quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A GUERRA NO HORIZONTE

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Foi no governo Ronald Reagan que - ao lado da consagração total do Neoliberalismo por Reagan e Margareth Thatcher - surgiu a onda da "Guerra nas Estrelas", espécie de febre dos EUA pelo 'domínio bélico' do espaço mediante instalação de sistemas high tech antimísseis de defesa. A paranoia nuclear, assim, chegava ao ápice, e por conta dela a elevação monumental de gastos (e lucros privados) do complexo militar-industrial. Paul Craig Roberts, autor do artigo abaixo, foi subsecretário de Política Econômica no citado governo; tem tudo para saber do que está falando. Mas convém lembrar que naquela época o alarmismo nuclear já encontrava área fértil. 


Você não enxerga a guerra no horizonte?

Por Paul Craig Roberts 
(Tradução por Ruben Bauer Raveira)

De acordo com o noticiário na imprensa britânica, o presidente da Rússia Vladimir Putin instruiu as indústrias da Rússia a se aprontarem de modo a estar aptas a fazer uma rápida transição para a produção de guerra. 
Obviamente, o governo russo não faria tal anúncio a menos que estivesse convencido de que o prognóstico de guerra contra o Ocidente fosse real. Já faz algum tempo eu venho enfatizando em meus artigos que a consequência de anos a fio de ações hostis adotadas por Washington e seus vassalos europeus contra a Rússia estava levando à guerra.
É fácil entender que o colossal complexo militar e de segurança dos Estados Unidos necessita de um inimigo convincente para justificar o seu enorme orçamento. É fácil entender que os neoconservadores loucos coloquem a sua ideologia fantasiosa acima da vida no planeta. E é fácil entender que Hillary e o Comitê Nacional Democrata farão qualquer coisa para reverter a vitória presidencial de Trump. No entanto, é difícil entender porque os líderes políticos europeus estão dispostos a colocar seus países em risco em benefício de Washington.
Ainda assim, é o que eles fazem. Por exemplo, em 13 de novembro a primeira-ministra britânica Theresa May disse que a Rússia era uma ameaça à segurança internacional, que estava interferindo em eleições europeias e que estava grampeando governos europeus. Não há evidência para estas alegações mais do que as há para o “Russiagate” [N. do T.: o alarido na imprensa nos Estados Unidos quanto a que a Rússia haveria interferido nas eleições americanas para favorecer Trump]. Ainda assim, tais alegações prosseguem e se multiplicam. Agora, a União Europeia está organizando antigas províncias da União Soviética – Bielorrússia, Moldova, Ucrânia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão – numa “Parceria Oriental” com a União Europeia. 
Em outras palavras, o Ocidente está abertamente organizando antigas províncias de Moscou contra a Rússia, designada pela primeira-ministra May como sendo um “estado hostil”. A Rússia sabe que não há base para essas alegações anti-Rússia, e as considera idênticas às falsas alegações contra Saddam Hussein, Kadhafi e Assad, feitas para justificar os ataques militares ao Iraque, à Líbia e à Síria. Uma vez tendo convencido a Rússia de que ela está sendo tocaiada para um ataque, a Rússia está se preparando para a guerra.
Pense por um momento a respeito disso. O mundo está sendo levado ao Armagedom apenas porque um corrupto e ganancioso complexo militar e de segurança dos Estados Unidos precisa de um inimigo para justificar o seu gigantesco orçamento, porque Hillary e o Comitê Nacional Democrata não conseguem aceitar uma derrota política, e porque os neoconservadores têm uma ideologia de supremacia americana. Qual é a diferença entre a detestada supremacia branca [N. do T.: no original White Supremacy, uma suposta supremacia racial dos brancos] e a supremacia americana que o presidente Obama, ele próprio, alardeou? Por que a supremacia branca é terrível, enquanto que a supremacia americana é uma dádiva de Deus ao país “excepcional” e “indispensável”?
O governo russo partilhou abertamente a sua preocupação quanto a que a Rússia está sendo tocaiada para um ataque militar. Como eu reportei – já que a CNN, o The New York Times e o Washington Post não o fizeram – o vice-comandante do Comando de Operações Militares da Rússia externou publicamente a preocupação quanto a que Washington está preparando um ataque nuclear de surpresa contra a Rússia.  O presidente Putin chamou recentemente a atenção para a coleta por Washington de amostras de DNA de cidadãos russos para um laboratório de armamentos da Força Aérea dos Estados Unidos, o que significa o desenvolvimento de uma bio-arma específica contra a população russa. Por diversas vezes a Rússia chamou a atenção para bases dos Estados Unidos e da OTAN nas suas fronteiras, apesar das garantias manifestadas por sucessivos governos americanos que tal coisa jamais ocorreria.
Nós deveríamos perguntar a nós mesmos o porquê do fato de Washington ter convencido a Rússia, uma potência nuclear e militar de primeira linha, de que a Rússia será atacada não ser o principal tópico das discussões públicas e políticas. Em vez disso, nós ouvimos a respeito de jogadores de futebol americano que ajoelham durante o hino nacional, ouvimos fake news sobre o Russiagate, ouvimos sobre um tiroteio em Las Vegas, e por aí vai.
Nós também deveríamos perguntar a nós mesmos por quanto tempo mais Washington irá permitir que qualquer um de nós reporte pela internet notícias reais, em vez das fake news de que Washington se utiliza para controlar as explicações. O esforço do chefe da Comissão Federal de Comunicações para acabar com a neutralidade da rede, além de outros esforços em curso para descreditar notícias factuais como se propaganda russa fossem, indicam que Washington concluiu que, para fazer guerra à Rússia, Washington tem também que fazer guerra à verdade. 
Washington não sobreviverá à sua guerra, nem tampouco sobreviverão as populações americana e europeia.  -  (Fonte: aqui).
[Paul Craig Roberts, acadêmico e especialista em geopolítica, foi o Subsecretário de Política Econômica do governo americano durante a presidência de Ronald Reagan].

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