quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

SAÚDE: A VIDA REAL E OS PLANOS


"Calma! Nada etílico me acompanha nem brindo à recuperação da economia brasileira.
Alguns dos poucos leitores e leitoras que ainda vêm ao BRD já devem ter tomado conhecimento de que fraturei a mão esquerda. Não os cansarei, pois, com o mesmo assunto; embora partindo de um evento pessoal espero alcançar aspectos interiores e exteriores à Federação de Corporações.
Partamos do pessoal. No hiper luxuoso hospital a que referi em texto anterior como vergonha alheia, garantido por seguro-saúde que pago há 23 anos, meu ortopedista desaconselhou a cirurgia e propôs tratamento de estabilização óssea por prótese, tempo e paciência, o que pode ser comprovado na foto deste carneirinho, aguardando uma radiografia.
Pela aludida prótese (tala) foram-me cobrados R$ 390,00. A administração médica do seguro, através de carta, recusou-se ao reembolso, alegando questões contratuais. Não cobrem a dupla sertaneja Órtese e Prótese.
Hoje, contei o fato ao médico e ele confirmou: “Não pagam mesmo”. Curioso, perguntei: “E se tivéssemos partido para a cirurgia, entre internação, corpo cirúrgico, medicamentos, quanto eles gastariam”? “Entre R$ 12 e 15 mil. São burros”.
Foi quando entendi por que o Brasil será presidido por Huck, Doriana ou Bolsonaro. (Nota deste blog: 'Doriana' seria Marina Silva?).     
Mas, como prometi, não é à minha vida de carneirinho que me fez vir aqui. Pública ou privada, a saúde no Brasil não é bem falada. Em todos os seus segmentos. Não cabe a mim personalizar, mas é o que leio, ouço e, muitas vezes, constato.
Matéria do Financial Times, assinada por David Crow, e reproduzida no Globo-Valor, relata que companhias norte-americanas de grande expressão, como Amazon, Berkshire Hathaway, JPMorgan, e outras, anunciaram planos “para criar uma empresa sem fins lucrativos para reduzir os custos atrelados aos seus quase um milhão de funcionários extensivos a familiares.
Os senhores Jeff Bezos, Warren Buffett, e Jamie Dimon, presidente do Morgan, informam que muitas empresas estão dispostas a aderir. Justificam-se “devido à espiral ascendente dos custos de saúde que estão corroendo os orçamentos familiares”.
Em 2017, tais custos chegaram perto de US$ 20 milhões, 25% em média, cobertos pelos empregados e o saldo pelas empresas.
O anúncio do empreendimento independente fez caírem na Bolsa as ações das grandes empresas do setor de saúde.  
Mas, no Brasil, como as empresas podem reduzir seus custos protetivos da saúde dos funcionários, sem o governo investir forte em saúde pública, o atual, pior, desinvestindo?
Segundo o IBGE, entre 2013 e 2017, os preços dos serviços de saúde subiram 62% contra 36% do IPCA do período.
Na Federação de Corporações, patos-amarelos pensam de outra forma. Também acuados pelos custos de saúde que, entre as despesas com pessoal, só perdem para os salários, preferem ir na goela dos trabalhadores, com cortes, suspensão de convênios, aumento na coparticipação dos empregados, e inócuos programas preventivos.
Ninguém adoece porque quer. As doenças, em sua maioria, são causadas por mazelas sociais ligadas à nutrição, à falta de saneamento e de controle de pragas (serão mesmo os macacos vetores da febre amarela ou os patos dessa cor?), a desorientação nos primeiros anos de vida das crianças, e uma concentração de renda cruel, que permite que eu gaste mais de 60% de meu orçamento familiar para pagar um plano de saúde que manda eu enfiar uma tala de R$ 390,00 e 25 centímetros de cumprimento naquele lugar?"



(Por Rui Daher, post intitulado "Saúde!", publicado no Jornal GGN - aqui.
A experiência relatada por Daher suscitou comentários, alguns irônicos, outros simplesmente amargos. No que tange ao Sistema Único de Saúde, nenhum elogio ou reconhecimento ao maior programa de saúde do mundo entre os países com mais de cem milhões de habitantes. Que, claro, se mantém desfigurado, campeão em matéria de desinvestimento - só perdendo mesmo para o programa Farmácia Popular, vitimado impiedosamente pelo sr. Temer -, como de resto tudo o que guarda relação com o povo brasileiro. A despeito de tudo, longa vida e plena recuperação ao SUS.
Nota incidental: 
Trecho para lá de azedo, pinçado de um dos comentários: "Imagine a vida do doente que, depois de enfrentar uma viagem de ônibus, é obrigado a enfrentar a phila do SUS...
Mais uns dias de roubo do Treme e nem os médicos poderão arcar com os custos da própria saúde.
Para não passar perrengue é só acreditar nos jornalistas de programas da globobo. Ali nobody fica doente e o imundo é cor de rosa...").

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