terça-feira, 1 de agosto de 2017

O BRASIL E O APROFUNDAMENTO DA CRISE FISCAL


"O extraordinário nesse quadro tão bem traçado pelo Xadrez (= como Luis Nassif nomina a série de posts sobre a situação brasileira; no caso, aqui)) é como a elite política e empresarial compram este pacote econômico absurdamente frágil e inconsistente, como as escolas de economia do País, com raras exceções, não apresentaram qualquer contestação a um plano tão raso, tão capenga, tão medíocre como esse, indigno de um grande País de 200 milhões de habitantes com todos os recursos naturais e capacidade industrial, um País que se encontra na mesma posição de um homem forte amarrado com cordas impedido de se movimentar.  Esse é o Brasil amarrado por uma política monetária estéril que não serve a nada, apenas para satisfazer grupos rentistas, como se esses fossem a parcela mais importante da população do País.

Como é possível que uma economia que necessita neste momento crucial uma grande liderança política como foi um Osvaldo Aranha, um Delfim, um Simonsen, um Lucas Lopes, tenha no seu comando uma mediocridade como Meirelles apenas porque ele representa bancos e gestoras, quando o Ministro mais importante do governo precisa representar o conjunto do País presente e futuro, a composição dos interesses dos assalariados e produtores, e  não só a Avenida Faria Lima e a Rua Dias Ferreira?  O Brasil é bem mais do que os barbinhas das corretoras.

O fracasso dessa direção da economia já foi aqui previsto, desde a gestão Joaquim Levy, da mesma origem. Em nenhum momento essa política foi vitoriosa ou deu algum sinal de vigor, de que levaria o País ao fim da recessão que se aprofunda em depressão.

Seus arautos na mídia, se bem que em menor escala, ainda vendem a ilusão de que essa política vai tirar o País da crise em um tempo nunca especificado ou prometido, apenas um desejo etéreo, um "wishful thinking" remoto, apesar das evidências em contrário.
Nenhum programa de austeridade na história da economia triunfou sem os exemplos de cima, os cortes no topo do Estado precisam ser os primeiros para lastrear os cortes embaixo. Cortes de salários e mordomias, de jatinhos, de viagens internacionais pagas pelo Estado, de auxílios, de diárias, são a base para cortes no andar inferior, impor sacrifícios exige moral de quem impõe e absolutamente não é o que se vê.

Não há absolutamente nenhum gesto, como o do governo britânico vendendo o jato da Rainha e o iate real Britannia, para indicar tempos austeros, tampouco se deixa o dólar flutuar no seu preço real para não estimular turismo internacional na escala que se faz no Brasil. A política cambial brasileira está a serviço da meta de inflação e não a serviço da economia produtiva do País, do mesmo modo que a política monetária está a serviço dos rentistas e não dos assalariados.

A atual política econômica irresponsável, tosca, simplória e mal intencionada vai levar o País a uma imensa crise social que já se manifesta pelo aumento da criminalidade e pela crescente pressão das classes pobres sobre os sistemas de saúde e educação do Estado. A próxima etapa é dos saques em supermercados, não é a meta de inflação que vai segurar."






(De André Araújo, post intitulado "Política econômica irresponsável vai levar o país a uma imensa crise social", publicado no Jornal GGN.

O post acima foi divulgado antes do anúncio do mega aumento do preço dos combustíveis. Ontem, 31 de julho, o ministro anunciou que 'examina a conveniência' de elevar a previsão de déficit fiscal, que já está em R$ 139 bilhões. Mais ônus para o povo deverão vir. Curiosamente, sua excelência atribui a iniciativa ao fato de que as modificações levadas a efeito pela Câmara dos deputados no projeto de remodelagem do Refis a exigem, quando se sabe que essa - se vier a ser aprovada - será apenas uma das causas, e, pior, não a mais determinante. Como diria o outro, é grave a crise.

Em tempo: O texto acima é o comentário feito por André Araújo ao post "Xadrez do aprofundamento da crise fiscal, por Luís Nassif- AQUI).

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