão seus próprios enigmas e construirão suas próprias soluções para eles. A internet propiciará o meio perfeito para todas as etapas do jogo. O jogo será popularizado. O foco de todos continuará sendo a compreensão do mundo, mas haverá uma espécie de cisão na ciência, um pluralismo análogo ao que ocorre na filosofia. “Todos os físicos” compartilham as mesmas crenças, todos eles endossam as teorias dominantes atuais; químicos fazem o mesmo, assim como biólogos. Filósofos, ao contrário, aglutinam-se, em escolas de pensamento. 2 filósofos podem discordar quanto a quase tudo. Certo pluralismo logo dominará a ciência.
Epílogo
Nosso paladar permite que saboreemos a diversidade dos alimentos. Alguém que não possua esse sentido perceberá todas as comidas como uma única e mesma sopa. Despejados em uma floresta, sem nenhum conhecimento sobre ela, nos depararíamos apenas com um imenso matagal. O conhecimento sobre a mata iluminaria nossa visão, permitindo-nos descobrir, ao redor, uma profusão de curiosidades muito diversas. Em larga medida, vemos com a mente. Tanto o conhecimento quanto os sentidos são necessários para dar colorido ao mundo. Sem conhecimento, todas as coisas se igualariam na mesma sopa cinzenta e insossa.
Fazemos ciência para nos deslumbrar com o mundo, para nos extasiar com o imenso milagre que há, em tudo, ao redor. A compreensão é o que permite perceber o colorido do mundo, saboreá-lo, degustá-lo. Para isso fazemos ciência! Êe ôoo, ê ê ô...  -  (Aqui).

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