sexta-feira, 11 de abril de 2014

A CRISE NA UCRÂNIA

      A exemplo da Crimeia, mais de 50% da população de Donetsk têm o russo como língua nativa.

A vez de Donetsk

Por Mauro Santayana

O Ocidente desestruturou uma nação que se encontrava unificada

Manifestantes que ocupam, há 48 horas, instalações públicas em Donetsk, na Ucrânia, proclamaram, unilateralmente, terça-feira, uma República Popular, na província em que se fala russo. E querem convocar um referendo para sua anexação à Rússia, para o próximo dia 11 de maio, nos moldes do que foi feito na Crimeia no mês passado.

As autoridades policiais não resistiram, nem tentaram conter os manifestantes.

Em outra cidade, Lugansk, manifestantes favoráveis à Rússia ocuparam a sede dos órgãos de segurança, e fizeram o chefe de polícia — que também não resistiu — libertar dezenas de prisioneiros favoráveis a Moscou que estavam detidos há alguns dias.

Em Kharkov, segunda maior cidade ucraniana e centro industrial do país, houve enfrentamento entre habitantes de língua russa, que ocuparam a sede do governo local, e manifestantes fiéis ao golpe desfechado contra o presidente Yanukovitch em março.

Embora as novas "autoridades" ucranianas estejam acusando o serviço secreto russo pelos tumultos, a verdade é que o apoio ao governo golpista é cada vez menor, e boa parte do território ucraniano é ocupada por habitantes de origem russa, que se recusam a se aproximar do Ocidente e se sentem ameaçados pelos golpistas de extrema direita que estão no poder em Kiev.

Eles viram que, ao contrário do que ocorreu na "libertação" do Iraque, do Egito, da Líbia, do Afeganistão, pela OTAN, onde morreram — e continuam perdendo a vida — centenas de milhares de pessoas, a "russianização" da Crimeia foi feita em poucos dias, e quase sem violência.

O fato é que, assim como fez, em muitos outros lugares, supostamente em nome da "democracia", o Ocidente desestruturou completamente uma nação que se encontrava institucionalmente unificada, funcionava razoavelmente dentro da lei, com um presidente eleito diretamente pela população, e aguardava pacificamente as próximas eleições, porque não queria que a Ucrânia "caísse" sob a influência de Moscou.

Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência russa na Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já existia, é muito maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia vastas regiões e milhões de habitantes, que se sentem russos.

A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há séculos. E é mais fácil que a Ucrânia se divida — a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan — do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas. (Fonte: aqui).

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Maidan: praça de Kiev onde os revoltosos pró União Europeia se concentraram desde o início da crise.

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