domingo, 5 de agosto de 2018

O MUNDO NA BOLHA DE PLÁSTICO


O Mundo na Bolha de Plástico

Por Carlos Krebs

De uma época em que as calças “boca de sino” eram a regra na moda, mas John Travolta ainda não tinha saído para “Os Embalos de Sábado à Noite” porque ele ainda era “O Menino na Bolha de Plástico”, eu carrego uma lembrança afetiva muito forte…

Entre as minhas tarefas domésticas na infância, a que sempre serei agradecido por fazer era a de buscar pão na padaria. Em momentos que a realidade torna-se pesada, em que as coisas parecem não apresentar sinais de esperança, recorro à sensação de conforto que sentia cada vez que enfrentava a fila da padaria às 17h para comprar pão e, ao chegar a minha vez:
– Tio, um pão d’água, por favor!
– De “quarto” ou de “meio”, guri?
– De “quarto” (kg)!
Depois do obrigado, eu seguia para casa abraçado a um pão quentinho, embalado em um saco de papel kraft. Tinha calor nos braços e o perfume do trigo passeando em minhas narinas.
Agora que estou em casa  no Brasil, tenho novamente a comodidade da máquina de fazer pães. Foi o aroma do pão recém feito ao acordar que me trouxe essa recordação. E percebi, desta vez não por saudade ou necessidade, que ao passar na padaria para comprar cacetinhos DE1 na última vez, dei-me conta de que hoje em dia eles vêm embalados em plástico. Os pães suam dentro da embalagem, mas o aroma não passa mais.
Quantas coisas deixamos de perceber porque agora vêm ensacadas em plástico? O que não dá para deixar de notar é a quantidade de plástico que se acumula mundo afora…

Alguns números que poderão impactar a quem não está habituado com o tamanho e a relevância desta indústria no mundo:
• Um milhão (1.000.000) de garrafas plásticas são compradas por minuto no mundo [1].
• Cada litro de líquido engarrafado necessita de pelo menos 2,5 l na fabricação das garrafas PET, embora a ABIPET afirme que seria apenas mais um litro, contra seis que as retornáveis de vidro consumiriam [2].
• Estima-se que 4 trilhões de sacolas plásticas sejam consumidas anualmente no mundo, mas apenas 1% é reciclado [3].
  32% das 78 milhões de toneladas de embalagens plásticas produzidas anualmente fluem para os cursos d’água e chegam aos oceanos – isso equivale a despejar um caminhão de lixo de plástico no oceano a cada minuto [4].
• A relação entre quilos de plásticos vs quilos de peixes nos oceanos está em 1:5, mas espera-se que em 2050 ela seja maior que 1:1 [5].
• A principal causa do aumento da produção de plástico é seu uso como embalagem . Elas representaram 42% de todos os plásticos não-fibrosos produzidos em 2015 e também 52% dos plásticos descartados [6].

Como um lobo em pele de cordeiro, a mesma indústria que alimenta os lixões do mundo com seus produtos diz-se capaz de apontar soluções para mitigar a situação. Infelizmente, a saída pelo marketing não mostrará as respostas que necessitamos. Eis dois maus exemplos de quando o “mercado se regula”:
Plástico Oxibiodegradável
O plástico oxibiodegradável é aquele que recebe um aditivo capaz de pré-degradá-lo no seu processo de fabricação. Esse aditivo será empregado em forma de compostos salínicos tendo algum metal na base, como o cobalto [Co], ferro [Fe], manganês [Mn] ou níquel [Ni]. Eles permitem a fragmentação por ação futura do oxigênio do ar (acelerado pela incidência de luz natural, temperatura e umidade). No Brasil, uma grande rede estadunidense de supermercados foi a pioneira em oferecer este material há alguns anos, substituindo as sacolas da tecnologia tradicional por outras de origem canadense. Mas há controvérsia neste uso, e algumas instituições questionam se há uma efetiva capacidade do material biodegradar-se.
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(Carlos Krebs é arquiteto, cinéfilo, explorador de sinapses, conector de pontinhos, e mais um que acredita que o Brasil ainda tem tudo para dar certo).

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